No “Sensacional” de segunda (28), Buchecha relembra Claudinho, fala sobre depressão e emociona ao contar como o carinho dos fãs o salvou

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Foto: Reprodução/ Internet

Na noite desta segunda-feira, 28 de julho de 2025, o programa “Sensacional”, apresentado por Daniela Albuquerque na RedeTV!, promoveu mais que uma simples entrevista. A atração foi o cenário de um reencontro íntimo entre o cantor Buchecha e suas memórias, dores e conquistas. Com uma trajetória marcada por sucessos que embalaram a juventude dos anos 1990, Buchecha abriu o coração e falou, com rara franqueza, sobre a ausência do amigo e parceiro musical Claudinho, morto há mais de duas décadas. O encontro com Daniela foi delicado, sensível e profundamente humano.

“O buraco que ele deixou nunca será preenchido”, diz Buchecha, ainda com os olhos marejados de lembranças. “A saudade é irreparável e é impossível esse lugar ser ocupado.” O artista, cujo nome verdadeiro é Claucirlei Jovêncio de Souza, fala com o tom de quem ainda revive cada detalhe da história que mudou para sempre sua vida.

O dia que parou tudo: A tragédia que mudou os rumos da música brasileira

Era 13 de julho de 2002 quando um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro, tirou a vida de Claudinho. A notícia chocou o Brasil e interrompeu, de forma abrupta, a carreira de uma das duplas mais amadas da música popular brasileira. Claudinho & Buchecha haviam conquistado o país com o estilo inédito do funk melody — romântico, dançante, positivo. Sucessos como “Só Love”, “Conquista”, “Nosso Sonho” e “Fico Assim Sem Você” estavam entre as músicas mais tocadas nas rádios, bailes, festas de rua e programas de TV.

Na entrevista, Buchecha relembra o exato instante em que recebeu a notícia e como o luto se abateu sobre ele. “Eu só olhei para o céu e falei: ‘Deus, por quê?’”, confidencia, com a voz embargada. “Você começa a se culpar. Por que eu não orei? Por que eu não estava com ele naquele dia? Vêm essas perguntas todas, que a gente nunca consegue responder.”

A premonição de um pai: o pedido inusitado de Claudinho

Em um dos momentos mais tocantes da conversa com Daniela Albuquerque, Buchecha compartilhou um episódio que, à época, parecia apenas curioso. “Ele estava no estúdio e começou a autografar vários CDs nossos para a filha dele, que tinha só três aninhos”, recorda. “Ele me pediu que eu entregasse aqueles CDs no dia em que ela completasse 15 anos.”

Buchecha diz que só anos depois entendeu a dimensão daquele gesto, quase como se Claudinho, de alguma maneira, pressentisse que sua jornada seria interrompida cedo demais. A filha, hoje já adulta, guarda as relíquias como lembrança eterna do pai.

A escuridão da depressão: “Eu não queria nem tomar banho”

A perda de Claudinho não foi apenas pessoal. Ela mexeu com a identidade profissional, emocional e espiritual de Buchecha. A parceria musical não era uma sociedade artística qualquer — era uma irmandade. E o luto, como ele conta sem rodeios, veio acompanhado de uma forte depressão.

“Eu morava na beira da rua, numa casa de esquina na Ilha do Governador. As crianças paravam a van escolar em frente à minha casa e gritavam: ‘Buchecha, cadê você?’. Eu estava trancado no quarto, sem querer ver a luz do dia”, relata, com franqueza comovente. “Confesso que tinha até dificuldade para tomar banho. Não tenho vergonha de falar.”

Esses pequenos gestos — os gritos das crianças, a lembrança viva dos fãs — foram, aos poucos, empurrando Buchecha de volta à vida. O carinho popular se mostrou um antídoto contra a solidão e a dor.

De camelô a ídolo nacional: a origem humilde do artista

A história de Buchecha é, por si só, um retrato da luta de milhões de brasileiros. Nascido em 1º de abril de 1975, em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, ele cresceu na comunidade de Coronel Leôncio, em Niterói. Filho de Claudino de Souza Filho, compositor que também enfrentou a dureza da vida, Buchecha precisou abandonar os estudos aos 13 anos para ajudar a família. Trabalhou como camelô, servente de obras e office boy — funções que marcaram sua adolescência.

Foi ainda adolescente que conheceu o amigo Claudinho, com quem viria a formar a dupla que revolucionaria o funk carioca. Em 1992, incentivado pelo parceiro, participou do 1º Festival de Rap do Clube Mauá, no Rio. Venceram com a música “Rap da Bandeira Branca”. Em 1995, venceram outro festival com “Rap do Salgueiro”. Estava selada a parceria que encantaria o país.

Um sucesso meteórico: dos bailes ao topo das paradas

Logo no disco de estreia, lançado em 1996, Claudinho & Buchecha venderam mais de 1,2 milhão de cópias. A música “Conquista” dominou as paradas. Vieram outros hits: “Xereta”, “Quero Te Encontrar”, “Coisa de Cinema”. A mistura de romantismo, batidas envolventes e letras acessíveis tornaram a dupla um fenômeno não só no Brasil, mas também em países como Japão, Portugal, Argentina e EUA.

Foram seis álbuns de estúdio lançados até 2002. Em pouco tempo, os dois jovens de São Gonçalo se tornaram ícones da juventude, frequentando programas como Domingão do Faustão, Planeta Xuxa e H.

Vida solo, homenagens e reinvenção

A morte de Claudinho quase levou Buchecha a abandonar a música. Mas, incentivado por amigos e fãs, ele decidiu seguir. “Eu percebi que aquilo que a gente construiu não podia morrer com ele”, explica.

Em 2006, lançou o álbum Buchecha Acústico, relembrando os grandes sucessos da dupla com participações de MC Marcinho, Latino e Lulu Santos. Em 2012, realizou o sonho de gravar seu primeiro DVD solo, comemorando 15 anos de carreira, com participações de Jorge Vercillo e Belo.

Buchecha também viu sua música ser regravada por ícones da MPB, como Adriana Calcanhoto e Kid Abelha. Em 2010, viu mais uma tragédia atingir sua vida: o assassinato de seu pai, Claudino, em São Gonçalo. Mas, mais uma vez, escolheu resistir.

“Funk é poesia, é emoção, é realidade”

Em uma época em que o funk ainda era marginalizado, Claudinho & Buchecha ajudaram a mudar essa percepção. “O funk melody mostrou que o gênero também é poesia, é emoção, é realidade vivida com alegria”, reflete Buchecha.

Hoje, mesmo com o passar dos anos, ele segue sendo referência no gênero. Seu álbum mais recente, Funk Pop (2015), apostou na mistura de ritmos, sem abandonar a essência que o consagrou.

A música “Hot Dog”, lançada em 2012, ganhou destaque nacional ao ser trilha sonora da novela Avenida Brasil, um dos maiores sucessos da dramaturgia brasileira da TV Globo.

O legado vivo de Claudinho & Buchecha

Mais do que uma história de sucesso e superação, Buchecha carrega em si um compromisso com o passado e com os fãs. “Eu preferia tê-lo aqui, mesmo que não estivéssemos mais cantando juntos”, diz, com sinceridade. “Mas Deus quis assim. Eu sigo por nós dois.”

Em cada show, cada batida, cada verso entoado, Claudinho continua presente. Seja na lembrança viva dos que cresceram ouvindo suas canções ou nos novos fãs que redescobrem a dupla pelas plataformas digitais. Buchecha é, hoje, o guardião de uma história que continua viva.

E, como ele mesmo canta em um de seus maiores sucessos: “Nosso sonho não acabou”.

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