
Charlie Cale nunca pediu para ser heroína de ninguém. Não carrega distintivo, não tem arma e definitivamente não quer ser encontrada. Mas, mesmo fugindo, ela nunca passa despercebida — talvez porque, ao contrário do mundo ao seu redor, Charlie tem um talento raro: ela sabe, com precisão desconcertante, quando alguém está mentindo.
Poker Face, série criada por Rian Johnson, chega ao fim de sua segunda temporada com um episódio que promete virar o jogo mais uma vez. No ar a partir de 11 de julho, exclusivamente no Universal+, o último capítulo — batizado com ironia amarga de The End of the Road — traz Charlie diante de uma presença ameaçadora, daquelas que colocam em xeque o que ainda resta de liberdade, escolha… ou paz.
Não foi uma temporada tranquila. Foram 12 episódios de cruzamentos improváveis, paradas inesperadas e crimes que brotavam onde menos se esperava. Em cada cidadezinha, posto de gasolina ou corredor de escola, Charlie se envolvia. Não por vocação, mas porque simplesmente não consegue ignorar quando alguém está mentindo — ou sofrendo. Talvez por isso ela seja tão magnética: sua bússola moral, por mais bagunçada que pareça, nunca aponta para o cinismo.
Ao longo da jornada, Charlie passou por universos improváveis: se misturou a jogadores de beisebol com ambições tortas, a professores cheios de segredos, a policiais competitivos e suas manias grotescas. A série foi muito além da fórmula do “caso da semana”. Ela mergulhou na fragilidade de gente comum e na crueldade de escolhas mal feitas. E quem assistiu, sabe: nada em Poker Face é preto no branco. Cada vilão tem uma rachadura. Cada mentira, um silêncio doído por trás.
O episódio final tem sabor agridoce. Com roteiro de Laura Deeley (The Crown) e direção da própria Natasha Lyonne, o capítulo promete colocar Charlie contra a parede de vez. Não há mais espaço para fuga. Não há mais margem para erro. Há apenas uma estrada que se estreita — e a pergunta que se arrasta desde o primeiro episódio: até quando se pode escapar de quem você é?
🎴 Mais que uma série de mistério: um retrato imperfeito da verdade
Poker Face nunca foi apenas sobre resolver crimes. Foi sobre observar. Sobre o peso das palavras ditas e das mentiras contadas com o olhar. Foi sobre desconfiar dos carismáticos, dos poderosos, dos “gente boa demais”. Foi sobre perceber o invisível — e, mesmo sem querer, fazer algo a respeito.
Charlie não é perfeita. Longe disso. Mas é, talvez, uma das protagonistas mais humanas, esquisitas e cativantes da televisão recente. Natasha Lyonne não interpreta: ela se funde à personagem com aquela exaustão charmosa de quem já viu demais, mas ainda tenta fazer a coisa certa.
🛣️ Última parada (por enquanto)
A série pode estar encerrando sua segunda temporada, mas deixa a sensação de que Charlie Cale ainda tem muitos quilômetros por percorrer — e muitos segredos por escancarar. Poker Face não fecha portas: deixa janelas abertas, com a poeira da estrada ainda no ar.
















