
Na próxima sexta-feira, 8 de agosto de 2025, o SBT resgata da memória – e do limbo cinematográfico – um dos filmes mais controversos dos anos 2000: O Filho do Máskara (2005). Com direção de Lawrence Guterman e estrelado por Jamie Kennedy, o longa será exibido na Tela de Sucessos, faixa tradicional da emissora dedicada a filmes de apelo popular. A escolha, no mínimo curiosa, reacende debates sobre o peso das sequências no cinema, o culto às franquias e o que acontece quando uma continuação falha em capturar a essência do original.
O que parecia ser uma tentativa de reviver o sucesso estrondoso de O Máskara (1994), estrelado por Jim Carrey, acabou se tornando uma aula prática de como não fazer uma sequência. Mas, apesar das críticas devastadoras e da bilheteria decepcionante, o filme conquistou certa notoriedade — ainda que como símbolo do que deu errado — e é exatamente por isso que sua exibição hoje merece ser revista sob uma nova lente.
Lançado em 1994, O Máskara não foi apenas um sucesso comercial: foi um fenômeno cultural. Estrelado por um Jim Carrey em plena ascensão e com efeitos visuais inovadores para a época, o filme transformou um personagem de quadrinhos underground da Dark Horse Comics em um ícone do cinema pop. Combinando humor anárquico, energia cartunesca e um toque de irreverência, o longa original arrecadou mais de US$ 350 milhões e foi indicado ao Oscar de melhores efeitos visuais. Para muitos fãs, era impensável uma continuação sem o carisma de Carrey ou a direção afiada de Chuck Russell.
E, no entanto, foi exatamente isso que aconteceu.
O que é O Filho do Máskara?
Segundo a sinopse do AdoroCinema, o longa-metragem surge mais de uma década depois do original, com uma proposta radicalmente diferente: transformar a mitologia caótica e adulta do primeiro filme em uma comédia familiar sobre paternidade e responsabilidade. Jamie Kennedy interpreta Tim Avery, um cartunista inseguro e relutante em ser pai, que se vê em apuros quando seu cachorro encontra a máscara de Loki — o objeto mágico que dá a quem a usa poderes ilimitados e absurdos. Após usá-la em uma festa de Halloween, Tim engravida sua esposa ainda com a máscara no rosto, gerando um bebê sobrenatural com os mesmos poderes. A partir daí, o que se segue é uma batalha insana entre o pai, o bebê e o próprio Loki, interpretado por Alan Cumming, em busca do artefato mágico.
O tom do filme é completamente diferente do original. Onde antes havia humor sombrio e crítica social, agora há cores vibrantes, piadas infantis e referências exageradas a desenhos animados. A tentativa de dialogar com o público infantil e ao mesmo tempo manter a mitologia dos quadrinhos resultou em um Frankenstein cinematográfico que não agrada nem crianças, nem adultos, nem fãs do original.
Um fracasso anunciado
Com um orçamento estimado entre US$ 84 e US$ 100 milhões, O Filho do Máskara arrecadou apenas US$ 57,6 milhões mundialmente — um desastre financeiro. Mas o fracasso nas bilheteiras foi apenas a ponta do iceberg: a recepção crítica foi implacável. O filme recebeu oito indicações ao Framboesa de Ouro, vencendo na categoria “Pior Remake ou Sequência”. Jamie Kennedy e Traylor Howard também foram alvos das premiações negativas, como o Stinkers Bad Movie Awards.
Sites especializados o colocaram frequentemente entre as piores continuações de todos os tempos. No Rotten Tomatoes, mantém uma nota crítica de apenas 6%, com consenso afirmando que o filme é “barulhento, visualmente saturado e sem graça”. No IMDb, a nota 2.2 reflete o desprezo dos espectadores.
A ausência de Jim Carrey e o que poderia ter sido
A sequência foi sonhada desde o sucesso do primeiro filme. A revista Nintendo Power, inclusive, chegou a lançar um concurso nos anos 90 cujo vencedor ganharia um papel em “The Mask II”, estrelado por Carrey. Porém, o ator recusou um cachê de US$ 10 milhões para retornar ao papel, alegando que refazer personagens já interpretados oferecia pouco desafio artístico — uma filosofia que Carrey manteve por anos, com raras exceções.
Sem sua estrela principal, a New Line Cinema decidiu reinventar a franquia. Sai a sátira adulta, entra a comédia familiar. Sai Stanley Ipkiss, entra Tim Avery — nome que, aliás, homenageia o lendário cartunista Tex Avery. A conexão com o universo animado, aliás, é uma das poucas tentativas genuínas de encontrar um novo caminho para a franquia, embora falhe por falta de sutileza.
Um filme que virou cult (por acidente)
Curiosamente, O Filho do Máskara encontrou nos últimos anos um público alternativo. Entre canais de YouTube que analisam “filmes ruins que merecem uma segunda chance”, cinéfilos fascinados por desastres de produção e crianças que o assistiram despretensiosamente em sessões da tarde, o longa adquiriu um status de so bad it’s good (tão ruim que é bom). Não por méritos técnicos ou artísticos, mas justamente por seu absurdo. O bebê de olhos brilhantes, o cachorro que põe a máscara e o Loki carnavalesco de Alan Cumming renderam incontáveis memes, edições cômicas e paródias online.
Se o objetivo do filme era entreter famílias em uma tarde chuvosa, talvez ele tenha alcançado esse pequeno êxito. Mas, como continuação de um clássico dos anos 90, o resultado é desastroso.
A crítica social involuntária
Curiosamente, ao tratar de forma desajeitada o tema da paternidade, o filme acaba levantando questões que vão além do roteiro bizarro. Tim Avery representa o homem moderno às voltas com as expectativas profissionais e familiares. Um pai que se vê impotente diante da hiperatividade de um filho que ele mal entende. A luta entre o cachorro e o bebê — ambos afetados pela máscara — vira metáfora de ciúmes e disputas de atenção, refletindo um lar caótico e desestruturado. Loki, o deus ausente em busca de aprovação paterna, espelha o próprio Tim. E Odin, em seu papel de patriarca rígido, sintetiza a pressão das gerações passadas sobre a parentalidade contemporânea.
Claro, tudo isso é enterrado sob camadas de computação gráfica datada e um humor duvidoso. Mas não deixa de ser curioso como, em meio ao desastre, o filme toca — ainda que superficialmente — em temas relevantes.
Vale a pena assistir?
Se você espera um filme com a mesma inventividade do original, prepare-se para se decepcionar. Mas se encarar O Filho do Máskara como uma obra avulsa, quase paródica de si mesma, pode encontrar momentos de diversão, ainda que involuntária. As animações exageradas, os efeitos caricatos e a narrativa nonsense são dignas de uma madrugada de risadas despreocupadas — ou de um jogo de bebida para cada vez que o bebê usa seus poderes de forma caótica.
No fim, o filme não oferece respostas, redenções nem grandes reviravoltas. É uma colcha de retalhos de ideias que tentam resgatar um espírito anárquico sem o mesmo talento. Ainda assim, permanece como um curioso retrato de uma época em que Hollywood acreditava que bastava colocar uma marca conhecida no título para atrair público — e que sequências podiam viver apenas da fama do original.













