“Uma Batalha Após a Outra” | Paul Thomas Anderson e Leonardo DiCaprio entregam ação, sátira e estilo em novo épico pop

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Foto: Reprodução/ Internet

Em tempos de grandes franquias, universos compartilhados e fórmulas repetidas, há algo quase reconfortante — e também provocador — em ver um cineasta como Paul Thomas Anderson lançar um filme que soa como uma viagem à contramão. “Uma Batalha Após a Outra” (One Battle After Another), que estreia nos cinemas no próximo dia 25 de setembro, parece brincar com o caos de uma América em transformação, colocando no centro da ação um improvável herói: um ex-hippie de meia-idade chamado Zoyd Wheeler, interpretado com vigor por Leonardo DiCaprio. As informações são do Omelete e AdoroCinema.

O longa, classificado como uma “comédia de ação”, é mais do que uma etiqueta de gênero. Ele transita entre sátira política, drama familiar e aventuras que beiram o absurdo — tudo isso embalado por uma estética visual ousada, filmada no clássico formato VistaVision, o mesmo usado recentemente em O Brutalista. É uma escolha que não apenas homenageia os filmes do passado, mas também reforça a grandiosidade de um projeto que, apesar do nome, é tão íntimo quanto épico.

Uma missão tão absurda quanto urgente

A história se passa em uma versão ficcional da Califórnia dos anos 1980, numa cidade costeira chamada Vineland. Zoyd Wheeler vive uma rotina peculiar: para manter um benefício do governo, ele precisa realizar um ato público de insanidade uma vez por ano. É exatamente esse começo inusitado que dá o tom de Uma Batalha Após a Outra. Um homem que se atira por uma vitrine apenas para agradar a burocracia já nos diz que estamos diante de algo fora do comum.

Mas o verdadeiro conflito começa quando Zoyd é procurado por um promotor misterioso que lhe propõe um acordo: ajudar a investigar um grupo de criminosos com conexões profundas no submundo local. Em troca, ele pode conseguir informações sobre o paradeiro de sua ex-companheira — e mãe de sua filha — desaparecida há mais de uma década. O dilema pessoal se transforma em uma jornada repleta de encontros improváveis, conspirações quase surreais e uma avalanche de críticas ao sistema político, jurídico e até cultural dos EUA.

Foto: Reprodução/ Internet

Leonardo DiCaprio em nova fase

Quem conhece a trajetória de Leonardo DiCaprio sabe o quanto ele escolhe seus projetos com cuidado. Depois de personagens densos como o de Não Olhe Para Cima e o agente infiltrado de Os Infiltrados, aqui ele se entrega a um tipo de papel que raramente assume: o do anti-herói caricato, vulnerável, quase cômico. Zoyd Wheeler é uma figura que poderia facilmente cair no estereótipo, mas nas mãos de DiCaprio ganha camadas emocionais inesperadas. É um homem que já esteve no centro de um movimento cultural (o hippismo) e agora sobrevive às margens, criando a filha sozinho, assistindo o mundo mudar à sua revelia.

DiCaprio, como de costume, se entrega com intensidade. Em uma das cenas do trailer recém-divulgado, seu personagem tenta escapar de uma emboscada em uma lavanderia, usando sabão em pó como distração. Em outra, tenta ensinar a filha a andar de skate enquanto discute política com um policial corrupto. São momentos que mesclam ação, comédia e uma pontada de melancolia, ingredientes típicos do cinema de Paul Thomas Anderson.

O toque autoral de Paul Thomas Anderson

Conhecido por filmes como Sangue Negro, O Mestre e Licorice Pizza, Paul Thomas Anderson já provou ser um dos cineastas mais inventivos da atualidade. Seus filmes têm um ritmo próprio, uma estética marcada e um olhar sempre curioso sobre as contradições humanas. Em Uma Batalha Após a Outra, ele revisita os anos 80 com uma lente crítica, mas também nostálgica. A trilha sonora carrega ecos de synthpop, o figurino mistura o desleixo dos hippies tardios com o brilho cafona da era Reagan, e a direção de fotografia — assinada por Robert Elswit — cria cenas que parecem tiradas de álbuns de família distorcidos por delírios ideológicos.

A escolha de adaptar o livro Vineland, de Thomas Pynchon, é também uma provocação. Pynchon é um autor notoriamente complexo, cujas obras raramente foram adaptadas para o cinema. Anderson já havia mergulhado nesse universo com Vício Inerente (2014), e volta agora com mais liberdade, mais humor e um senso de timing refinado. Ao contrário do clima mais sombrio e arrastado de seu filme anterior, aqui há ritmo, ação, piadas absurdas e até cenas que beiram o slapstick — tudo amarrado por diálogos afiados e uma estrutura narrativa engenhosa.

Destaques do elenco e da técnica

Além de DiCaprio, o filme conta com Teyana Taylor, que vive uma jornalista local envolvida em investigações paralelas, e Sean Penn, como o enigmático promotor que manipula Zoyd com promessas vazias e um carisma venenoso. O elenco ainda traz participações pontuais de nomes como Jesse Plemons, Maya Hawke e Benicio Del Toro — em papéis que, por enquanto, estão sendo mantidos em segredo.

Outro grande destaque é o uso do VistaVision, processo de filmagem com negativos em 35mm horizontalmente expostos, permitindo resolução altíssima e uma profundidade de campo impressionante. Essa escolha confere ao filme uma textura visual que remete aos clássicos de Hitchcock e aos épicos de David Lean, mas com uma pegada moderna e ousada. É cinema com C maiúsculo, mesmo quando está rindo de si mesmo.

Política, paternidade e paranoia

No fundo, Uma Batalha Após a Outra é um filme sobre como viver em meio à paranoia — e tentar manter alguma sanidade diante do absurdo. Zoyd Wheeler representa uma geração desiludida, que viu o idealismo dos anos 60 ruir diante da repressão, da ganância e da burocracia. Mas ele também é pai, e sua relação com Prairie — interpretada por uma jovem estreante ainda não anunciada — é o coração emocional do filme. Entre uma perseguição e outra, há espaço para conversas sobre abandono, perdão e sobre como se reinventar quando tudo parece perdido.

Anderson não tem pressa em resolver as tramas. Como em seus melhores trabalhos, ele prefere deixar os personagens respirarem, falharem, se contradizerem. O filme não oferece respostas fáceis, mas entrega momentos de beleza inesperada — como um jantar improvisado sob as estrelas, uma dança ao som de Prince ou uma fuga por entre árvores vermelhas de outono.

Um filme feito para ser visto no cinema

Em um momento em que muitos lançamentos importantes vão direto para o streaming, Uma Batalha Após a Outra faz questão de chegar primeiro às salas de cinema. Não apenas porque seu escopo visual merece a tela grande, mas também porque a experiência coletiva — rir, se surpreender e até se perder um pouco junto com a plateia — faz parte da proposta. É um filme que conversa com a história do cinema, com a cultura pop e com a bagunça política de qualquer época.

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