Conversa com Bial desta terça-feira (07/10) celebra 50 anos de carreira de Bob Wolfenson

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O Conversa com Bial desta terça-feira, 7 de outubro, recebe o fotógrafo Bob Wolfenson, que celebra meio século de carreira com o lançamento de seu novo livro e exposição, ambos intitulados “Exteriores”. Ao lado do editor literário Charles Cosac, o artista revisita sua trajetória e reflete sobre o olhar sensível e crítico que construiu ao longo de décadas dedicadas a registrar o Brasil e suas transformações.

Uma vida contada em imagens

Nascido em São Paulo, Bob Wolfenson iniciou sua carreira muito cedo, aos 16 anos, como assistente de fotografia na Editora Abril. Foram quatro anos de aprendizado intenso, cercado por câmeras, negativos e prazos apertados — um ambiente que despertou no jovem fotógrafo a fascinação pelo poder da imagem. Em 1974, decidiu seguir carreira solo como freelancer, produzindo retratos e reportagens para revistas técnicas da mesma editora.

As primeiras imagens, de empresários e ambientes industriais, ainda sem glamour, foram o embrião de um olhar que se tornaria referência pela autenticidade. “O que me interessava era o ser humano por trás da função, a vida que o olhar distraído não vê”, costuma dizer Bob.

Em 1978, ele abriu seu primeiro estúdio e ingressou no curso de Ciências Sociais, área que influenciaria profundamente sua forma de fotografar. A relação entre imagem e comportamento, estética e sociedade, tornaram-se temas centrais de sua obra.

A experiência em Nova York e o retorno transformador

Em 1982, Bob mudou-se para Nova York, onde trabalhou com o renomado fotógrafo Bill King. A vivência internacional o fez compreender a fotografia como linguagem artística e não apenas técnica. “Com o Bill aprendi que o retrato é um diálogo, uma troca. O fotógrafo precisa escutar antes de apertar o obturador”, recorda.

Ao retornar ao Brasil em meados da década de 1980, Wolfenson encontrou um país em transformação e um mercado de comunicação em plena efervescência. Começou a colaborar com revistas de moda e cultura, e rapidamente seu nome tornou-se sinônimo de elegância e profundidade visual.

Da moda ao nu artístico: uma revolução estética

Nos anos 1990, Bob se consolidou como um dos fotógrafos mais requisitados do país, tanto por editoriais quanto por campanhas publicitárias. Mas foi na Playboy Brasil que ele deixou uma marca definitiva. Ao tratar o nu feminino com sofisticação e narrativa visual, Bob rompeu com o padrão estético vigente e elevou o ensaio sensual à categoria de arte.

Ele fotografou nomes icônicos como Sônia Braga, Vera Fischer, Alessandra Negrini e Maitê Proença, sempre buscando retratar o corpo como expressão e não como objeto. “O nu, quando é verdadeiro, fala de vulnerabilidade, não de exposição. É o retrato da alma através da pele”, define o artista.

O olhar urbano e a consagração no MASP

A consagração artística veio em 1996, com a exposição “Jardim da Luz”, no Museu de Arte de São Paulo (MASP). A mostra retratava personagens do centro da cidade — trabalhadores, artistas de rua, transeuntes — e revelava a poesia contida no cotidiano urbano. O trabalho marcou a transição de Bob para a fotografia autoral, ao mesmo tempo em que consolidava seu papel como observador das contradições brasileiras.

Desde então, suas imagens passaram a integrar coleções de importantes museus e instituições culturais. Em 2004, apresentou a exposição “Antifachada – Encadernação Dourada”, no Museu de Arte Brasileira da FAAP, aprofundando sua investigação sobre aparência, identidade e invisibilidade social.

“Exteriores”: o Brasil em retratos e paisagens

No “Conversa com Bial”, Bob apresenta seu novo projeto, “Exteriores”, uma síntese de meio século de observação fotográfica. A exposição e o livro, ambos com curadoria e edição de Charles Cosac, reúnem retratos, paisagens e fragmentos urbanos capturados ao longo da vida. Mais do que uma retrospectiva, “Exteriores” é um diálogo entre o fotógrafo e o país que ele viu mudar.

“São fotos que nasceram do meu olhar para fora, mas falam muito sobre o que estava dentro de mim em cada momento. É um retrato do Brasil, mas também um autorretrato”, explica Bob durante a entrevista.

Charles Cosac, parceiro no projeto, destaca a coerência estética da obra: “O Bob é um cronista visual. Ele não apenas registra o tempo — ele o traduz em luz.”

Um artista inquieto e múltiplo

Além da fotografia artística, Wolfenson tem forte presença na publicidade, nas revistas de moda e nas artes visuais. É coeditor e cocriador da revista “S/N” (Sem Número) e atua como curador de fotografia do Movimento HotSpot, voltado à descoberta de novos talentos. Sua produção contemporânea continua a desafiar o olhar do público e a questionar o papel da imagem no mundo digital.

Mesmo com 50 anos de carreira, Bob mantém o espírito inquieto de quem ainda busca o inédito. “Fotografar é uma forma de continuar aprendendo. Cada rosto, cada paisagem, cada luz me ensina algo novo”, afirma.

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