“Estranho Jeito de Amar” emociona e conquista 8 indicações no Festival MT Queer Premia 2025

0
Foto: Julio Andrade/ Reprodução

“A gente não quer só amor. A gente quer ser visto, compreendido e respeitado.” A frase é dita por um dos protagonistas de Estranho Jeito de Amar, mas poderia facilmente resumir o impacto social e artístico dessa websérie que, desde sua estreia no YouTube, tem arrebatado uma legião de fãs e conquistado elogios da crítica. Agora, a produção independente acaba de atingir um novo marco em sua trajetória: recebeu oito indicações ao MT Queer Premia 2025, um dos mais relevantes festivais dedicados à diversidade no audiovisual brasileiro.

Protagonizada por Rodrigo Tardelli e Allan Ralph, Estranho Jeito de Amar mergulha com sensibilidade e coragem em uma temática que ainda é pouco explorada na ficção brasileira: relacionamentos abusivos entre homens gays. Com roteiro denso, atuações emocionantes e uma estética marcada pela intimidade e crueza, a série traz à tona feridas abertas e silêncios impostos, revelando as múltiplas camadas de afeto, dor, dependência e superação que atravessam a vida de seus personagens.

Um amor que fere — e liberta

A primeira temporada da série apresenta o cotidiano do casal interpretado por Rodrigo e Allan: um relacionamento que, à primeira vista, parece repleto de cumplicidade e paixão. Mas à medida que os episódios avançam, a relação vai se revelando marcada por ciúmes excessivos, manipulação e violência emocional, num retrato potente do ciclo de abusos que muitas pessoas LGBTQIAPN+ enfrentam — e que raramente encontram espaço para ser discutido na ficção.

Rodrigo Tardelli, que além de ator é um dos idealizadores do projeto, conta que a ideia surgiu da necessidade de retratar formas de violência muitas vezes invisibilizadas, especialmente entre casais do mesmo sexo. “Durante muito tempo, a única imagem que tínhamos de casais LGBTQIAPN+ na mídia era ou a caricatura ou o romance idealizado. Mas existem dores que a gente precisa nomear. E a violência em relações afetivas queer é uma delas.”

A produção foi toda realizada com recursos próprios e por uma equipe enxuta, formada majoritariamente por profissionais LGBTQIAPN+.

“Cada cena era pensada com muito cuidado. A gente não queria apenas mostrar o que é um relacionamento tóxico, mas também mostrar como isso afeta profundamente a autoestima, a saúde mental, a percepção do outro e de si mesmo”, completa Allan Ralph, indicado junto de Rodrigo na categoria Melhor Ator (Drama).

Indicações refletem potência artística e relevância social

As oito indicações recebidas pela série não vieram por acaso. O reconhecimento abrange desde categorias técnicas, como Melhor Fotografia e Melhor Produção, até prêmios de destaque, como Melhor Roteiro (Drama), Melhor Direção, Melhor Elenco e Melhor Série.

“É emocionante ver que uma história como a nossa, feita com tanta garra, está sendo reconhecida em tantas frentes. O MT Queer Premia entende que a representatividade vai além de colocar personagens LGBTQIA+ na tela. Trata-se de mostrar nossas dores, nossos amores, nossas contradições — tudo com humanidade e respeito”, comenta Rodrigo, visivelmente emocionado.

O Festival MT Queer Premia é realizado anualmente em Cuiabá, capital de Mato Grosso, e já se tornou um dos principais eventos culturais do Centro-Oeste. Criado em 2016, o coletivo MT Queer é uma iniciativa que combina arte, militância e educação, promovendo ações de visibilidade, capacitação e acolhimento voltadas à comunidade LGBTQIAPN+ em todo o Brasil.

A premiação deste ano está marcada para o dia 19 de outubro, e promete reunir grandes nomes do cinema queer brasileiro, além de artistas independentes, militantes, produtores e entusiastas da diversidade.

Um festival para quem ousa narrar o silenciado

“A presença de Estranho Jeito de Amar entre os indicados não é só uma conquista artística. É uma conquista política. É a afirmação da potência das nossas histórias contadas com coragem, verdade e afeto”, diz Rodrigo. Ele destaca que o festival valoriza “quem ousa narrar o que ainda é silenciado”, e acredita que essa representatividade genuína pode transformar vidas.

Para a organização do MT Queer, o impacto de obras como essa ultrapassa a tela. “Quando vemos uma série que trata de abuso em relações homoafetivas com essa profundidade e sensibilidade, percebemos o quanto o audiovisual pode ser uma ferramenta de conscientização, empatia e transformação”, comenta Laís Farias, uma das curadoras do festival.

Segundo ela, Estranho Jeito de Amar marca um novo momento da produção audiovisual independente LGBTQIAPN+ no Brasil: “Estamos vendo narrativas que não têm medo de tocar em feridas, de problematizar, de provocar debate. E isso é fundamental para que a arte cumpra também seu papel social.”

Vozes que ecoam

Desde que estreou no YouTube, a websérie acumulou milhares de visualizações e uma base fiel de fãs, que não apenas assistem, mas compartilham, comentam e se sentem representados. Muitos relatos nas redes sociais mencionam como a história ajudou pessoas a identificarem abusos em suas próprias relações.

“Eu estava num relacionamento muito parecido e não conseguia nomear aquilo como abuso até ver a série. Foi um choque. Mas também um alívio. Eu percebi que não estava sozinha”, escreveu uma seguidora no Instagram da produção.

Outros fãs exaltam a atuação do elenco, em especial a entrega de Rodrigo e Allan em cenas intensas e emocionalmente exigentes. “Eles vivem aquilo de um jeito tão verdadeiro que a gente se sente parte daquela dor. A série me fez chorar, mas também me fez pensar”, comentou outro usuário.

COMENTE

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui