
Na vida, algumas histórias começam no fundo do poço. E é de lá que surge Nick Wild, o protagonista de “Carta Selvagem”, filme que será exibido nesta terça-feira, 29 de julho de 2025, às 22h30, no Cine Record Especial. Estrelado por Jason Statham, dirigido por Simon West e com roteiro do lendário William Goldman, o longa mistura ação explosiva com drama psicológico, numa combinação que promete prender o espectador do início ao fim.
Sim, é um filme de pancadaria. Sim, tem perseguições, tiros e mafiosos. Mas há algo a mais aqui — e esse “a mais” vem justamente de onde a maioria dos filmes de ação costuma passar longe: da dor humana, da tentativa de mudar, do fracasso repetido, da culpa e, principalmente, da chance de recomeçar.
Nick Wild: o anti-herói com o rosto de Jason Statham
Quando falamos de Jason Statham, a imagem que nos vem à mente é a do durão silencioso que resolve tudo na base do soco. De certa forma, é isso que vemos em Carta Selvagem, mas com uma diferença importante: Nick Wild é um personagem quebrado por dentro, que usa a violência como defesa e o vício como anestesia.
Nick trabalha como guarda-costas freelance em Las Vegas, uma cidade onde a sorte pode mudar em segundos, mas onde as pessoas raramente mudam. Com um passado nas forças especiais e um presente tomado pela compulsão em jogos, ele vive à margem, tentando se equilibrar entre a sobrevivência e o desejo de deixar tudo para trás. E é nesse cenário que o filme nos apresenta sua principal virada.
Quando Holly, sua única amiga de verdade, é espancada por um grupo de homens ligados ao crime organizado, Nick vê uma oportunidade de fazer o certo — mesmo que isso custe caro. E custa.
Mais do que vingança: a jornada pela redenção
“Carta Selvagem” pode até se vender como um filme de vingança, mas em sua essência é uma história de redescoberta e redenção. O roteiro de William Goldman, adaptado do próprio romance Heat, evita os atalhos fáceis. Aqui, os personagens erram, sentem medo, hesitam. Nick não é invencível. Ele sangra, se descontrola, volta a jogar, perde de novo. E isso torna tudo mais real.
Statham, conhecido por personagens lineares, tem aqui a chance de mostrar mais nuance. Em vários momentos, seu rosto fechado revela algo além da frieza: cansaço, arrependimento, solidão. Quando ele escuta um cliente dizendo que quer ver “alguém fazer justiça de verdade”, Nick hesita. Ele sabe o preço que se paga por essa justiça. Já o espectador, nesse ponto, está envolvido demais para torcer por outra coisa.
Las Vegas: personagem à parte
Filmes ambientados em Las Vegas sempre trazem um charme à parte. Mas em Carta Selvagem, o glamour dá lugar à sujeira das ruas secundárias, aos becos perigosos, aos cassinos decadentes onde se joga o que se tem — e o que não se tem também. A cidade é retratada como uma selva de concreto, onde cada passo em falso pode custar a vida.
A direção de Simon West, conhecido por sucessos como Con Air e Os Mercenários 2, evita exageros visuais. Ao contrário: as cenas de luta são secas, diretas, dolorosas. Nada de acrobacias impossíveis ou explosões mirabolantes. Aqui, a violência é real, suja, física. Quase desconfortável de assistir, e por isso mesmo, mais impactante.
Elenco afinado e participações especiais
Além de Statham, o filme traz um elenco coeso e cheio de surpresas. Michael Angarano interpreta Cyrus Kinnick, um jovem milionário com dificuldades sociais que contrata Nick como segurança. A relação entre os dois é curiosa e inesperadamente tocante: há ali uma troca de confiança, de proteção mútua, e uma sutil camada de ternura que humaniza ainda mais o protagonista.
Dominik García-Lorido (filha de Andy Garcia) dá vida à decidida Holly, cuja busca por justiça é o estopim da trama. E Milo Ventimiglia, o querido Jack Pearson da série This Is Us, aparece em um papel completamente oposto: o vilão sádico Danny DeMarco, filho de um mafioso poderoso e dono de uma crueldade fria e calculada.
Entre os coadjuvantes, há participações de Stanley Tucci, Jason Alexander e Sofía Vergara, todos em pontas curtas, mas memoráveis. As presenças conhecidas ajudam a reforçar a ideia de um mundo recheado de personagens ambíguos, onde ninguém é 100% bom ou 100% mau.
A raiz literária do filme
Um dos aspectos mais curiosos do filme é seu roteiro. Ele não nasceu como filme de ação, mas como literatura. William Goldman, autor do romance Heat, é um nome respeitado em Hollywood. Vencedor de dois Oscars (Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente), Goldman é mestre em construir personagens complexos em meio a situações extremas.
A primeira versão cinematográfica do livro foi lançada em 1986, estrelada por Burt Reynolds. Embora pouco conhecida hoje, essa adaptação original foi importante para consolidar a ideia de que filmes de ação podiam ter profundidade emocional. A versão de 2015, estrelada por Statham, é uma releitura mais contemporânea e urbana — mais crua, talvez, mas fiel ao espírito do autor.
Um filme sobre fracassos (e sobre tentar de novo)
O coração de Carta Selvagem não está nas lutas, nas armas ou nos mafiosos. Está nos silêncios. Nos momentos em que Nick olha para o espelho e não gosta do que vê. Nas vezes em que promete parar de jogar — e volta a jogar. No medo de se tornar alguém irrelevante. No desejo quase infantil de sair de Las Vegas e morar em Nice, na França, um sonho que parece sempre dois passos além do seu alcance.
Talvez por isso o filme ressoe com tanta gente. Porque no fundo, quem nunca teve um plano de recomeço engavetado? Quem nunca tropeçou nos próprios vícios? Quem nunca teve medo de si mesmo? Essa camada mais humana transforma a produção em algo que vai além do gênero. É um filme de ação com alma — e isso não é pouco.
Onde e quando assistir
O filme será exibido nesta terça na tela da Record e é uma ótima oportunidade para quem gosta de ação, mas também aprecia uma boa história com personagens densos. E se você perder a exibição na TV, não tem problema: O longa-metragem está disponível para streaming no Amazon Prime Video, tanto para assinantes quanto para aluguel avulso (a partir de R$ 6,90).
Vale a pena?
Se você está acostumado com Jason Statham em modo automático — atirando, correndo, batendo — prepare-se para uma versão diferente do ator. Ainda violento, ainda ágil, mas com mais peso emocional. E isso faz toda a diferença. O filme americano com certeza é uma experiência intensa, que começa como um suspense policial e termina como uma reflexão sobre escolhas, perdas e redenção. Um filme que mostra que até os durões também choram, mesmo que por dentro.
















