Drama medieval A Colheita, de Athina Rachel Tsangari, estreia com exclusividade na MUBI

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Foto: Jaclyn Martinez/ Divulgação

Nesta sexta, 8, a plataforma MUBI, reconhecida por seu catálogo autoral e curadoria refinada, estreia com exclusividade no Brasil o aguardado filme A Colheita, da diretora grega Athina Rachel Tsangari, mesma mente por trás dos aclamados Attenberg e Chevalier. Baseado no romance homônimo de Jim Crace, finalista do Prêmio Booker, o drama histórico apresenta uma poderosa alegoria sobre os abalos provocados pela chegada da modernidade em comunidades tradicionais.

Protagonizado por Caleb Landry Jones (Três Anúncios para um Crime, Dogman) e Harry Melling (O Gambito da Rainha, The Pale Blue Eye), o filme convida o espectador a mergulhar em uma aldeia medieval fictícia que, em apenas sete dias, se vê tomada por mudanças irreversíveis. Com fotografia hipnótica em 16 mm assinada por Sean Price Williams, o longa-metragem é uma experiência imersiva que mistura realismo brutal e fábula impressionista para retratar o fim de uma era.

Ambientado na Escócia medieval, o filme gira em torno de Walter Thirsk (Caleb Landry Jones), um camponês profundamente enraizado em sua aldeia, e seu amigo de infância Charles Kent (Harry Melling), senhor da propriedade local. Quando forasteiros chegam à vila — incluindo um cartógrafo, um homem da companhia e migrantes desconhecidos — o frágil equilíbrio entre tradição e território se rompe. Os habitantes, tomados pelo medo e pela desconfiança, procuram bodes expiatórios para lidar com as transformações que não compreendem.

A diretora Athina Rachel Tsangari utiliza esse cenário arcaico para discutir temas profundamente atuais: migração, crise econômica, intolerância e a forma como sociedades resistem — ou sucumbem — diante do progresso. A Colheita evoca a angústia coletiva que brota do colapso de valores antigos e da inevitável chegada de um futuro que assusta.

Rodado em locações naturais da região de Argyll, na Escócia, o filme foi capturado em película 16 mm, conferindo às imagens uma textura orgânica e áspera que reforça a imersão do público na vida camponesa do século XIII. A fotografia de Sean Price Williams (parceiro de filmes como Good Time e Her Smell) intensifica o tom lírico e sombrio da narrativa, alternando cenas de beleza pastoral com momentos de puro desconforto visual, refletindo o estado emocional da comunidade.

A ambientação opressora, reforçada pela direção de arte minimalista e figurinos rústicos, cria um cenário sufocante e claustrofóbico, mesmo em meio à vastidão rural. É a representação de uma vila encurralada não apenas por invasores, mas por suas próprias crenças, medos e estruturas ultrapassadas.

Caleb Landry Jones e Harry Melling: performances viscerais

O elenco do filme é um dos grandes trunfos do longa. Caleb Landry Jones, conhecido por suas escolhas ousadas e atuação intensa, entrega uma performance contida, mas profundamente carregada de angústia existencial. Walter, seu personagem, é um homem dividido entre a lealdade à terra e o incômodo com as injustiças que testemunha. Seu olhar vagaroso e seus gestos inseguros dizem tanto quanto qualquer linha de diálogo.

Harry Melling, por sua vez, compõe um Charles Kent ambíguo — um senhor que, mesmo posicionado entre os poderosos, mostra-se vulnerável diante do colapso iminente. O contraste entre os dois atores — o camponês silencioso e o senhor desorientado — simboliza o conflito entre a terra e o poder, entre o passado e o que está por vir.

Completam o elenco nomes como Rosy McEwen, Arinzé Kene, Thalissa Teixeira e Frank Dillane, todos em interpretações densas que refletem a coletividade do drama. Aqui, não há heróis nem vilões absolutos, apenas humanos tentando sobreviver a um tempo de rupturas.

Da literatura ao cinema: adaptação sensível

A adaptação do romance de Jim Crace foi assinada pela própria Tsangari em parceria com Joslyn Barnes, e traduz com fidelidade o espírito da obra original. A narrativa se desdobra com cadência lenta e reflexiva, o que pode exigir paciência do espectador, mas oferece recompensas profundas para quem se entrega ao ritmo e à proposta do filme.

O roteiro evita excessos expositivos e opta por deixar lacunas — nomes de lugares, datas ou detalhes históricos nunca são plenamente revelados, criando um tempo-espaço mítico que reforça a universalidade da fábula. Essa escolha estética e narrativa remete a outros grandes nomes do cinema autoral europeu e posiciona A Colheita como uma obra que transcende seu cenário histórico.

Onde assistir?

A produção estreia com exclusividade na MUBI. O streaming, que oferece curadoria especializada em cinema independente e autoral, traz o filme em seu catálogo como parte de sua programação contínua de estreias globais. A MUBI está disponível via navegador, aplicativos para Smart TV, Android, iOS e dispositivos como Roku, Fire TV e Apple TV. Assinantes da plataforma poderão assistir ao filme sem custo adicional.

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