
Neste domingo, 17 de agosto, a TV Globo exibe no Domingo Maior o filme Luta por Justiça, uma produção norte-americana de 2019 que traz à tona uma história real de coragem, resiliência e denúncia contra as injustiças de um sistema marcado pelo racismo estrutural. Dirigido por Destin Daniel Cretton, o longa é estrelado por Michael B. Jordan, Jamie Foxx e Brie Larson, nomes de peso de Hollywood que emprestam suas vozes e emoções para uma narrativa que ultrapassa as telas e ecoa diretamente nas lutas sociais da atualidade.
O drama jurídico acompanha a trajetória do jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan), que, recém-formado em Harvard, decide dedicar sua carreira à defesa de pessoas condenadas injustamente. Ao fundar a organização Equal Justice Initiative, no estado do Alabama, Stevenson se depara com o caso de Walter “Johnny D.” McMillian (Jamie Foxx), um homem negro condenado à morte em 1987 pelo assassinato de uma jovem branca, apesar da ausência de provas concretas e da existência de evidências que comprovavam sua inocência.
O longa é baseado no livro de memórias escrito pelo próprio Bryan Stevenson, e sua adaptação para o cinema não apenas retrata um episódio marcante da história judicial dos Estados Unidos, como também abre espaço para reflexões universais sobre racismo, desigualdade social, poder político e a importância da esperança diante do desespero.

Uma história real que expõe feridas profundas
O caso de Walter McMillian não é apenas um episódio isolado: ele é reflexo de uma realidade vivida por milhares de pessoas negras nos Estados Unidos — e também em diversos outros países — que enfrentam desigualdade, preconceito e julgamentos injustos.
Nos anos 1980, o Alabama era um dos estados mais severos em relação à pena de morte. Homens negros eram frequentemente condenados com base em testemunhos frágeis ou forjados, e os promotores se apoiavam em estereótipos raciais para convencer jurados predominantemente brancos.
Foi nesse cenário que Walter McMillian, um trabalhador humilde e respeitado em sua comunidade, foi acusado e condenado pelo assassinato de Ronda Morrison, uma jovem branca. A acusação se baseava exclusivamente no testemunho de Ralph Myers (interpretado no filme por Tim Blake Nelson), um criminoso que, pressionado pela polícia e pela possibilidade de reduzir sua própria pena, mentiu em tribunal.
O que se vê em “Luta por Justiça” é um retrato angustiante da fragilidade do sistema judicial quando atravessado por preconceitos raciais. Stevenson, com sua determinação e idealismo, enfrenta não apenas o peso das instituições jurídicas, mas também a resistência de uma sociedade que, em grande parte, já havia condenado McMillian antes mesmo de qualquer julgamento justo.
O peso da injustiça e o papel da esperança
O filme é intenso e carregado de emoção porque não se limita ao aspecto jurídico. Ele mergulha na dor humana: a dor de Walter, que vê sua vida e sua família destruídas por uma acusação injusta; a dor de outros prisioneiros no corredor da morte, que, mesmo culpados, enfrentam a agonia psicológica da espera pela execução; e a dor de Bryan Stevenson, que precisa lidar com ameaças, pressões e a descrença de muitos ao decidir enfrentar um sistema que parecia imutável.
Apesar disso, a narrativa não é de puro desespero. O filme mostra que a esperança pode resistir mesmo nos cenários mais sombrios. A relação construída entre Stevenson e McMillian, marcada pelo respeito e pela confiança mútua, revela o poder do afeto e da solidariedade. O longa também dá voz a familiares e amigos que não desistiram de lutar, mesmo diante da hostilidade da sociedade e da apatia da justiça.
Esse equilíbrio entre dor e esperança transforma o filme em um poderoso chamado para a ação. O espectador não sai ileso: é impossível não refletir sobre quantas outras pessoas, ao redor do mundo, ainda sofrem por erros judiciais que poderiam ser evitados com investigações sérias, julgamentos imparciais e, acima de tudo, respeito à dignidade humana.

Atuações que dão vida à verdade
Michael B. Jordan, conhecido por papéis em “Creed” e “Pantera Negra”, apresenta aqui uma atuação contida, mas carregada de força. Seu Bryan Stevenson não é um herói estereotipado, mas um jovem advogado que enfrenta seus próprios medos enquanto tenta fazer a diferença. Jordan transmite a coragem silenciosa de alguém que acredita profundamente na justiça, mesmo quando tudo parece conspirar contra.
No papel de Walter McMillian, Jamie Foxx oferece talvez uma das atuações mais impactantes de sua carreira. Indicado a prêmios importantes, Foxx consegue traduzir o desespero, a raiva e a dignidade de um homem injustiçado que, apesar de tudo, insiste em acreditar que sua verdade será ouvida.
Já Brie Larson, vencedora do Oscar por “O Quarto de Jack”, interpreta Eva Ansley, parceira de Stevenson na Equal Justice Initiative. Embora em um papel mais discreto, Larson traz humanidade e empatia, reforçando a importância do trabalho coletivo na luta por justiça.
Bastidores e recepção
A produção do filme começou em 2015, quando o diretor Destin Daniel Cretton foi convidado para adaptar o livro de Stevenson. Conhecido por trabalhos sensíveis e humanos, Cretton imprimiu ao longa um ritmo envolvente, que equilibra momentos de tensão judicial com pausas emocionais que permitem ao espectador respirar e refletir.
O filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2019, e rapidamente chamou a atenção da crítica pela relevância de seu tema e pela força das atuações. Lançado oficialmente em dezembro do mesmo ano nos Estados Unidos, conquistou público e crítica, arrecadando US$ 50,4 milhões nas bilheteiras mundiais, mais que o dobro de seu orçamento de US$ 25 milhões.
A relevância de Luta por Justiça no Brasil de hoje
O Brasil, assim como os Estados Unidos, também convive com altos índices de desigualdade racial dentro do sistema de justiça. Diversos estudos apontam que pessoas negras têm mais chances de serem presas, condenadas injustamente e receberem penas mais severas do que pessoas brancas acusadas dos mesmos crimes.
Ao acompanhar a luta de Bryan Stevenson e Walter McMillian, o público brasileiro pode enxergar paralelos com a realidade nacional. Quantos “McMillians” existem em presídios brasileiros, aguardando por um julgamento justo que muitas vezes nunca chega? Quantos advogados, juízes e defensores públicos seguem a mesma coragem de Stevenson, enfrentando estruturas viciadas em busca de equidade?
















