No “Domingo Espetacular” de hoje (27/07), Roberto Cabrini expõe rede internacional de exploração sexual de brasileiras em Portugal

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Foto: Reprodução/ Internet

Um cenário de luxo, promessas de glamour e sucesso em uma das capitais mais cobiçadas da Europa. Por trás da fachada de spas refinados, festas exclusivas e aparência de prosperidade, escondia-se uma engrenagem perversa, alimentada pelo sofrimento silencioso de dezenas de mulheres. No Domingo Espetacular deste domingo, 27 de julho de 2025, o jornalista Roberto Cabrini volta à linha de frente do jornalismo investigativo ao revelar os bastidores de um esquema internacional de exploração sexual que tem como figura central uma brasileira conhecida no circuito europeu da música eletrônica: Rebeka Episcopo, a DJ Beka. As informações são da Record.

A reportagem, que levou semanas de apuração em Lisboa, Cascais e outros pontos de Portugal, traz revelações inéditas sobre a atuação de uma organização que teria aliciado mulheres jovens sob a promessa de empregos legítimos na Europa, mas que acabavam vítimas de exploração sexual em uma rede de prostituição de alto padrão.

Do Mato Grosso do Sul para os holofotes da noite europeia

Nascida em Dourados, no Mato Grosso do Sul, Rebeka Episcopo construiu uma carreira meteórica fora do Brasil. Assumindo o nome artístico de DJ Beka, ela passou a comandar festas badaladas em Lisboa e outras cidades europeias, atraindo um público elitizado e construindo um império de negócios ao seu redor. Com o tempo, abriu dois spas de luxo – um em Lisboa, outro em Cascais –, vendendo a imagem de uma empresária moderna, independente e antenada com o mercado do bem-estar.

Mas por trás dessa imagem pública de sucesso e empoderamento feminino, as autoridades portuguesas afirmam ter descoberto uma rede de crimes silenciosos. Em abril deste ano, Rebeka foi detida pela Polícia Judiciária, acusada de chefiar uma organização criminosa voltada à exploração sexual de mulheres, com foco principal em brasileiras em situação de vulnerabilidade.

A reportagem de Cabrini vai além das manchetes e escuta todos os lados: a empresária, seus acusadores, vítimas e especialistas em tráfico humano. Com a precisão e o comprometimento que marcaram sua carreira, o jornalista revela as múltiplas camadas desse caso complexo e perturbador.

O convite para o sonho europeu

O modo de atuação da rede, segundo as investigações, começa com anúncios sedutores nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Promessas de emprego em Portugal como recepcionista, massoterapeuta ou hostess de eventos privados vinham acompanhadas de fotos luxuosas dos spas, além de vídeos de festas eletrônicas com presença de influenciadores e celebridades locais.

“Quando vi o anúncio, parecia tudo muito sério. Eles diziam que ofereciam passagem aérea, moradia e treinamento. Me senti segura”, conta uma jovem brasileira de 22 anos, entrevistada por Cabrini sob sigilo. O que parecia uma oportunidade de recomeço, porém, virou pesadelo.

Segundo ela, ao desembarcar em Lisboa, foi levada diretamente a um alojamento onde teve o celular confiscado e passou a ser pressionada a “faturar” rapidamente para quitar as supostas dívidas do translado. “Eles diziam que eu tinha uma dívida de três mil euros, e que só poderia sair dali quando pagasse. Mas eu nunca assinei nada.”

Essa lógica da dívida – comum em casos de tráfico de pessoas – é uma das estratégias usadas para aprisionar psicologicamente as vítimas. Elas passam a se sentir culpadas e encurraladas, muitas vezes sem documentos e sem dinheiro para retornar ao Brasil.

A fachada dos spas e festas privadas

Os estabelecimentos comandados por Rebeka – com estética minimalista, ambientes aromatizados e serviços de massagem – operavam legalmente, com CNPJ português e alvarás emitidos. No entanto, a polícia sustenta que parte dos atendimentos escondia práticas ilegais, como prostituição disfarçada de serviços de bem-estar. As investigações também apontam que festas exclusivas promovidas por DJ Beka e seus sócios funcionavam como “vitrines” para o aliciamento de clientes.

“A elite frequentava esses espaços. Empresários, jogadores de futebol, turistas ricos. Era tudo muito discreto, sem registro em redes sociais. O que acontecia ali era protegido por silêncio e conivência”, diz um ex-funcionário que também colaborou com a apuração de Cabrini.

