Amores à Parte | Sucesso em Cannes, comédia estreia no Brasil em 21 de agosto

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Foto: Reprodução/ Internet

Se relacionar nunca foi tão confuso — e, ao mesmo tempo, tão necessário.
É entre silêncios incômodos, risadas fora de hora e tentativas falhas de reconexão que se desenrola Amores à Parte, comédia dramática escrita, dirigida e estrelada por Michael Angelo Covino e Kyle Marvin. A estreia nos cinemas brasileiros acontece no próximo dia 21 de agosto, com distribuição da Diamond Films — e promete abalar (com charme e desconforto) a forma como enxergamos nossos vínculos mais íntimos.

Depois de uma passagem elogiadíssima pelo Festival de Cannes, onde arrancou risadas, suspiros e até algumas lágrimas silenciosas da plateia, o longa chega por aqui carregando não apenas credenciais de prestígio, mas um tema que ecoa com cada vez mais força no mundo contemporâneo: o que acontece quando o amor não é mais suficiente para manter uma relação de pé?

Do casamento ao caos em poucos minutos

A história gira em torno de Carey (Kyle Marvin), um homem na casa dos 40 anos, que tem a vida desmoronada num piscar de olhos. Sua esposa, Ashley (Adria Arjona), comunica de forma direta, quase prática, que quer o divórcio. Sem escândalos ou explicações longas. Apenas a constatação de que acabou. Carey, ainda preso ao ideal de que o amor deve durar para sempre, mergulha num mar de negação, buscando amparo emocional no casal de amigos aparentemente mais bem resolvido que conhece: Paul (Michael Covino) e Julie (Dakota Johnson).

Mas logo descobre que nem tudo ali é tão sólido quanto parece. Paul e Julie vivem um relacionamento aberto, com suas próprias regras e flexibilidades. Uma decisão que, longe de parecer libertadora, mais parece uma gambiarra emocional para adiar o inevitável: a necessidade de encarar suas insatisfações.

A delicadeza do riso amargo

O que poderia facilmente escorregar para a caricatura ou para o moralismo barato se transforma, nas mãos da dupla Covino e Marvin, num retrato sutil e honesto das contradições humanas.
A comédia aqui é desconfortável. Ela surge nos momentos em que a personagem diz o que não deveria, ou quando tenta parecer controlada mas sua voz treme. É o riso que vem depois da dor — ou com ela.

Em uma das cenas mais emblemáticas, Carey tenta um encontro amoroso com uma desconhecida em um bar, mas termina chorando no banheiro antes do jantar começar. É engraçado. E devastador. E é exatamente isso que torna o filme tão especial: ele sabe que o amor, mesmo falido, ainda nos importa.

Michael Covino e Kyle Marvin: o bromance por trás da câmera

Amigos de longa data e parceiros criativos desde A Subida (The Climb, 2019), Covino e Marvin sabem construir personagens masculinos que escapam do arquétipo do “homem que sofre em silêncio”. Eles sofrem, sim — mas falam disso. Riem disso. E se olham com compaixão.

Em entrevistas recentes, os dois revelaram que a ideia de Amores à Parte surgiu de conversas pessoais sobre suas próprias inseguranças e fracassos amorosos. “A gente não queria fazer um filme sobre o ‘casamento que deu errado’, mas sim sobre a tentativa desesperada de entender o que sentimos quando tudo que idealizamos se desfaz”, contou Covino ao site IndieWire.

Essa autenticidade se reflete na tela. A química entre os atores, especialmente entre Covino e Marvin, é o motor da narrativa. Eles não precisam de diálogos rebuscados para expressar a intimidade emocional que compartilham — basta um olhar, um silêncio constrangedor ou uma piada mal colocada para dizer tudo.

Dakota Johnson, Adria Arjona e os vínculos femininos na crise

Enquanto os homens se debatem tentando entender seus sentimentos, as mulheres do filme já estão um passo à frente — ainda que também perdidas. Dakota Johnson, como Julie, é o grande contraponto emocional da trama. Sua personagem é perspicaz, contida, e ao mesmo tempo vulnerável. Uma mulher que topou abrir o relacionamento, mas que não sabe ao certo se isso a libertou ou a silenciou.

Adria Arjona, por sua vez, interpreta Ashley com uma maturidade rara. Ao pedir o divórcio, ela não explode. Apenas reconhece, com dor contida, que não pode continuar fingindo. Sua personagem é menos sobre a ruptura, e mais sobre o resgate de si mesma.

Ambas as atrizes escapam de estereótipos fáceis e entregam interpretações delicadas, carregadas de subtexto. São mulheres reais, lidando com homens que não sabem como lidar com suas próprias emoções — um espelho que, infelizmente, segue atual.

Relações modernas ou desculpas velhas?

Um dos méritos de Amores à Parte está em não tomar partido. O filme não vende a ideia de que relacionamentos abertos são a solução, nem que o casamento tradicional está falido. Ele apenas observa. E isso, hoje em dia, já é revolucionário.

Na era dos aplicativos, dos vínculos descartáveis e das conversas por mensagens, o longa mostra que, independentemente do formato do relacionamento, as questões fundamentais continuam as mesmas: como lidar com o ego, o medo de rejeição, a solidão, a culpa, o desejo por controle e a dificuldade de escutar o outro.

Não há lições de moral. Mas há muitos espelhos — e talvez essa seja a melhor forma de provocar o público.

Do riso ao reconhecimento: o impacto emocional

É impossível sair do cinema sem se identificar com pelo menos um dos personagens. Quem nunca tentou parecer forte diante de uma separação? Quem nunca se questionou se estava fazendo tudo errado? Quem nunca quis apertar o botão de reiniciar na vida amorosa?

Amores à Parte toca fundo porque não quer ser genial — quer ser humano. E isso é raro.

A trilha sonora discreta, a fotografia naturalista, a direção sensível e os diálogos que parecem retirados de conversas reais criam um ambiente íntimo, quase confessional. Em certos momentos, parece que estamos assistindo a um documentário sobre gente comum tentando seguir em frente.

De Cannes ao Brasil: uma estreia que vale o ingresso

Com estreia agendada para 21 de agosto nos cinemas brasileiros, o longa chega ao país após boa repercussão internacional. Sua participação no Festival de Cannes garantiu não só elogios da crítica especializada, mas também um burburinho espontâneo nas redes sociais, onde internautas compartilharam trechos do trailer com comentários como: “é assim que meus amigos lidam com o divórcio” ou “finalmente uma comédia romântica sem romance idealizado”.

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