Nesta quinta-feira, 4 de setembro, O Retorno chega aos cinemas brasileiros, trazendo uma releitura intensa e humana da última etapa da clássica obra de Homero, A Odisseia. O filme marca um momento especial para a distribuidora O2 Play, braço da O2 Filmes, que lança pela primeira vez um longa internacional em cópias dubladas e legendadas, permitindo que o público escolha como deseja vivenciar a experiência.

O destaque do elenco fica por conta da reunião de Ralph Fiennes e Juliette Binoche, que contracenam juntos quase 30 anos após o sucesso de “O Paciente Inglês”, filme que rendeu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante a Binoche. A dupla, porém, já havia compartilhado as telas em “O Morro dos Ventos Uivantes”, em 1992, consolidando uma parceria que atravessa décadas.

Um retorno marcado pelo tempo e pelo trauma

Dirigido por Uberto Pasolini, conhecido por trabalhos como Ou Tudo ou Nada e Bel Ami – O Sedutor, o longa acompanha Odisseu retornando a Ítaca depois de vinte anos longe, após a guerra de Troia. Ele encontra um reino em ruínas, com pretendentes disputando a mão de sua esposa, Penélope, e ameaçando a vida de seu filho, Telêmaco.

Distante e abalado, Odisseu aparece nu nas praias de sua terra natal, simbolizando a vulnerabilidade de um homem marcado pela guerra. Ele é cuidado por aliados fiéis, Eumeu e Iias, que testemunharam o declínio da ilha enquanto ele lutava fora. A produção aposta em uma abordagem mais humanizada, evitando a presença de deuses ou criaturas míticas, e foca nas cicatrizes físicas e psicológicas do protagonista.

Penélope e Telêmaco: força e resistência diante do caos

Enquanto Odisseu retorna, Penélope lida com a pressão incessante dos pretendentes, que acreditam na morte do marido e desejam tomar o poder. Ela se mantém firme, tecendo a mortalha de seu sogro e recusando-se a se casar antes que a peça esteja pronta, simbolizando resistência, inteligência e paciência.

Telêmaco, por sua vez, enfrenta ameaças de morte enquanto tenta proteger a mãe e manter a integridade de seu lar. A relação entre pai e filho é um dos elementos centrais do filme, revelando dor, ressentimento e eventual reconciliação, mostrando que mesmo heróis lendários precisam lidar com conflitos familiares e responsabilidades.

Testes de coragem e identidade

Uma das cenas mais memoráveis é o reencontro de Odisseu com seu cão, Argos, que reconhece o dono após anos de espera e morre, reforçando a passagem do tempo e a perda. Disfarçado como um velho soldado, Odisseu é humilhado pelos pretendentes, mas demonstra inteligência e força ao derrotar um adversário e manter sua identidade em segredo.

A descoberta de sua verdadeira identidade por Euricléia, ama fiel da família, adiciona emoção e tensão, confirmando que lealdade e memória são temas fundamentais da narrativa. A presença de Telêmaco ao lado do pai nas cenas de combate reforça o aprendizado e a maturidade do jovem, que testemunha o poder, mas também a responsabilidade de um governante.

A prova do arco e a retomada do trono

O ponto alto do filme ocorre quando Penélope propõe um desafio aos pretendentes: apenas aquele capaz de encordoar o arco de Odisseu e disparar flechas com precisão terá direito à sua mão. Nenhum consegue, abrindo caminho para o retorno triunfante do rei. Odisseu demonstra coragem, habilidade e liderança, eliminando os pretendentes enquanto seus aliados impedem qualquer fuga.

Essa sequência combina ação e emoção, reforçando a reconstrução da ordem em Ítaca e o reencontro do herói com sua família. A tensão dramática entre Odisseu e Telêmaco, que inicialmente questiona o abandono do pai, é resolvida através de diálogo, compreensão e perdão, oferecendo uma das passagens mais humanas do longa.

Uma direção sensível e uma narrativa intimista

Uberto Pasolini equilibra ação e introspecção com maestria, evitando excessos visuais e concentrando-se na experiência emocional dos personagens. O roteiro, escrito por John Collee e Edward Bond, privilegia diálogos e cenas que exploram o trauma da guerra, a lealdade familiar e a reconstrução de laços.

A cinematografia é outro ponto alto, capturando a beleza áspera das praias de Ítaca e o contraste entre o luxo decadente do palácio e a simplicidade da vida cotidiana. Cada enquadramento reforça a passagem do tempo e a intensidade das emoções, enquanto a trilha sonora intimista contribui para imergir o público na narrativa.

Reflexões sobre guerra, poder e família

O Retorno provoca reflexões sobre os efeitos da guerra, as marcas deixadas pelo poder e a importância da família e da identidade. Odisseu, vulnerável e humano, mostra que até heróis enfrentam perdas e traumas, enquanto Penélope simboliza resistência e inteligência diante das pressões externas.

O filme também destaca a jornada de Telêmaco, que precisa compreender seu papel e responsabilidade dentro do legado familiar. Essa narrativa moderna e humanizada transforma o épico grego em uma história universal sobre coragem, lealdade e reconciliação.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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