Twinless | Dylan O’Brien e James Sweeney estrelam drama LGBTQIA+ polêmico e intenso que conquistou Sundance 2025

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Foto: Reprodução/ Internet

Algumas histórias não se contentam em apenas entreter — elas chegam para cutucar feridas, provocar conversas e deixar uma marca duradoura na audiência. Twinless, novo drama LGBTQIA+ protagonizado por Dylan O’Brien e James Sweeney, é uma dessas obras. Com estreia marcada para 5 de setembro nos cinemas dos Estados Unidos, o filme já chega cercado de expectativa, elogios e polêmicas, após ter se tornado um dos títulos mais comentados do Festival de Cinema de Sundance 2025.

Dirigido, roteirizado e coestrelado por James Sweeney, o longa mergulha nas zonas cinzentas da intimidade humana, onde luto, atração e segredos perigosos se misturam. Mas o que torna o filme tão diferente de outras produções do gênero não é apenas o tema — é a forma como ele encara a dor sem filtros e expõe o desejo sem concessões.

No coração da trama está Roman (Dylan O’Brien), um jovem que vê seu mundo desmoronar após a morte trágica de seu irmão gêmeo, Rocky — também interpretado por O’Brien, em um trabalho que exige entrega física e emocional para diferenciar duas personalidades tão próximas e, ao mesmo tempo, tão distintas. O acidente que tira a vida de Rocky é descrito como “bizarro”, e desde os primeiros minutos o público sente que há algo mais nessa história do que um simples infortúnio.

Buscando apoio para lidar com a perda, Roman se junta a um grupo de suporte para pessoas que, como ele, perderam seus gêmeos. É lá que conhece Dennis (James Sweeney), um jovem de humor ácido, intelecto afiado e comportamento ambíguo. Entre os dois, nasce uma conexão imediata — mas não necessariamente saudável. O que começa como uma relação de cumplicidade vai ganhando contornos de obsessão, sedução e, possivelmente, manipulação.

O roteiro não se preocupa em traçar linhas claras entre o que é amor, desejo ou dependência emocional. Em vez disso, convida o público a navegar junto com os personagens em um território desconfortável, onde vulnerabilidade e perigo caminham lado a lado.

Do herói adolescente ao drama adulto

Para muitos, Dylan O’Brien ainda é o rosto do carismático Stiles de Teen Wolf ou do determinado Thomas na trilogia Maze Runner. Mas quem acompanha sua trajetória percebe que o ator vem buscando papéis cada vez mais maduros e arriscados.

Em Twinless, O’Brien se afasta de qualquer resquício de zona de conforto. Ao interpretar tanto Roman quanto Rocky, ele explora contrastes sutis: um é reservado, contido e introspectivo; o outro, extrovertido e imprevisível. A dualidade exige um trabalho corporal preciso, mudanças de postura e até de ritmo de fala para que o público acredite estar diante de dois indivíduos reais.

Além disso, o ator encara cenas de intimidade explícita com coragem e entrega raramente vistas em astros de sua geração. Essa ousadia não passou despercebida: em Sundance, O’Brien recebeu o prêmio de Melhor Atuação, consolidando o filme como um marco em sua carreira.James Sweeney: criando e vivendo Dennis

James Sweeney não é apenas o parceiro de cena de O’Brien — ele é o cérebro por trás de Twinless. Assinando roteiro e direção, o cineasta e ator já havia conquistado a crítica com Almas Gêmeas (Straight Up), mas aqui mergulha em um território mais sombrio e sensual.

Dennis, seu personagem, é uma figura magnética, daquelas que você não sabe se quer abraçar ou manter à distância. Ele é espirituoso e sedutor, mas também carrega uma inquietante aura de segredos. Sweeney constrói esse perfil com delicadeza, nunca deixando claro quais são as verdadeiras intenções do personagem, o que alimenta o suspense até o final.

Em entrevistas, o diretor afirmou que seu objetivo era “explorar o que acontece quando a atração e o trauma se entrelaçam, criando um tipo de ligação que pode ser tanto cura quanto veneno”.

Um elenco que reforça o peso dramático

O elenco do drama areúne nomes que transitam entre o cinema independente e produções de grande apelo popular, criando uma mistura de experiências e estilos que se complementam. Dylan O’Brien (Maze Runner, Teen Wolf, Amor(es) Verdadeiro(s)) assume o duplo desafio de viver Roman e Rocky, explorando nuances sutis entre os dois irmãos. James Sweeney (Almas Gêmeas) interpreta Dennis com uma presença enigmática e magnética, enquanto Aisling Franciosi (O Pintassilgo, The Nightingale) surge como Marcie, amiga próxima de Rocky que guarda mais informações do que aparenta.

Lauren Graham (Gilmore Girls, Parenthood) entrega uma atuação contida, mas emocionalmente potente como a mãe dos gêmeos. Já Tasha Smith (Empire, Why Did I Get Married?) traz força e franqueza à conselheira Charlotte, enquanto Chris Perfetti (Abbott Elementary), François Arnaud (Os Bórgias), Susan Park (Fargo, Snowpiercer) e Cree Cicchino (Mr. Iglesias, That ’90s Show) completam o conjunto, enriquecendo o drama com participações marcantes.

Filmado com intimidade e melancolia

Rodado em Portland, Oregon, durante o segundo semestre de 2024, o longa-metragem se beneficia do clima úmido e das paisagens cinzentas da cidade. Ruas vazias, luzes frias e interiores claustrofóbicos compõem um cenário que reflete o estado emocional dos personagens. O uso da câmera é propositalmente íntimo: muitos enquadramentos fechados nos rostos, respirando junto com os atores, capturam cada hesitação, cada olhar e cada silêncio desconfortável. É um filme que, visualmente, não grita — ele sussurra e deixa o desconforto crescer aos poucos.

O que “Twinless” representa no cinema LGBTQIA+

O cinema queer já percorreu um longo caminho — de personagens marginalizados a protagonistas complexos que não precisam servir como exemplos perfeitos. O longa é herdeiro dessa evolução, recusando-se a oferecer uma história “limpa” ou moralmente reconfortante.

Aqui, o amor não é necessariamente redentor. Ele pode ser confuso, contraditório e até perigoso. Ao colocar dois homens no centro de uma relação carregada de desejo e desconfiança, o filme desafia a ideia de que a representatividade LGBTQIA+ precisa vir sempre embrulhada em mensagens positivas. Essa abordagem, no entanto, não é gratuita. Ela questiona até que ponto estamos preparados para ver histórias queer tão imperfeitas quanto as heterossexuais, sem que isso seja usado como justificativa para preconceito.

Prêmios e caminho até as salas de cinema

Além do prêmio de Melhor Atuação para O’Brien, o filme levou para casa o Prêmio do Público na Competição Dramática dos Estados Unidos em Sundance — um feito significativo para um filme independente com conteúdo tão ousado. A distribuidora Republic Pictures prepara a campanha de lançamento nos EUA para setembro, mirando não apenas o público LGBTQIA+, mas também cinéfilos que buscam dramas intensos e autorais. No Brasil, ainda não há data confirmada, mas o burburinho crescente nas redes sociais indica que a estreia por aqui é questão de tempo.

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