Educação financeira na Amazônia: Malu Lira leva conhecimento e autonomia às margens dos rios

Aos 15 anos, jovem escritora amazonense percorre comunidades do Norte com o projeto “Turnê em Rica Amazônia”, promovendo um novo olhar sobre o dinheiro como ferramenta de liberdade, planejamento e sonhos realizados.

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Foto: Reprodução/ Internet

No coração da Amazônia, onde o som dos rios guia o cotidiano e as árvores centenárias sussurram histórias ancestrais, um novo capítulo está sendo escrito — literalmente — por uma adolescente que decidiu mudar o futuro por meio da educação. Seu nome é Malu Lira. Aos 15 anos, ela já carrega um currículo que surpreende pela precocidade e profundidade: autora de 20 livros, palestrante em eventos nacionais e criadora do projeto Malu Finanças na Escola, presente em mais de 100 instituições de ensino em todo o Brasil. Agora, Malu retorna ao seu estado natal para uma missão que transcende os números: transformar a relação das crianças e jovens com o dinheiro em uma ferramenta de autonomia e realização.

De 21 a 25 de julho de 2025, Malu lidera a Turnê em Rica Amazônia, uma expedição educativa que passa por Manaus, Iranduba, Tabatinga, Benjamin Constant e Santo Antônio do Içá — cidades escolhidas não apenas por sua importância geográfica e cultural, mas também por abrigarem comunidades que, historicamente, foram deixadas à margem dos grandes debates nacionais sobre educação e inclusão econômica.

“Não estou levando fórmulas prontas. Estou levando conversas, escuta, afeto e ferramentas para que essas crianças descubram que seus sonhos são possíveis e merecem um caminho real para acontecer”, explica Malu com a tranquilidade de quem encontrou cedo o propósito da própria jornada.

Educação financeira como instrumento de cidadania

A iniciativa da jovem escritora parte de uma premissa clara: falar sobre dinheiro é falar sobre poder de escolha, sobre independência, sobre a possibilidade de transformar realidades — inclusive as mais vulneráveis. No Brasil, onde a educação financeira formal ainda engatinha, principalmente nas escolas públicas, Malu encontrou um vazio pedagógico que a motivou a agir.

Seu projeto Malu Finanças na Escola nasceu da observação de que crianças e adolescentes crescem sem entender como lidar com o dinheiro, como planejar, como poupar ou como transformar pequenas escolhas cotidianas em estratégias para alcançar objetivos de longo prazo. Ela percebeu que o problema não era só econômico, mas emocional e estrutural. A ausência de educação financeira reproduz desigualdades, limita horizontes e impede que jovens enxerguem a si mesmos como protagonistas de suas histórias.

“Falar de educação financeira não é só ensinar a guardar dinheiro. É ensinar a ter consciência de onde você está, onde quer chegar e como pode traçar esse caminho com inteligência e coragem”, afirma.

Da sala de aula à beira do rio: um itinerário de escuta e troca

A Turnê em Rica Amazônia foi desenhada como uma travessia. Em cada cidade visitada, Malu realiza oficinas, rodas de conversa, palestras interativas e vivências com alunos, professores e líderes comunitários. A proposta é adaptar o conteúdo ao contexto local, valorizando os saberes ancestrais e as formas tradicionais de economia que já fazem parte da cultura amazônica — como o escambo, a agricultura familiar e a partilha comunitária.

Em Benjamin Constant, por exemplo, a escritora se encontra com estudantes da etnia Ticuna, a maior população indígena do Brasil. A oficina, desenvolvida em parceria com educadores indígenas, propõe uma reflexão sobre como os conhecimentos tradicionais podem dialogar com noções contemporâneas de planejamento financeiro, sem que uma lógica substitua a outra. Ao contrário: a proposta é que se complementem.

“Eu não estou aqui para ensinar, estou aqui para trocar. A Amazônia é uma professora. Eu venho com ferramentas, mas volto com sabedoria”, diz Malu, que leva cadernos, livros ilustrados e jogos educativos, todos desenvolvidos por ela com linguagem acessível e sensível às diferentes realidades regionais.

