Foto: Reprodução/ Internet

Paul Thomas Anderson está de volta — e não de forma discreta. Com estreia marcada para 25 de setembro nos cinemas brasileiros, Uma Batalha Após a Outra é o novo e ambicioso projeto do cineasta indicado ao Oscar, conhecido por títulos como Sangue Negro e Vício Inerente. Estrelado por Leonardo DiCaprio e com orçamento estimado em até US$ 150 milhões, o longa representa um dos maiores investimentos da Warner Bros. Pictures em 2025 e já desponta como forte concorrente à próxima temporada de premiações.

Inspirado de forma livre no romance Vineland (1990), de Thomas Pynchon, o longa é descrito por seus realizadores como um drama político-existencial ambientado em um futuro próximo, onde memórias de movimentos revolucionários do passado colidem com dilemas contemporâneos. Com narrativa dividida entre ação e introspecção, o filme propõe uma análise de legado, culpa e redenção, utilizando o formato de um road movie para explorar conflitos íntimos e históricos.

Leonardo DiCaprio interpreta um ex-revolucionário em crise

No centro da trama está Bob Ferguson, vivido por Leonardo DiCaprio, em uma das performances mais elogiadas de sua carreira recente nas primeiras exibições-teste. Ferguson é um ex-militante de esquerda que abandonou os ideais do passado após uma série de derrotas pessoais e políticas. Anos após se afastar da militância, ele é forçado a voltar à ativa quando sua filha, Willa, é sequestrada por um antigo adversário, o Coronel Lockjaw, interpretado por Sean Penn.

A partir desse ponto, o filme se estrutura em dois planos: o físico, com a jornada de resgate percorrendo diferentes cidades e paisagens dos Estados Unidos; e o psicológico, com Ferguson enfrentando os fantasmas de suas decisões passadas, relações rompidas e alianças falidas. Segundo fontes ligadas à produção, a abordagem de DiCaprio é marcada por economia de gestos e intensidade emocional, com destaque para os momentos de silêncio e introspecção.

Elenco reúne veteranos e revelações

O longa também conta com nomes consagrados como Benicio Del Toro, que interpreta Sensei Sergio, um antigo estrategista do grupo revolucionário, agora alcoólatra e recluso. Regina Hall vive Deandra, responsável por coordenar ações do passado e hoje dividida entre lealdade e desencanto. Teyana Taylor assume o papel de Perfídia Beverly Hills, ex-companheira de Bob e mãe de Willa, que agora se alia ao inimigo em uma reviravolta dramática.

A atriz e cantora novata Chase Infiniti, de 17 anos, faz sua estreia no cinema como Willa. Sua atuação tem sido destacada como “sensível e surpreendente” por críticos que assistiram à exibição-teste. O elenco ainda inclui Alana Haim, Wood Harris, Shayna McHayle e D.W. Moffett, compondo um mosaico de personagens que representam diferentes perspectivas sobre ideologia, fracasso e sobrevivência.

Direção aposta em estética analógica e narrativa densa

Com fotografia assinada por Michael Bauman, o filme foi rodado inteiramente em película 35mm e câmeras VistaVision, o que confere à produção uma textura analógica pouco comum no cinema atual. O diretor optou por evitar efeitos digitais sempre que possível, preferindo cenários reais e efeitos práticos — uma escolha que encareceu o projeto, mas que também contribuiu para a estética particular do longa.

As filmagens ocorreram em diversas localidades da Califórnia, incluindo Sacramento, Arcata e Eureka, além de regiões desérticas do Texas. Em uma das etapas, a produção foi alvo de críticas por desocupar temporariamente um acampamento de pessoas em situação de rua para filmar. Em nota, a Warner Bros. reconheceu o episódio e declarou que Anderson lamentou publicamente o incidente, comprometendo-se a apoiar iniciativas locais após o término das gravações.

Trailer revela contraste entre ação e contemplação

O trailer oficial de Uma Batalha Após a Outra, divulgado na última semana, reforça a dualidade do filme. Há cenas de combate físico e perseguições intercaladas com momentos contemplativos em espaços vazios e ruínas. A montagem evidencia uma narrativa menos linear e mais sensorial, em linha com o estilo que consagrou Anderson em obras anteriores.

Os pôsteres individuais revelados também sugerem um mundo em declínio. Tons terrosos, texturas envelhecidas e olhares cansados indicam que a luta dos personagens vai além da violência física. “Este é um filme sobre feridas que o tempo não cura”, declarou Anderson em coletiva recente realizada em Los Angeles

Trilha sonora e legado profissional

A trilha sonora do filme foi composta por Jonny Greenwood, da banda Radiohead, colaborador recorrente do diretor. Greenwood mistura arranjos dissonantes com composições atmosféricas que reforçam a tensão psicológica dos personagens. O trabalho tem sido elogiado por críticos que o comparam à trilha de O Mestre (2012), considerada uma das mais marcantes da parceria entre o compositor e o cineasta.

O filme também é marcado por uma homenagem póstuma ao assistente de direção Adam Somner, falecido em novembro de 2024. Somner trabalhou em todos os filmes de Anderson desde Sangue Negro (2007) e teve participação ativa na organização da produção de Uma Batalha Após a Outra. Seu nome aparece nos créditos finais acompanhado por uma dedicatória silenciosa.

Expectativas para a temporada de prêmios

Originalmente programado para estrear em agosto, o filme teve seu lançamento adiado para setembro, com o objetivo de ganhar fôlego na corrida ao Oscar. Segundo a Variety, a Warner Bros. considera o longa um dos principais candidatos ao prêmio de Melhor Filme, além de possíveis indicações para Direção, Ator, Roteiro Original, Trilha Sonora e Fotografia.

A projeção de bilheteria, no entanto, é cautelosa. Estima-se que, para ser lucrativo, o longa precisará arrecadar pelo menos entre US$ 260 e 300 milhões mundialmente — uma meta desafiadora para um drama de natureza reflexiva. Ainda assim, o estúdio aposta no prestígio do diretor, no alcance global de DiCaprio e no apelo das discussões políticas e sociais suscitadas pelo enredo.

Um filme de grandes ambições e riscos calculados

Uma Batalha Após a Outra marca um ponto de inflexão na carreira de Paul Thomas Anderson. Trata-se de seu filme mais caro, mais político e possivelmente o mais pessoal. O diretor aposta em um cinema autoral e contemplativo em um momento de saturação de blockbusters e narrativas repetitivas. A proposta exige atenção e empatia do espectador, ao mesmo tempo em que oferece uma análise crítica sobre os caminhos percorridos — e abandonados — por movimentos sociais ao longo das últimas décadas.

A Warner Bros., por sua vez, sinaliza que está disposta a investir em obras que transcendem a fórmula e desafiam o espectador. Resta saber se o público está pronto para esse tipo de experiência em um mercado cada vez mais voltado ao consumo rápido e ao entretenimento imediato.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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