
Na próxima sexta-feira, 1º de agosto, o SBT exibe um dos thrillers aquáticos mais comentados dos últimos anos na sua “Tela de Sucessos”: Do Fundo do Mar 2 (Deep Blue Sea 2), sequência espiritual do cultuado longa lançado em 1999. Com direção de Darin Scott e protagonizado por Danielle Savre e Michael Beach, o filme mergulha em águas perigosas onde a ciência se transforma em ameaça, e a sobrevivência passa a ser a única missão possível.
Com pouco mais de 1h30 de duração, a produção entrega ação, tensão e um alerta que reverbera além da ficção: até onde a humanidade está disposta a ir quando o lucro e o ego se sobrepõem à ética científica?
O retorno ao terror das profundezas
De acordo com a sinopse do AdoroCinema, o filme começa como uma visita de rotina a uma instalação científica localizada abaixo da superfície do oceano. Lá, conhecemos a Dra. Misty Calhoun (interpretada com intensidade por Danielle Savre), uma especialista em preservação marinha e pesquisadora dedicada ao estudo dos tubarões. Convidada pelo misterioso bilionário Carl Durant (Michael Beach) para atuar como consultora em um projeto sigiloso, Misty é atraída pela promessa de um avanço científico: a ideia de utilizar anticorpos de tubarões como chave para o tratamento de doenças humanas.
Mas rapidamente essa proposta idealista se mostra apenas a superfície de algo muito mais sombrio. O que Misty descobre ao chegar na base submersa é alarmante: Durant está conduzindo experimentos com tubarões-cabeça-chata — espécies notoriamente imprevisíveis e agressivas — geneticamente modificados para se tornarem mais inteligentes, rápidos e mortais.
Aos poucos, o espectador é conduzido por uma espiral de horror tecnológico. A cada cena, fica mais evidente que os limites da ética foram deixados para trás, substituídos por uma obsessão com o poder, o controle e a ideia de dominação por meio da engenharia genética. O que era para ser uma missão científica se transforma em um jogo mortal de sobrevivência.
Carl Durant: o vilão contemporâneo
Interpretado com presença marcante por Michael Beach, Carl Durant é o típico antagonista moderno. Inteligente, carismático e convicto de suas ideias, ele não se vê como um vilão. Ao contrário, acredita estar à frente de seu tempo.
Durant representa uma figura cada vez mais comum na ficção contemporânea: o magnata da tecnologia movido por um narcisismo intelectual, que acredita ter todas as respostas e o direito de brincar de Deus. Seus experimentos com os tubarões modificados não têm limites morais. Para ele, o sofrimento de outras espécies — e até de seres humanos — é apenas um efeito colateral de um bem maior: o progresso.
Michael Beach, veterano de séries e filmes de ação e drama, consegue dar profundidade ao personagem, evitando caricaturas. Seu Durant é complexo, inquietante e, acima de tudo, humano em sua falibilidade, o que o torna ainda mais perigoso.
Danielle Savre e uma heroína realista
Do outro lado dessa equação moral está Misty Calhoun, vivida por Danielle Savre — atriz que já demonstrou versatilidade em séries como Station 19. Sua performance em Do Fundo do Mar 2 é marcada por uma entrega física e emocional que confere credibilidade à personagem.
Misty não é uma heroína com superpoderes. Ela é uma cientista, movida por ética, empatia e racionalidade. Quando se vê encurralada em um ambiente claustrofóbico e hostil, sua força não está em armas ou explosões, mas na inteligência, no conhecimento sobre os animais e na resistência diante do absurdo.
A atriz consegue equilibrar o lado técnico da personagem com a vulnerabilidade necessária para que o público se identifique com ela. Misty é alguém que luta não só pela própria sobrevivência, mas pela preservação da vida marinha — mesmo diante da morte.
O terror subaquático como crítica social
Embora seja um filme de entretenimento, repleto de cenas de ação, tensão e criaturas assassinas, Do Fundo do Mar 2 também convida o público à reflexão.
Assim como outros filmes do subgênero “terror científico”, como Esfera, O Enigma do Horizonte ou o próprio primeiro Do Fundo do Mar, esta continuação expande o debate sobre os limites da ciência e os perigos de ultrapassá-los sem responsabilidade.
A ideia de manipular a genética de tubarões — animais já naturalmente poderosos e imprevisíveis — para potencializar suas habilidades é uma metáfora para o desequilíbrio da relação entre ciência e ética. A mensagem é clara: quando o conhecimento é usado apenas como instrumento de poder, o resultado é o caos.
Ambientação claustrofóbica e cenas impactantes
Grande parte da tensão do longa-metragem vem de sua ambientação. A base subaquática onde se passa a maior parte da trama é opressiva, cheia de corredores estreitos, portas automáticas que podem trancar a qualquer momento e sons constantes de água e metal se comprimindo.
A sensação de confinamento, somada à ameaça invisível dos tubarões espreitando pelas janelas e túneis de acesso, cria um ambiente de paranoia crescente. A qualquer momento, tudo pode ruir — literalmente.
A direção de Darin Scott aposta em planos fechados e câmeras em movimento para transmitir a instabilidade emocional dos personagens e a insegurança do ambiente. As cenas de ataques são bem coreografadas, equilibrando sustos com efeitos especiais relativamente modestos, mas eficientes.
O destaque vai para uma sequência em que os personagens precisam atravessar um corredor parcialmente inundado, sabendo que há algo à espreita. A tensão é real, construída sem pressa, e culmina em um momento de brutalidade surpreendente.
Uma sequência que não tenta superar o original, mas segue outro caminho
Lançado em 1999, o primeiro Do Fundo do Mar conquistou o público com uma mistura inusitada de suspense, ação e cenas memoráveis — como o ataque repentino que levou um dos protagonistas no meio de um discurso inspirador.
A sequência de 2018, no entanto, não tenta emular completamente o estilo do original. Ela caminha por sua própria trilha, mais voltada ao terror psicológico e à crítica tecnológica. Ainda que não tenha o mesmo impacto cultural, Do Fundo do Mar 2 consegue manter o espírito de perigo constante, enquanto atualiza o enredo para dialogar com os medos contemporâneos: inteligência artificial, manipulação genética, ganância corporativa e negligência científica.
Um elenco eficiente e funcional
Além de Savre e Beach, o elenco conta com Rob Mayes como Trent, um dos técnicos de segurança da base; Kim Syster como a corajosa Leslie; e Darron Meyer como Craig, um cientista dividido entre a lealdade à pesquisa e o medo crescente do que está por vir.
Embora os personagens secundários não sejam tão desenvolvidos, cada um cumpre bem seu papel no jogo de tensão da narrativa. As interações entre eles ajudam a construir o senso de urgência e a noção de que qualquer um pode não sair vivo dali.
















