Em Segredos sob a Terra, Stefany Borba se aventura em um território que mistura suspense, drama familiar e thriller investigativo, mas a obra nem sempre alcança a complexidade emocional que promete. Publicado pela Trend Editora, o romance tenta explorar memórias dolorosas e segredos ancestrais, mas em alguns momentos a densidade das tramas paralelas compromete o ritmo, tornando a leitura um desafio para quem busca tensão constante.

O enredo central acompanha Maria Isabel, ou Bel, uma jovem que retorna à casa da avó recém-falecida e se depara com um legado inesperado: o antigo jardim da família esconde mais do que lembranças afetivas. Entre cartas, fotografias e objetos esquecidos, Bel percebe que a morte da avó não encerrou os mistérios familiares, mas abriu portas para segredos sombrios e traumas que atravessam gerações. A premissa é promissora, mas em alguns momentos a narrativa se apoia demais no clichê do “segredo familiar enterrado”, sem inovar suficientemente no tratamento psicológico das personagens.

Borba constrói sua história como um quebra-cabeça emocional, e é justamente nesse ponto que o livro alterna entre acertos e tropeços. A autora consegue criar momentos de tensão e suspense real, especialmente ao descrever crimes antigos de Itapetininga e o reaparecimento de corpos sob a terra, evocando medo e apreensão na comunidade. Entretanto, certas passagens revelam-se previsíveis: o leitor atento consegue antecipar alguns desdobramentos, o que reduz o impacto das reviravoltas.

O maior mérito de Segredos sob a Terra está no retrato das três gerações femininas — avó, mãe e neta — e na maneira como Borba tenta mostrar a transmissão de traumas, expectativas e silêncios entre mulheres. A autora demonstra sensibilidade ao abordar luto, perdão e legado emocional, mas, por vezes, o peso simbólico dessas relações se sobrepõe à ação narrativa, tornando o ritmo desigual. Ainda assim, para leitores interessados na complexidade das relações familiares, esses trechos oferecem reflexão pertinente sobre como o passado influencia identidades e escolhas.

No plano estilístico, Stefany Borba alterna momentos de delicadeza e brutalidade em sua escrita. A descrição de pequenos detalhes — uma fotografia antiga, um olhar desconfiado, uma lembrança esquecida — cria tensão, mas o excesso de introspecção pode arrastar a narrativa, prejudicando a fluidez do thriller. A obra tenta equilibrar mistério, drama e crítica social, mas nem sempre consegue fazer essa fusão de forma homogênea, o que pode gerar uma experiência desigual para o leitor mais exigente.

Ainda assim, Segredos sob a Terra entrega cenas de impacto emocional genuíno. O confronto de Bel com o legado da avó e os segredos da cidade cria momentos de reflexão sobre memória, violência e luto, tornando o livro mais do que um simples thriller. Borba consegue instigar a empatia e a curiosidade, mesmo quando o ritmo vacila, mostrando que os segredos familiares — por mais enterrados que estejam — têm uma força capaz de moldar vidas e emoções.

Por fim, Segredos sob a Terra é uma obra que mescla tensão e drama, com pontos altos no desenvolvimento das personagens femininas e na construção de uma atmosfera carregada de mistério. Porém, tropeça em certas convenções do gênero e em passagens introspectivas que podem tornar a leitura desigual. Ainda assim, a proposta de explorar o impacto humano dos segredos familiares e o legado de traumas intergeracionais é relevante, oferecendo uma leitura interessante para quem busca thrillers psicológicos que vão além da investigação de crimes, mesmo que nem sempre chegue à profundidade prometida.

Avaliação geral
Nota do crítico
Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.
resenha-segredos-sob-a-terra-e-um-thriller-psicologico-que-desafia-expectativasSegredos sob a Terra, de Stefany Borba, é um thriller psicológico que mistura suspense, drama familiar e investigação. A história acompanha Maria Isabel, que retorna à casa da avó recém-falecida e descobre segredos sombrios enterrados no antigo jardim da família. O livro se destaca pelo retrato das três gerações femininas e pela exploração de traumas e legados emocionais, embora em alguns momentos a narrativa se torne previsível e introspectiva, prejudicando o ritmo. Apesar disso, Borba consegue criar tensão, empatia e reflexão sobre memória, luto e segredos familiares, tornando a obra uma leitura interessante para quem aprecia thrillers que vão além da investigação criminal.

COMENTE

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui