
Antes de Daniel Craig reinventar James Bond em Cassino Royale (2006), o papel mais cobiçado do cinema britânico passou pelas mãos — ou quase — de outros nomes. Um deles foi Matthew Goode, conhecido por papéis elegantes em produções como Downton Abbey, The Crown e Stoker. Mas, ao que parece, foi justamente essa sofisticação que não o salvou de um pequeno detalhe: ele queria um 007 muito mais perturbado.
Em entrevista ao podcast Happy Sad Confused, o ator revelou que chegou a se reunir com a produtora Barbara Broccoli, responsável por conduzir a franquia Bond há décadas. Embora não tenha feito um teste formal, Goode confirmou que entrou na roda de conversas para o novo agente secreto. Só que sua proposta… era bem diferente do que se esperava.
“Ela me perguntou: ‘Qual a sua ideia para o Bond?’”, contou o ator. “E eu respondi: ‘A gente precisa voltar aos livros. Esse cara devia ser um alcoólatra. Um drogado. Ele se odeia. Odeia mulheres. Odeia um monte de gente. Ele está em dor profunda. Mas também é brilhante em matar pessoas.’”
Goode ainda brinca que, naquele momento, Barbara provavelmente já estava pensando no próximo candidato.
Um Bond com mais dor do que glamour
O curioso é que a proposta de Matthew Goode não estava exatamente fora do radar. Ian Fleming, autor dos romances originais de 007, escreveu um Bond muito mais sombrio, introspectivo e moralmente ambíguo do que as versões estilizadas do cinema. Mas talvez Goode tenha levado isso a um grau que, na época, ainda não parecia comercialmente viável — mesmo que Daniel Craig, pouco tempo depois, tenha trilhado um caminho semelhante, com um Bond mais cru, realista e emocionalmente instável.
“O que eu deveria ter dito era: ‘Mas também devíamos fazê-lo incrivelmente charmoso’”, reconheceu Goode com humor. “Acho que faltou um pouco de equilíbrio.”
E se tivesse sido Goode?
Fica a provocação: como teria sido o universo de Cassino Royale — aquele que redefiniu a franquia com mais gravidade, suor e sangue — se Goode tivesse recebido o papel? Com seu olhar afiado e presença contida, ele provavelmente teria entregue um Bond mais cerebral, mais trágico — talvez menos físico, mas mais psicologicamente quebrado.
No fim das contas, o papel ficou com Daniel Craig, que justamente trouxe à franquia um agente mais denso e emocionalmente afetado. Só que com um detalhe essencial: charme frio e magnetismo inegável, elementos que equilibraram a dor e a brutalidade do personagem.
Enquanto isso, Matthew Goode segue construindo uma carreira sólida, se destacando em projetos com mais nuance e menos tiroteios — embora, após essa revelação, muitos fãs estejam se perguntando o que perdemos naquela conversa com Barbara Broccoli.
Quem sabe, em algum universo paralelo, o 007 de Goode esteja vagando por aí, mais amargo, mais ferido — e igualmente letal.
















