
Com o romance O canto do amor eterno, o escritor Proença investe numa trama que atravessa o século XX e o início do XXI brasileiro, unindo reencarnação, vingança e misticismo ao pano de fundo da história nacional. A obra acompanha Elka e Paulo, casal que se reencontra em diferentes vidas, refletindo as transformações sociais e políticas do país.
A proposta é ambiciosa: cruzar o destino pessoal dos protagonistas com marcos como a República Velha, a ditadura Vargas, o AI-5 e a polarização política atual. No entanto, a repetição do ciclo amoroso entre as encarnações de Elka e Paulo pode gerar uma sensação de repetição que limita o desenvolvimento da narrativa.
Personagens como Cazã, o cruel Cavaleiro Tártaro, e Vivi, o desertor que simboliza resistência, funcionam como arquétipos que personificam os conflitos históricos. Embora a alegoria seja eficaz para dar dimensão simbólica ao enredo, corre o risco de simplificar conflitos complexos e reduzir nuances importantes da realidade brasileira.
Outro aspecto que chama atenção é a construção do amor como missão redentora, que, embora romântica, pode soar como uma fórmula desgastada de sofrimento e sacrifício. O romance carece de um questionamento mais profundo sobre o amor e suas possibilidades, deixando de explorar outras perspectivas ou formas de superação.
O canto do amor eterno se revela, assim, uma leitura que atrai aqueles que acreditam no poder do amor e da memória para atravessar tempos difíceis. Mas também um convite à reflexão: até que ponto o amor que atravessa gerações liberta ou aprisiona seus protagonistas? Entre poesia e drama, Proença desafia o leitor a ponderar sobre esse dilema.
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