A potência da juventude na transformação social

A cada encontro, Malu semeia mais do que conceitos: planta esperança e reforça a crença no poder da juventude. Ao compartilhar sua própria história — de autodidata curiosa à escritora reconhecida —, ela inspira outras meninas e meninos a acreditarem que podem construir um futuro diferente, mesmo que enfrentem dificuldades no presente.

“Você não precisa nascer em um lugar fácil, precisa acreditar que pode fazer algo com o que tem. E buscar ferramentas. O conhecimento é uma ponte. Ele me trouxe até aqui, e pode levar qualquer um mais longe do que imagina”, afirma, olhando nos olhos de uma plateia que, muitas vezes, nunca havia ouvido alguém falar de dinheiro com empatia, leveza e propósito.

Além dos encontros com estudantes, a turnê promove formações com professores e gestores escolares, deixando um legado que vai além da sua passagem. Cada escola visitada recebe um kit pedagógico com materiais de apoio e acesso a uma plataforma digital, onde o conteúdo pode ser expandido e atualizado ao longo do tempo.


Sonhos como projeto de vida

Mais do que falar de finanças, Malu fala de sonhos. Em uma de suas oficinas, ela propõe uma atividade simples e reveladora: cada criança escreve em um papel o que gostaria de ser ou realizar no futuro. Depois, juntas, discutem quais passos, escolhas e recursos seriam necessários para chegar lá. A ideia é mostrar que sonhos não são abstrações distantes, mas projetos possíveis — desde que se compreenda como estruturá-los.

“Eu quero ser médica e cuidar do meu povo”, escreve uma adolescente Ticuna de 14 anos. “Quero abrir um restaurante de peixe na beira do rio”, diz um garoto de 12, de Iranduba. Malu escuta, sorri e começa a construir com eles o caminho do sonho. “Tudo isso é possível. Só não te ensinaram como começar. É isso que estou aqui pra fazer”, afirma.

O dinheiro como ferramenta de liberdade, não de opressão

Ao contrário do que muitos ainda pensam, educação financeira não é elitista — é libertadora. A proposta de Malu é justamente desconstruir essa ideia de que falar de dinheiro é algo distante da vida de quem vive com pouco. “Quem tem menos é quem mais precisa entender como usar bem o que tem. É sobre isso. Não é sobre enriquecer. É sobre sobreviver com dignidade e, a partir disso, crescer”, explica.

A abordagem da escritora é centrada em valores como autonomia, responsabilidade e solidariedade. Ela fala sobre consumo consciente, sobre não cair em armadilhas financeiras, sobre respeitar o próprio tempo e sonhar com os pés no chão. E, acima de tudo, fala com quem nunca foi ouvido.

Um projeto com raízes e asas

A Turnê em Rica Amazônia é fruto de um compromisso pessoal de Malu com sua terra, mas também um chamado coletivo para que a educação seja, de fato, inclusiva e transformadora. O projeto é realizado pelo Grupo Malu Finanças, com apoio de educadores locais e parcerias comunitárias. A intenção é que, nos próximos anos, ele percorra outras regiões do Brasil, sempre respeitando as especificidades culturais e sociais de cada território.

“O Brasil é grande demais para uma única resposta. Cada lugar tem seu ritmo, sua linguagem, suas dores e potências. Meu papel é escutar, adaptar e oferecer ferramentas que façam sentido. Quero que a floresta, as favelas, os sertões saibam que podem, sim, falar de dinheiro — e, mais que isso, usá-lo a seu favor”, conclui Malu.

O futuro que se constrói agora

Ao final de cada oficina, uma frase é repetida por todas as crianças em voz alta: “Eu posso sonhar, eu posso planejar, eu posso conquistar”. É mais do que um bordão. É um pacto simbólico com a ideia de que o futuro não precisa ser uma espera passiva, mas uma construção ativa, consciente e coletiva.

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