Homens Sem Lei | A&E estreia série que revisita o nascimento das milícias no Brasil com olhar jornalístico e humano

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Foto: Reprodução/ Internet

A partir do dia 14 de agosto, o canal A&E convida o público a mergulhar em uma das páginas mais sombrias — e ainda pouco confrontadas — da história brasileira. A nova produção documental em cinco episódios revisita os bastidores da Scuderie Le Cocq, grupo de extermínio criado nos anos 1960 no Rio de Janeiro e considerado por estudiosos como o embrião das milícias modernas.

Com um olhar sensível e ao mesmo tempo rigoroso, a trama de Homens Sem Lei investigativa reconstrói os anos em que a justiça era feita à margem da lei, sustentada por discursos de vingança e por um sistema que, em nome da “segurança pública”, tolerava (ou até incentivava) execuções sumárias. O pano de fundo: o assassinato do policial Milton Le Cocq, morto pelo criminoso conhecido como Cara de Cavalo, que desencadeou a formação do grupo que pretendia “limpar as ruas da cidade”.

A série aposta em um registro jornalístico contundente, entrelaçando reportagens da época com depoimentos inéditos e emocionantes de quem viveu — ou sobreviveu — àquele período. Entre os entrevistados estão o ex-delegado Sivuca, famoso pela frase “Bandido bom é bandido morto”, a escritora Nélida Piñon, o músico Jards Macalé, além de familiares de policiais lendários como Lúcio Flávio e Mariel Mariscot.

Uma história contada por quem esteve lá

Mais do que relatar os fatos, a produção se destaca pela maneira como escuta seus personagens. O jornalista Luarlindo Ernesto, por exemplo, revive o trauma de ter presenciado — e até participado — da execução de Cara de Cavalo. Em um dos relatos mais impactantes da obra, ele revela ter sido obrigado a disparar contra o corpo do criminoso, numa tentativa brutal de transformar jornalistas em cúmplices da barbárie.

Outro nome de peso que aparece nos episódios é o do autor Aguinaldo Silva, que, antes de se tornar referência na dramaturgia brasileira, atuou como repórter policial nos anos em que a violência urbana se misturava ao folclore midiático. Seu olhar crítico sobre a glorificação de justiceiros e os bastidores das delegacias cariocas ajuda a costurar o tecido social da época com rara profundidade.

Ecos do passado no presente

Ao abordar o surgimento de um grupo que, em plena ditadura militar, ganhou o apoio da população, da imprensa e até de celebridades — segundo os próprios fundadores, nomes como Pelé e Frank Sinatra chegaram a se associar à Scuderie — a série levanta uma pergunta urgente: quando foi que passamos a aceitar a violência como resposta legítima ao medo?

Mais do que um registro histórico, a programação busca compreender as raízes da estrutura paralela que, décadas depois, se consolidaria nas milícias que hoje comandam comunidades inteiras. Em vez de condenar de forma simplista, a narrativa convida à reflexão sobre os mecanismos que mantêm esse tipo de poder vivo e intocado até hoje.

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