
O Profissão Repórter desta terça-feira, 28 de outubro, apresenta uma investigação profunda sobre um fenômeno que vem transformando a economia e o comportamento social no Brasil: o mercado dos influenciadores digitais. Comandado por Caco Barcellos, o programa mergulha nas histórias de quem conseguiu fazer da internet uma fonte de renda — e também nas frustrações de quem ainda tenta encontrar espaço em meio à concorrência cada vez mais acirrada das plataformas digitais.
Um retrato do Brasil conectado
A edição mostra que, por trás dos vídeos bem produzidos, das parcerias com marcas e das vidas aparentemente perfeitas, há um universo repleto de trabalho, pressão, dívidas e expectativas frustradas. Segundo levantamento da pesquisadora Rosana Pinheiro Machado, cerca de 25 milhões de brasileiros tentam ganhar dinheiro com a internet, mas apenas uma pequena parcela consegue transformar seguidores em lucro real. O programa investiga quem está prosperando nesse cenário e quem acaba ficando pelo caminho.
Do luxo ao improviso: o contraste entre sonhos e realidade
Os repórteres Chico Bahia e Talita Marchiori mostram dois lados desse mesmo universo. De um lado, a influenciadora Lívia Brasil, que exibe nas redes uma vida de luxo, viagens internacionais e contratos publicitários. De outro, milhares de aspirantes a criadores que se inspiram em perfis como o dela, mas enfrentam barreiras para monetizar o conteúdo e manter o engajamento.
As reportagens revelam que, por trás da aparência de sucesso, muitos influenciadores vivem uma rotina exaustiva e enfrentam instabilidade financeira. A busca incessante por visibilidade gera uma cultura de comparação e ansiedade que atinge especialmente os jovens. “O público vê apenas o brilho das redes, mas por trás há um trabalho pesado e uma pressão diária para não ser esquecido pelo algoritmo”, explica Talita.
Pequenos negócios e o poder da internet
O programa também destaca casos de empreendedores reais que encontraram nas redes sociais um caminho para driblar o desemprego e recomeçar. O repórter Everton Lucas acompanha a história de Neli e Zé Iris, um casal da zona oeste de São Paulo que transformou a própria casa em uma pequena confeitaria, a Neli Doces.
Sem recursos para investir em publicidade tradicional, eles recorreram às redes para divulgar os bolos e sobremesas artesanais. O resultado foi surpreendente: o negócio ganhou visibilidade, e as encomendas começaram a chegar de todas as partes da cidade. O caso ilustra uma tendência nacional — segundo o Sebrae, sete em cada dez pequenos empreendedores brasileiros já dependem das redes sociais como principal meio de divulgação e venda.
“Nós nunca imaginamos que um vídeo mostrando o preparo de um bolo simples pudesse atrair tantos clientes”, conta Neli. “Hoje, é pelas redes que a gente se conecta com o público e garante nosso sustento.”
Jovens das periferias e o uso social da influência
Em São João de Meriti (RJ), o repórter André Neves Sampaio e o repórter cinematográfico Francisco Gomes apresentam o trabalho de Matheus Cauã, jovem de 22 anos que ensina moradores de comunidades a usar as redes sociais de forma profissional. Matheus oferece oficinas gratuitas sobre criação de conteúdo, marketing digital e educação financeira, ajudando outros jovens a divulgar serviços e conquistar independência.
“Eu percebi que muita gente tinha talento, mas não sabia como transformar isso em oportunidade. As redes podem ser uma ferramenta de transformação, não apenas de entretenimento”, afirma Matheus, que já formou dezenas de alunos.
O mercado de afiliados e os bastidores do lucro digital
Outra frente abordada pelo Profissão Repórter é o mercado de afiliados, um dos setores que mais crescem na economia digital brasileira. A repórter Danielle Zampollo acompanha um evento em São Paulo que reúne centenas de criadores de conteúdo, vendedores e especialistas em marketing de performance.
Nesse modelo, o criador divulga produtos de grandes marcas do e-commerce e ganha comissões por venda. O setor já conta com mais de 5 milhões de brasileiros cadastrados em plataformas de afiliação e movimenta bilhões de reais por ano.
Entre os entrevistados está o casal Fernanda Padula e Júnior Invernizzi, que transformou o hábito de gravar vídeos sobre utensílios domésticos em um negócio rentável. Com mais de 600 mil seguidores, eles mantêm uma rotina intensa de gravações e edição, chegando a trabalhar 16 horas por dia. Hoje, faturam cerca de R$ 15 mil mensais, mas garantem que o sucesso veio após anos de tentativa e erro.
“É uma profissão que exige dedicação constante. A gente precisa estar presente, criativo e conectado o tempo todo. Se parar, o público some, e o engajamento cai”, diz Fernanda.
A busca pelo sucesso e o preço da visibilidade
Ao longo da edição, o Profissão Repórter constrói um retrato realista do impacto das redes na vida de milhões de brasileiros. O programa revela que, para além do glamour, existe um cotidiano de instabilidade e trabalho invisível — um cenário em que o sucesso depende tanto de talento e disciplina quanto de sorte e oportunidade.
“Há uma ilusão de que basta ter carisma para enriquecer na internet, mas o que a gente vê é que a maioria precisa conciliar a criação de conteúdo com outros empregos. Poucos conseguem viver apenas disso”, explica Caco Barcellos.
A reportagem também levanta uma discussão importante: o papel da internet como instrumento de ascensão social e, ao mesmo tempo, de reprodução das desigualdades. Enquanto alguns criadores conseguem grandes contratos, outros seguem lutando para pagar as contas — tudo sob o mesmo filtro da tela.





