
Depois de quase duas décadas de espera, o universo pós apocalíptico criado por Danny Boyle e Alex Garland em Extermínio (2002) e expandido em Extermínio 2 (2007) ganha um novo e eletrizante capítulo: 28 Anos Depois. Sob nova direção, o terceiro filme da saga não apenas resgata os elementos clássicos que consagraram a franquia, como também injeta uma nova dose de humanidade, suspense e crítica social em meio a hordas de infectados.
Uma nova geração no centro do caos
A trama se inicia em uma ilha aparentemente protegida da praga viral que devastou o Reino Unido. Ali, uma pequena comunidade sobrevive de forma quase utópica: plantações, treinamentos rígidos e um ritual de passagem inquietante — adolescentes são enviados ao continente aos 15 ou 16 anos para provar sua habilidade em combater zumbis. É nesse cenário que conhecemos Spike e seu pai Jamie, protagonistas dessa nova fase.
O jovem Spike é mais do que um herói improvável. Ele é o espelho de uma geração nascida em ruínas, forjada na ausência de uma civilização tradicional e obrigada a carregar o legado de um apocalipse que nunca viveu, mas do qual precisa sobreviver. Jamie, por sua vez, representa os fantasmas do passado: um pai endurecido pela dor, tentando proteger o filho do mesmo mundo que já o destruiu.
Zumbis além do susto: um continente em decomposição
Ao chegarem ao continente, Spike e Jamie enfrentam um território quase fantasma — resquícios de uma Inglaterra abandonada, mas não esquecida. O filme acerta em cheio ao mostrar o contraste entre o que sobrou da sociedade e o que ela se tornou: ruínas, silêncio e o medo constante do desconhecido. O terror aqui não vem apenas da velocidade e ferocidade dos infectados, mas da sensação sufocante de solidão, abandono e desumanização.
E o longa ainda surpreende ao introduzir novas variantes dos infectados e personagens isolados que conseguiram sobreviver contra todas as probabilidades, revelando nuances emocionantes e inesperadas.
Direção visceral, ritmo afiado
A direção, ainda que diferente do estilo visual de Boyle, é competente e envolvente. Cada cena é carregada de tensão e energia. A trilha sonora cumpre bem o papel de amplificar a angústia, enquanto a fotografia — por vezes crua, por vezes poética — ressalta a beleza sombria de um mundo à beira da extinção.
Não faltam cenas de ação eletrizantes, perseguições de tirar o fôlego e momentos de pura emoção. Mas o ponto mais alto está mesmo na construção emocional dos personagens e no modo como o roteiro lida com a ideia de herança: o que deixamos para os nossos filhos em um mundo que já acabou?
Mais do que um filme de zumbis
28 Anos Depois não é apenas uma continuação ou um bom filme de zumbis — é uma obra sobre sobrevivência, amadurecimento e a busca por um novo sentido em meio ao caos. O longa consegue emocionar, provocar reflexões e, ao mesmo tempo, entregar uma experiência digna das melhores sessões de cinema: intensa, catártica e imprevisível.
Sem dar spoilers, fica a dica: vá preparado para mais do que sangue e sustos. Spike entrega não só coragem, mas também alma. E isso faz toda a diferença.
