Os encontros eram marcados por meio de aplicativos de mensagem e exigiam recomendações prévias. “Era uma rede de prostituição de luxo, e ela comandava como uma CEO. Nada acontecia sem o aval dela”, afirma um policial envolvido nas investigações, que falou sob anonimato.

A resposta de Rebeka: “Sou vítima de um complô”

Em liberdade provisória desde maio, Rebeka aceitou conversar com Cabrini em um apartamento alugado em Lisboa. Ciente da repercussão que o caso ganhou tanto no Brasil quanto na Europa, a empresária se diz alvo de perseguição e afirma que seus negócios sempre foram legítimos.

“Me transformaram em um monstro. Eu investi tudo nos meus empreendimentos, dei oportunidades para muitas mulheres, fui uma referência de sucesso. De repente, virei criminosa?”, questiona. Ela nega veementemente que tenha promovido exploração sexual. “O que minhas funcionárias faziam fora do expediente, ou com quem saíam, não é da minha conta. Nunca obriguei ninguém a nada.”

A empresária também critica a forma como foi presa. “Parecia filme de ação. Entraram armados, como se eu fosse terrorista. Humilharam meus clientes e revistaram tudo. No fim, não encontraram nada ilegal dentro do spa. Mas a imprensa já tinha me condenado.”

Cabrini a confronta com depoimentos e documentos obtidos durante a apuração, incluindo conversas entre ela e supostas vítimas. Ela não nega os prints, mas afirma que foram “tirados de contexto”. Para a defesa de Beka, as acusações são frágeis e sustentadas por “relatos inconsistentes de pessoas ressentidas”.

O sofrimento das vítimas

Cabrini também dá voz a mulheres que viveram sob o controle da rede. Uma delas, que conseguiu fugir com ajuda de um cliente, relata episódios de ameaça velada e manipulação emocional. “Eles diziam que, se eu falasse alguma coisa, iriam contar para minha família o que eu fazia. Eu tinha vergonha. Me senti suja, sozinha.”

Outra jovem afirma que só descobriu que estava sendo explorada quando tentou sair do spa. “Me disseram que, se eu saísse, minha dívida dobrava. E começaram a vazar minhas fotos íntimas para me chantagear.”

Muitas dessas mulheres vinham de histórias de pobreza, abuso ou falta de perspectivas no Brasil. “A Europa virou uma promessa de salvação. Mas para nós, virou uma prisão bonita”, resume uma delas, com lágrimas nos olhos.

O tráfico de mulheres: uma rede transnacional

O caso de DJ Beka não é isolado. Especialistas ouvidos por Cabrini explicam que há um crescimento preocupante de redes de tráfico humano com foco na exploração sexual de brasileiras na Europa. Segundo dados da Interpol, o Brasil está entre os dez países com maior índice de mulheres traficadas para fins de exploração sexual no continente.

“A tecnologia facilitou esse mercado. Hoje, o recrutamento é feito online, com aparência de legalidade. É uma armadilha digital”, alerta a socióloga portuguesa Mariana Silva, que estuda o fenômeno. “Essas redes têm braços no Brasil e conexões com máfias locais na Europa. Elas vendem um sonho para lucrar com o corpo e a dor de mulheres vulneráveis.”

O caso de Rebeka, por sua notoriedade e abrangência, pode abrir precedentes para novas investigações. Já há indícios de que parte dos lucros obtidos com os spas eram transferidos para contas em paraísos fiscais. Há também suspeitas de que o grupo tenha tentáculos em cidades como Barcelona, Genebra e até Dubai.

Cabrini: jornalismo como instrumento de denúncia

A reportagem é um exemplo do trabalho que consagrou Roberto Cabrini ao longo das décadas: o mergulho profundo em temas complexos, com olhar humano, apuração rigorosa e compromisso com a verdade. Em sua fala ao final da entrevista, Cabrini ressalta a importância de não se calar diante do sofrimento alheio.

“Estamos falando de vidas marcadas por dor, vergonha, humilhação. De jovens que cruzaram o oceano em busca de dignidade e encontraram violência. Esta reportagem não é sobre uma DJ. É sobre o sistema que lucra com o silêncio de mulheres. E é nosso dever romper esse silêncio.”

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