Dica no Reserva Imovision: “Você é o Universo” é um romance cósmico sobre solidão, amor e sobrevivência

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No meio de tantas estreias barulhentas, continuações de franquias e produções de bilheteria, existe um outro cinema que sussurra. Um cinema que fala com o coração apertado, com olhos úmidos e com a coragem de encarar o silêncio. “Você é o Universo” (U Are The Universe), dirigido por Pavlo Ostrikov, é exatamente isso: uma ficção científica que, sob a superfície de uma missão espacial, esconde uma profunda e tocante reflexão sobre o que significa ser humano — especialmente quando já não existe mais ninguém.

O longa de 2024 é uma co-produção entre Ucrânia e Bélgica, com 101 minutos de duração que parecem condensar não só os últimos suspiros da humanidade, mas também a última história de amor do universo.

Uma ficção científica de alma ucraniana

O filme nos transporta para um futuro não tão distante, mas claramente distópico. O protagonista, Andriy Melnyk, é um astronauta ucraniano encarregado de uma tarefa bastante simbólica: transportar lixo nuclear até Calisto, uma das luas de Júpiter. A solidão do personagem já é latente desde os primeiros minutos — ele não é um herói intergaláctico, nem um aventureiro destemido. Andriy é um homem comum, perdido em sua própria rotina mecânica, aprisionado dentro de um cargueiro que atravessa o espaço frio e indiferente.

E é justamente quando a Terra explode que a ficção científica de “Você é o Universo” atinge sua primeira curva emocional. O que poderia ser apenas mais uma jornada tecnológica se transforma num luto cósmico. Andriy não perdeu apenas seu planeta, mas também qualquer referência de lar, família, propósito.

É nesse contexto que ele capta uma transmissão vinda de uma estação espacial distante. Do outro lado da comunicação está Catherine, uma mulher francesa igualmente isolada — não apenas no espaço, mas também em seus próprios traumas e fragilidades. A conexão entre os dois, no início, é tênue, quase casual. Mas rapidamente cresce em intensidade e beleza. Porque quando o universo inteiro silencia, qualquer voz que escapa do vazio se torna indispensável.

Amor em tempos de extinção

Dizer que “Você é o Universo” é uma história de amor seria, ao mesmo tempo, uma simplificação e uma precisão. O que vemos se desenvolver entre Andriy e Catherine é mais do que um romance. É uma necessidade vital, uma âncora diante do colapso. Não há corpos que se tocam, não há encontros físicos. O amor aqui nasce da escuta, da troca de palavras, da esperança frágil de que, talvez, ainda valha a pena acreditar em algo — mesmo que esse algo seja tão etéreo quanto um sinal de rádio vindo do outro lado da galáxia.

O diretor Pavlo Ostrikov conduz essa aproximação com uma sensibilidade notável. Não há pressa, não há exageros. Tudo se constrói no tempo do silêncio, das hesitações, dos monólogos sussurrados para si mesmo. A relação dos dois se torna a própria resistência diante do absurdo — como se amar, mesmo sem garantias, fosse o último ato possível de humanidade.

Um espelho da nossa época

Embora situado no espaço e com uma premissa futurista, “Você é o Universo” reflete com potência o nosso presente. A solidão de Andriy é a solidão de tantos em meio à hiperconectividade. A perda da Terra ecoa o medo coletivo da crise climática, das guerras, da instabilidade global. E o desejo de encontrar alguém, mesmo quando tudo parece perdido, é o fio que nos une enquanto espécie.

É impossível assistir ao filme sem pensar na guerra que assola a Ucrânia desde 2022. A destruição literal do planeta no filme se torna uma metáfora para o colapso que tantas pessoas vivem em seu dia a dia. A dor da separação, da perda, da reconstrução incerta — tudo isso está ali, embutido nas camadas mais sutis da narrativa.

O longa, por isso, também é político. Não no sentido panfletário, mas no seu gesto de afirmar que vidas ucranianas (e, por extensão, de qualquer canto do mundo) têm valor, têm histórias, têm direito a amor — mesmo nos momentos mais extremos.

Um cinema que emociona pelo detalhe

Esteticamente, o filme opta por uma fotografia limpa, fria, com tonalidades metálicas que reforçam a sensação de isolamento. Os interiores do cargueiro onde Andriy vive são minimalistas, claustrofóbicos. A câmera, muitas vezes estática, captura a repetição dos gestos, o esvaziamento dos dias, o peso da espera.

Mas é nos pequenos detalhes que o filme floresce. Uma música antiga que toca no fundo. Um diário de bordo que se transforma em confissão. Um olhar perdido na tela de um monitor. Tudo isso compõe uma atmosfera delicada e profundamente tocante. Ostrikov entende que a ficção científica não precisa de explosões para emocionar — às vezes, basta uma única voz dizendo “estou aqui”.

A atuação de [ator de Andriy, não informado na sinopse] é contida, quase silenciosa, mas cheia de nuances. A voz, muitas vezes mais importante que a expressão facial, carrega o peso de um homem que viu o fim do mundo, mas ainda se permite esperar o recomeço.

Catherine: a luz no fim do espaço

A personagem de Catherine, interpretada por [atriz não informada na sinopse], é tão crucial quanto Andriy para o equilíbrio do filme. Ela representa o outro lado da existência — não menos solitário, mas talvez mais consciente do absurdo de tudo. Sua maneira de lidar com a situação é diferente, mais irônica, mais filosófica.

A química entre os dois se dá pela diferença de perspectivas. Catherine questiona, provoca, ri quando Andriy quer chorar. Ela o força a sair do piloto automático, a sentir. E, no fim das contas, talvez seja ela quem mais precisa ser ouvida, mesmo que não admita.

Festival de Toronto e reconhecimento internacional

“Você é o Universo” fez parte da seleção oficial do Festival Internacional de Cinema de Toronto, um dos mais prestigiados do mundo, e também do Festival de Cinema Europeu Imovision. Essa trajetória não é por acaso. O filme, apesar de sua origem modesta, tem uma força universal que dialoga com espectadores de diferentes culturas e gerações.

Ele pertence a uma linhagem de filmes de ficção científica intimistas, como “Moon” (2009), “Aniquilação” (2018), “O Primeiro Homem” (2018) e “Ela” (2013). Obras que usam o espaço não como espetáculo visual, mas como metáfora existencial. Em “Você é o Universo”, a pergunta não é “para onde vamos?”, mas “o que somos quando tudo acaba?”.

Para quem é esse filme?

Se você está em busca de um filme acelerado, cheio de reviravoltas e efeitos visuais explosivos, talvez “Você é o Universo” não seja sua primeira opção. Mas se você se interessa por histórias que tocam fundo, que exploram sentimentos humanos em situações-limite, esse filme é uma joia rara.

É um convite ao silêncio, à escuta, à contemplação. É um lembrete de que, mesmo no vazio do espaço, o amor pode ser o último planeta habitável.

Onde assistir?

“Você é o Universo” está disponível na plataforma Reserva Imovision, especializada em cinema autoral, europeu e independente. Se você ainda não conhece, vale explorar o catálogo — é um verdadeiro tesouro para quem busca experiências cinematográficas fora do eixo hollywoodiano.

O longa tem classificação indicativa de 14 anos, por conter linguagem imprópria, temas sensíveis e cenas de violência. Nada gráfico ou gratuito, mas ainda assim importante para o contexto emocional da trama.

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