
O cinema nacional deu mais um passo importante rumo à representatividade e à pluralidade de vozes. O longa “Nem Toda História de Amor Acaba em Morte”, dirigido por Bruno Costa (Mirador, Cidade de Deus – A Luta Não Para), foi eleito Melhor Filme pelo voto popular na 14ª edição do Festival RIO LGBTQIA+, encerrado na última quarta-feira (9), no Rio de Janeiro. A conquista reforça o impacto da produção, que tem chamado atenção por sua abordagem sensível e inovadora sobre amor, identidade e inclusão.
“É uma grande honra levar esse prêmio com uma produção que aposta tanto na representatividade e na pluralidade do amor. Estamos abrindo novas portas e oportunidades para a população surda, dentro e fora das telas, fomentando histórias e ocupando espaços”, afirmou o diretor e roteirista Bruno Costa.
O reconhecimento soma-se a outras importantes passagens do filme por festivais brasileiros. Em sua estreia, no Cine PE – Festival Audiovisual, o longa foi premiado e aclamado pela crítica. Em seguida, integrou a seleção do 14º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, consolidando-se como uma das vozes mais autênticas do cinema brasileiro contemporâneo.
Um retrato afetivo da diversidade
“Nem Toda História de Amor Acaba em Morte” é o primeiro longa-metragem nacional protagonizado por uma atriz surda, a talentosa Gabriela Grigolom, que interpreta Lola, uma jovem mãe negra que enfrenta as dificuldades de manter sua companhia de teatro enquanto cria a filha, Maya (Sophia Grigolom), em um ambiente social que ainda impõe barreiras à inclusão.
A história se entrelaça à de Sol (Chiris Gomes), professora de meia-idade em processo de separação. Apesar de ainda dividir a casa com o ex-marido, Miguel (Octávio Camargo), Sol vive um momento de ruptura pessoal. Quando conhece Lola, mãe de uma de suas alunas, surge uma conexão imediata. Sol, que teve um irmão surdo, é uma das poucas pessoas da escola que se comunica com fluidez em Libras, o que permite uma aproximação genuína entre elas.
Ao longo da trama, o que começa como empatia se transforma em um relacionamento afetivo que ultrapassa barreiras linguísticas, culturais e emocionais. É também por meio da convivência entre Sol, Lola e Miguel — todos sob o mesmo teto — que o filme revela com sutileza os desafios do orgulho, da escuta e do afeto cotidiano.
Cinema como espaço de escuta e visibilidade
Apesar de tocar em temas como homofobia, capacitismo e silenciamento social, o filme aposta em um tom de comédia dramática leve e humanizada, fugindo de estereótipos e tragédias. A força da obra está justamente na cotidianeidade com que apresenta personagens complexos, contraditórios e profundamente humanos.
Com uma abordagem cuidadosa, o longa valoriza a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio de expressão afetiva e narrativa, e reafirma a importância de dar protagonismo às pessoas surdas dentro e fora das telas — não apenas como personagens, mas como intérpretes de suas próprias histórias.
















