
Na estreia da nova temporada do Repórter Record Investigação, exibida nesta segunda-feira, 1º de setembro de 2025, a equipe viaja até a Alemanha para revelar uma história que impressiona e emociona: a vida de George Legmann, brasileiro que nasceu em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Com 80 anos, George carrega lembranças de sofrimento e coragem, mas também a força de quem reconstruiu a própria vida longe da barbárie que marcou seus primeiros dias. “Eu sempre me pergunto: por que eu sobrevivi? No Holocausto, crianças raramente sobreviviam”, confessa, com a voz carregada de emoção e incredulidade diante de seu destino.
A trajetória de George começa em 1944, quando sua família, de origem judia, foi deportada da Romênia para a Alemanha. Sua mãe, grávida, chegou a considerar o aborto, temendo que nem ela nem o bebê sobrevivessem. “Ela não sabia se ia resistir, mas decidiu lutar pelo bebê. Essa decisão salvou minha vida”, lembra sua esposa, Irene Legmann. A família foi levada para Dachau, o primeiro campo de trabalho forçado da Alemanha, que se tornaria símbolo da brutalidade nazista. Lá, prisioneiros de diversas nacionalidades eram submetidos a condições extremas de fome, frio, doenças e trabalho exaustivo, sob constante ameaça de punições arbitrárias. “Ele nasceu prisioneiro, mas também carregou esperança desde o primeiro suspiro”, afirma a historiadora alemã Edith Raim, especialista em Holocausto.
Dentro do complexo de Dachau, havia campos satélite, como Kaufering, conhecidos por suas condições ainda mais desumanas. O repórter André Tal visitou cabanas parcialmente preservadas, observando o ambiente mínimo, superlotado e insalubre onde os prisioneiros viviam. “Dachau abrigou cerca de 200 mil pessoas, de 14 nacionalidades diferentes. Mais de 41 mil morreram aqui e nos campos satélite”, explica Gabriele Hammermann, diretora do Memorial do Campo de Concentração de Dachau. Foi nesse cenário de desespero que a vida insistiu em se manifestar: sete mulheres conseguiram dar à luz dentro do campo, incluindo a mãe de George. “Esses sete bebês são os sobreviventes mais jovens da história dos campos de concentração”, ressalta Karl Freller, diretor da Fundação de Memoriais da Baviera.
O nascimento de George e dos demais bebês foi resultado de coragem, resiliência e solidariedade. Em condições extremas, essas mães lutaram para proteger a vida que carregavam, enfrentando frio, fome, doenças e o constante risco de violência. A solidariedade foi vital: quando a mãe de Leslie Rosenthal, outro bebê nascido em Dachau, ficou doente após o parto, a mãe de George decidiu amamentar o menino. “Sempre que encontro Leslie, lembramos de nossas mães e recontamos a história para que as novas gerações conheçam o que aconteceu”, conta George. Esse gesto de cuidado transformou-se em um vínculo que perdura há décadas, evidenciando que, mesmo no terror absoluto, a humanidade pode florescer.
Sobreviver em Dachau exigia resistência física e mental extraordinária. A rotina era marcada por trabalhos forçados, castigos cruéis e escassez de alimentos. Qualquer fraqueza podia ser fatal, e as mulheres grávidas enfrentavam risco ainda maior. No entanto, a determinação dessas mães garantiu a sobrevivência dos filhos e criou uma narrativa de esperança em meio à destruição. Para George, a lembrança da mãe não é apenas memória, mas inspiração para a própria vida. “Ela me deu a vida em um lugar onde a morte era a regra. Isso me ensinou a lutar, a valorizar cada momento e a não desistir diante das dificuldades”, afirma.
Após a libertação do campo, George e sua família enfrentaram o desafio de reconstruir suas vidas do zero. Grande parte de seus familiares havia sido morta ou estava espalhada pelo continente, e o trauma psicológico era profundo. Foi nesse contexto que o Brasil se tornou a nova pátria. “O Brasil nos acolheu e nos deu a chance de viver novamente, longe da violência e do medo. Para minha família, foi a oportunidade de respirar liberdade”, lembra George. A adaptação a um país estrangeiro exigiu aprender um novo idioma, compreender novas culturas e reconstruir vínculos afetivos, mas também representou esperança, segurança e a chance de um futuro digno.
A história de George transcende a sobrevivência: ela é um legado de memória, resistência e educação. Ao compartilhar sua experiência em escolas, universidades e eventos culturais, George busca transmitir lições de humanidade, coragem e resiliência. “É fundamental que as novas gerações compreendam que o ódio e a intolerância podem destruir vidas. Minha história serve de alerta e inspiração ao mesmo tempo”, enfatiza. Cada relato sobre Dachau, Kaufering e os campos satélite torna-se uma ferramenta de aprendizado, ajudando a preservar a memória histórica e a conscientizar sobre os perigos do preconceito e da discriminação.
Além de sobrevivente, George se tornou símbolo de esperança. O vínculo com outros bebês nascidos em Dachau, como Leslie Rosenthal, mostra que mesmo em situações extremas, a solidariedade humana pode criar laços que atravessam gerações. Hoje, George vive cercado pela família que construiu no Brasil, mas mantém viva a lembrança das mães que lutaram para proteger seus filhos e daqueles que não tiveram a mesma sorte. Cada gesto de cuidado e coragem transforma-se em legado, mostrando que a vida pode prevalecer mesmo nos momentos mais sombrios.
O Repórter Record Investigação cumpre um papel essencial ao revisitar esses locais e trazer relatos de sobreviventes para o público. Mais do que imagens históricas, o programa oferece histórias emocionantes e humanas, capazes de gerar reflexão sobre o passado e inspirar atitudes de empatia e solidariedade no presente. George Legmann representa a resistência da vida frente à destruição, a força da solidariedade e a importância de preservar a memória histórica.
Ao refletir sobre sua trajetória, George deixa uma mensagem clara: “Contar minha história é um dever. Espero que inspire, eduque e fortaleça todos que a conhecem. Que ela seja lembrada e transmitida para que o mundo nunca esqueça o que aconteceu”. Sua vida é prova de que, mesmo diante do impossível, a esperança pode florescer, a solidariedade pode surgir e a humanidade pode reconstruir sua própria história, transformando dor em legado e lembrança em lição.
A narrativa de George Legmann não é apenas sobre sobrevivência em um campo de concentração. É também sobre reconstrução, coragem, memória e humanidade. É a prova de que, mesmo nos cenários mais cruéis, a vida encontra uma maneira de se afirmar, que gestos de amor e solidariedade resistem ao ódio e que as histórias de resistência podem inspirar gerações futuras. Por meio de relatos como o de George, o Repórter Record Investigação cumpre seu papel de trazer à luz histórias que precisam ser contadas, lembradas e repassadas.





