
É curioso como algumas histórias insistem em não acabar. E talvez seja justamente isso que as mantém vivas. Em um mundo onde reboots e continuações parecem brotar com a mesma velocidade de memes nas redes sociais, é fácil olhar com ceticismo para mais um filme da franquia Jurassic Park. Mas Jurassic World: Recomeço, o novo capítulo lançado em 2025, tem provado que — apesar das dúvidas — ainda há um enorme apetite por dinossauros. Literalmente.
Com US$ 766 milhões arrecadados nas bilheteiras mundiais, sendo US$ 317 milhões só nos Estados Unidos, o longa dirigido por Gareth Edwards não é apenas um sucesso comercial. Ele é também uma tentativa ambiciosa de resgatar um sentimento que parecia enterrado nas trilhas de Isla Nublar: a admiração, o medo e o fascínio diante do desconhecido. As informações são do Omelete.
Mas para além dos números e dos efeitos especiais, o que o novo filme tem a dizer? E mais: ele realmente precisava existir?
A natureza se adapta. A franquia também.
Cinco anos se passaram desde os eventos de Jurassic World: Domínio — tanto na cronologia da história quanto no nosso mundo real. Depois da confusão global causada pelos dinossauros soltos no planeta, a Terra meio que “resolveu” o problema por conta própria. As criaturas sobreviveram apenas em zonas tropicais remotas, lugares hostis para humanos, mas semelhantes aos seus habitats originais. Foi a forma do planeta dizer: “Vocês mexeram demais, agora deixem que eu arrumo.”
É nesse cenário que conhecemos Zora Bennett, vivida por Scarlett Johansson, uma agente secreta recrutada para uma missão com cara de “última chance”. Ela se une ao paleontólogo Dr. Henry Loomis (Jonathan Bailey) e ao líder da operação Duncan Kincaid (Mahershala Ali), em uma jornada até a misteriosa Ilha Saint-Hubert — um lugar que, como muitas ilhas no universo Jurassic, deveria ter continuado inacessível.
O plano é encontrar três espécies raríssimas — uma terrestre, uma marinha e uma voadora — e coletar seu DNA. A promessa é tentadora: esse material genético pode revolucionar a medicina e salvar milhões de vidas. Mas a gente já sabe como esse tipo de história termina, não é?
Entre monstros e memórias
Quando a equipe chega à ilha, percebe que não está sozinha. Uma família de turistas — que deveria estar em um passeio tranquilo — foi surpreendida por criaturas marinhas e acabou naufragando ali. Com isso, o filme ganha uma camada emocional importante. Não é só uma missão científica ou militar. Há crianças em perigo, pais desesperados e jovens apaixonados tentando sobreviver a algo que jamais imaginaram enfrentar.
E é aí que Recomeço revela sua face mais sombria. A ilha, usada no passado como centro de pesquisa pela InGen, guarda segredos que ninguém deveria ter redescoberto. Criaturas modificadas, híbridos fracassados, dinossauros com mais membros do que deveriam ter. Um deles, inclusive, é o Distortus rex, um T. rex mutante com seis membros e aparência assustadoramente alienígena. Outro destaque são os Mutadons, mistura bizarra entre pterossauros e velociraptores, que cruzam o céu como pesadelos com penas.
O retorno do Espinossauro, ausente há anos, também empolga os fãs mais antigos. Mas ele vem repaginado, mais ameaçador e com presença digna de antagonista. O filme, de fato, entrega quando o assunto é visual.
O humano por trás da missão
Talvez o maior mérito de Recomeço não esteja nos dinossauros — mas nas pessoas. Scarlett Johansson lidera o elenco com segurança e sensibilidade. Sua Zora é uma mulher treinada, estratégica, mas que claramente carrega traumas. Ela não está ali apenas por dever, mas porque acredita, de alguma forma, que pode corrigir erros do passado. Johansson não interpreta uma heroína de ação caricata — ela é humana, falha e determinada.
Mahershala Ali, como Duncan, confere um tom sóbrio à liderança, enquanto Jonathan Bailey surpreende ao fugir do estereótipo do cientista ingênuo. O trio funciona bem, e suas interações — em meio a perseguições, ataques e descobertas — ajudam a manter o público engajado.
O núcleo da família naufragada, com Manuel Garcia-Rulfo e os jovens Luna Blaise, David Iacono e a pequena Audrina Miranda, representa o lado mais vulnerável da história. Eles não queriam estar ali, mas agora lutam por sobrevivência. E é através deles que o filme consegue arrancar os momentos mais sinceros.
Uma bilheteria promissora, um futuro em aberto
Com US$ 8,4 milhões arrecadados só no último fim de semana nos Estados Unidos, o novo longa da franquia de Dinossauros continua firme nas bilheteiras, mesmo após mais de um mês em cartaz. Ainda não chegou ao bilhão como seu antecessor, mas parece não estar preocupado com isso. O longa foca em construir novos caminhos, e não apenas repetir velhas fórmulas.
















