
Nem toda aventura precisa de tesouros ou batalhas épicas — algumas só precisam de um bule de chá e um pouco de caos romântico. Todo Pirata Quer Uma Colher de Chá é uma daquelas histórias que parecem ter nascido de uma conversa entre fãs de Our Flag Means Death e Café & Lendas, que se perguntaram: “E se piratas lésbicas também tivessem direito a uma comédia romântica de respeito?” O resultado é uma fantasia queer vibrante, engraçada e, por vezes, mais emotiva do que parece à primeira vista.
A trama acompanha Kianthe e Reyna, duas mulheres com uma missão aparentemente simples: encontrar ovos de dragão para garantir a paz na cidade de Tawney. Mas, como toda boa jornada literária, o destino decide complicar as coisas. Para conseguir as pistas que precisam, elas acabam envolvidas em uma caça completamente inesperada — atrás de Serina, uma ex-agricultora que virou pirata por pura teimosia (e fome de aventura, claro).
Ao lado delas está Bobbie, guarda leal e amiga de infância de Serina, que talvez ainda carregue um sentimento mal resolvido pela pirata. O trio improvável acaba preso em uma trama que mistura ação, romance e muitas trapalhadas emocionais. Enquanto o grupo tenta cumprir a missão original, o que realmente se desenrola é um naufrágio amoroso em câmera lenta, daqueles que a gente observa torcendo para que o barco (ou o coração) não afunde de vez.
O grande trunfo do livro está no tom espirituoso e afetuoso da narrativa. A autora não se leva tão a sério — e isso é ótimo. Os diálogos são rápidos, cheios de ironia e com aquele humor afiado que transforma até as situações mais absurdas em momentos de pura diversão. Mas, por trás das piadas e da estética “caótica e gay”, há uma história sincera sobre amizade, vulnerabilidade e autodescoberta.
Outro ponto forte é o ritmo cinematográfico. A narrativa flui como uma série de aventuras episódicas, repletas de criaturas mágicas, feitiços e confusões marítimas. É fácil imaginar cada cena em uma adaptação para streaming — entre duelos espirituosos e olhares que valem mais do que mil confissões.
Ainda assim, nem tudo é perfeito. O livro às vezes se perde nas próprias piadas, sacrificando a profundidade emocional em troca de um riso rápido. Algumas subtramas surgem e desaparecem antes de causar impacto, e há momentos em que o enredo parece mais preocupado em ser engraçado do que em desenvolver suas personagens. Mas nada disso impede que a leitura seja envolvente e, acima de tudo, divertida.
No fim, Todo Pirata Quer Uma Colher de Chá é sobre como o amor pode florescer mesmo em alto-mar, entre um saque mal planejado e uma xícara quente. É sobre tropeçar, rir e tentar de novo — porque, no fundo, o que as personagens procuram não é só dragões ou tesouros, mas um pouco de paz e pertencimento.
Com representatividade natural, carisma de sobra e um humor que desarma, o livro se destaca entre as fantasias românticas atuais por lembrar que o romance também pode ser bagunçado, leve e imperfeito — e ainda assim, profundamente humano.





