
Na noite do próximo sábado, 2 de agosto de 2025, o Altas Horas celebra os 60 anos da Jovem Guarda com um tributo especial que atravessa gerações e emoções. Mais do que uma simples viagem ao passado, o programa coloca no centro do palco um movimento que marcou época e redefiniu juventude, comportamento e liberdade nos anos 1960. Será um encontro vibrante entre ícones que fizeram história e novas vozes que, décadas depois, ainda se reconhecem nas melodias, nas atitudes e no espírito da Jovem Guarda.
De acordo com informações da TV Globo, a edição especial, ainda inédita, foi gravada nos estúdios da emissora em São Paulo e será exibida com exclusividade neste fim de semana. Com curadoria atenta de Serginho Groisman, o programa reúne nomes que participaram diretamente daquele período revolucionário da música brasileira e também talentos contemporâneos que reinterpretam os clássicos sob novos olhares.
Uma noite com a ternura de Wanderléa e o espírito de uma geração
Figura essencial do movimento cultural, Wanderléa é uma das grandes atrações da noite. Com a leveza que sempre carregou em cena, a cantora revive parte de sua trajetória ao interpretar “Pare o Casamento”, uma das músicas que marcaram o auge do movimento. Aos 77 anos, ela permanece como símbolo de resistência feminina em um tempo em que o protagonismo musical era majoritariamente masculino.
Durante o programa, ela também divide os vocais com Ronaldo, integrante dos Golden Boys, em uma versão de “Foi Assim”, que promete aquecer o coração dos fãs da velha guarda. Mais do que cantar, Wanderléa compartilha lembranças de uma era marcada por descobertas, liberdade criativa e o início de sua parceria com Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
A Jovem Guarda pelo olhar de quem veio depois
A força do especial também está nos artistas contemporâneos que reconhecem na Jovem Guarda um legado que continua presente. Ana Cañas, por exemplo, interpreta “Eu Sou Terrível” e reflete sobre a importância da presença de Wanderléa naquela época: “Ela não estava apenas ocupando um espaço como mulher. Ela estava abrindo caminho, num ambiente totalmente dominado por homens”, conta em um dos trechos da gravação.
Já Kell Smith compartilha uma lembrança íntima: o dia em que o pai lhe presenteou com um disco de vinil de Wanderléa. “Todo mundo queria ouvir CD naquela época, mas lá em casa a gente andava por lojas de vinil. Foi assim que conheci a Ternurinha. Aquilo me marcou profundamente”, revela. A cantora também participa das homenagens com uma performance delicada de “Quando”, ao lado da dupla Rick & Renner.

Clássicos revisitados e interpretações cheias de identidade
A noite reserva momentos de pura reinvenção. O cantor Lucas Leto, representante da nova geração do pop rock nacional, apresenta sua versão de “É Proibido Fumar”. A canção, imortalizada na voz de Roberto Carlos, ganha uma roupagem atual, sem perder o espírito rebelde e ousado que a consagrou.
Fernanda Takai, conhecida pelo trabalho no Pato Fu e por suas incursões na música brasileira dos anos 1960 e 70, interpreta “A Pobreza (Paixão Proibida)” com sua suavidade habitual. A escolha da música e a delicadeza da interpretação dialogam diretamente com o tom melancólico e romântico da Jovem Guarda.
Também participam do especial os The Fevers, grupo fundamental na construção da trilha sonora afetiva daquela geração. Na formação atual com Luiz Cláudio e Rama, o grupo apresenta “Mar de Rosas”, um clássico que resiste ao tempo e continua povoando memórias afetivas por todo o país.
Histórias que atravessam a infância e ganham o palco
O ator Murilo Rosa recorda, com espontaneidade, a relação que construiu com as músicas da Jovem Guarda desde menino. “Meu pai me deu uma guitarrinha de brinquedo. Eu ficava o dia inteiro pela casa cantando Roberto Carlos. Aquilo ficou”, comenta em uma das conversas com Serginho. Embora não seja cantor, Murilo participa com entusiasmo das homenagens e reforça como a Jovem Guarda foi presença constante nas famílias brasileiras.
Quem também solta a voz no especial é a atriz Nathalia Dill, que interpreta “As Curvas da Estrada de Santos” e surpreende com uma performance intensa e emotiva. É mais um exemplo de como o repertório da Jovem Guarda continua dialogando com diferentes expressões artísticas.
Juventude em ebulição: Pedro Calais e a energia da nova geração
O vocalista da banda Lagum, Pedro Calais, traz ao palco sua leitura irreverente de “Vem Quente que Estou Fervendo”. Com sua postura despojada e contemporânea, Pedro imprime nova energia à música e mostra que o espírito da Jovem Guarda ainda pulsa no coração da juventude brasileira.
“Eu gosto da ousadia daquela época. Não era só sobre amor ou música boa. Era sobre viver com intensidade”, comenta durante os bastidores da gravação. A apresentação promete ser um dos momentos mais animados do programa.
Raul Seixas em foco
Um dos trechos mais simbólicos do especial é a participação do ator Ravel Andrade, que recentemente deu vida a Raul Seixas na minissérie “Raul Seixas: Eu Sou”, do Globoplay. No programa, ele canta “Doce, Doce Amor”, composição da fase inicial de Raul, ainda com fortes influências da Jovem Guarda.
Ravel destaca o papel de Raul como figura de transição entre o romantismo dos anos 60 e o pensamento crítico que viria com os anos 70. “Raul começou dentro dessa estética mais comportada e depois rompeu com tudo. Mas dá pra perceber que ele não nega essas raízes. Elas estão ali, bem vivas”, afirma.
Uma homenagem que valoriza a memória cultural do país
Mais do que reviver sucessos, o especial do Altas Horas reforça o valor da memória musical brasileira. Ao reunir artistas de diferentes gerações, o programa costura afetos e traduz em performances ao vivo um capítulo importante da nossa história cultural.
Serginho, como de costume, atua mais como anfitrião do que como apresentador. Seu estilo acolhedor cria um ambiente em que os artistas se sentem à vontade para compartilhar histórias, emoções e experiências pessoais com o público.
O que vai ao ar neste sábado é mais do que uma edição comemorativa. É um testemunho afetivo de como a música atravessa o tempo, acompanha trajetórias e permanece viva no imaginário coletivo. Os 60 anos da Jovem Guarda não pertencem apenas ao passado — pertencem a todos que, de alguma forma, continuam se conectando com seu legado, seja pelo vinil herdado do pai, pelo refrão ouvido no rádio ou pela primeira música tocada no violão.
















