
Trabalhar junto com parentes pode ser tanto desafiador quanto gratificante. O programa Globo Repórter, nesta sexta-feira, 29, convida o público a conhecer histórias de brasileiros que transformaram os laços familiares em parcerias profissionais. Pais, filhos, irmãos e até tios compartilham rotinas de trabalho, mostrando que o convívio diário com quem se ama pode fortalecer vínculos, criar aprendizado mútuo e gerar conquistas que vão muito além do aspecto financeiro.
Das ruas movimentadas de São Paulo às pequenas cidades do interior, passando por estádios de futebol, alambiques seculares e cafés modernos, essas histórias revelam como o amor, a vocação e a tradição podem caminhar juntos no cotidiano profissional.
Música e paixão: Luiz, Vitória e Carol na Galeria do Rock
No centro de São Paulo, a Galeria do Rock é um verdadeiro templo da música, e uma loja familiar se destaca entre tantas outras. Luiz Calanca, hoje com 72 anos, abriu seu negócio em 1978, inspirado por sua paixão por discos de vinil. Na época, trabalhava como atendente de farmácia e sonhava em ter um espaço próprio para compartilhar música com outros fãs.
Vitória, sua esposa, largou a carreira corporativa para ajudar o marido e, até hoje, mantém-se ao seu lado no trabalho diário. A filha Carol cresceu nesse ambiente musical e também se envolveu com a loja, aprendendo desde cedo os segredos do comércio e o valor da dedicação.
“Sem elas, certamente a loja não teria prosperado”, diz Luiz, emocionado. Para Carol, trabalhar com os pais vai além do negócio: é um aprendizado contínuo e uma oportunidade de preservar um legado familiar. Entre vinis antigos e clientes apaixonados por rock, essa família mostra que paixão compartilhada gera união e sucesso.

Sirenes e coragem: a família de bombeiros do Rio Grande do Sul
No sul do país, o som que marca a rotina de trabalho é o da sirene. Antonio Carlos Oliveira da Silva, tenente aposentado do Corpo de Bombeiros Militar, inspirou os filhos David e Guilherme a seguir seus passos.
Os irmãos já atuaram juntos em diversas ocorrências, incluindo enchentes que atingiram o estado recentemente. “Trabalhar com meu irmão é um apoio constante. Nos momentos difíceis, a força que recebemos um do outro faz toda a diferença”, afirma David. O exemplo de Antonio também motivou o primo, que hoje integra a equipe.
Para essa família, o trabalho em conjunto não é apenas uma escolha profissional, mas uma forma de compartilhar experiências, enfrentar riscos e reforçar os laços emocionais. Cada resgate, cada ocorrência, se torna uma oportunidade de aprender, apoiar e crescer lado a lado.

Futebol e determinação: mãe e filho árbitros no Amazonas
No norte do país, o futebol une mãe e filho de maneira única. Noelia Chaves da Paixão e Hugo Chaves da Paixão são árbitros profissionais, atuando em campeonatos estaduais e nacionais. Originários de Borba, no interior do Amazonas, eles vivem atualmente em Manaus e enfrentaram desafios significativos para chegar até onde estão.
Noelia precisou superar preconceitos de gênero e idade para iniciar sua carreira. “Quando cheguei a Manaus, precisei começar do zero. Deixei meu filho com a avó e fiz o curso de arbitragem. Foi difícil, mas sabia que valeria a pena”, conta. Hoje, mãe e filho compartilham a mesma profissão e, muitas vezes, trabalham na mesma partida.
Hugo destaca que observar a mãe superar obstáculos e seguir seu sonho foi inspirador. “Estar ao lado dela no campo é motivo de orgulho. Ela me ensinou que persistência e coragem são fundamentais para qualquer conquista.”
Tradição em gerações: o alambique mineiro de Francisco e João
Em Minas Gerais, a tradição se mistura à juventude em Coronel Xavier Chaves, onde o Engenho Boa Vista produz cachaça há mais de 300 anos. Francisco, 28 anos, e João, 23, representam a nova geração que mantém vivo o legado familiar. Ao lado do pai, Seu Nando, de 63 anos, e do avô, Seu Rubens, de 92, os irmãos trabalham diariamente para preservar técnicas e receitas transmitidas ao longo de nove gerações.
“Ver esses meninos seguindo a história da família é uma alegria enorme. É a nossa tradição continuando”, diz Seu Rubens, emocionado. Cada etapa da produção, do cuidado com a fermentação à escolha dos barris, é uma lição de paciência, dedicação e respeito ao ofício. Para Francisco e João, trabalhar com familiares é mais do que uma rotina: é preservar uma identidade e manter viva a memória da família.
Gastronomia e afeto: João Gabriel e a mãe Alba
Em Brasília, João Gabriel criou um café com um objetivo especial: ter a mãe Alba por perto. Natural de Alto Parnaíba, no Maranhão, Alba retornou à cidade natal após superar um câncer de mama, e se uniu ao filho no empreendimento. Com a ajuda de um tio, João estruturou o negócio, que hoje conta com oito unidades e cerca de 150 funcionários.
“Trabalhar com meu filho me dá energia e alegria. Cada conquista dele é minha também”, afirma Alba. Para João, a parceria é mais do que comercial: é uma oportunidade de compartilhar experiências, celebrar a vida e aprender com a força e resiliência da mãe. O café tornou-se um espaço de afeto, criatividade e dedicação, onde cada receita e cada atendimento refletem o vínculo familiar.
O equilíbrio entre desafio e recompensa
Essas histórias mostram que trabalhar em família envolve desafios únicos: administrar conflitos, equilibrar papéis, dividir responsabilidades e manter o profissionalismo mesmo em momentos de tensão. No entanto, os benefícios são claros: confiança, apoio emocional, aprendizado mútuo e transmissão de valores e tradições.
Seja na loja de discos de Luiz e Carol, nas ocorrências de Antonio e seus filhos, nos campos de futebol com Noelia e Hugo, no alambique de Francisco e João, ou no café de João Gabriel e Alba, cada experiência comprova que o trabalho em família pode transformar o cotidiano em aprendizado, união e realização pessoal.
















