
Poucas séries dos últimos anos conseguiram traduzir, com tanta intensidade, o caos emocional da juventude quanto Euphoria. Desde que estreou na HBO, em 2019, a produção criada por Sam Levinson deixou de ser apenas um drama adolescente e se transformou em um espelho cultural. Seus personagens, suas dores e suas atmosferas invadiram timelines, ditaram tendências e, de alguma forma, marcaram a forma como falamos sobre saúde mental, identidade e vulnerabilidade. Agora, depois de anos de espera, incertezas e silêncio dos bastidores, a terceira temporada enfim concluiu suas gravações — e isso reacendeu algo que parecia adormecido no público.
A notícia veio de uma maneira quase tímida: um story no Instagram de Sydney Sweeney, intérprete da impulsiva e fraturada Cassie. Na foto, uma comemoração de encerramento, daquelas festas de “wrap” que marcam o fim das filmagens. Para qualquer outra série, seria apenas uma formalidade. Para Euphoria, virou praticamente um acontecimento. Depois de tantos adiamentos, a confirmação soou como um sopro de alívio, acompanhado de expectativa, nostalgia e um toque de ansiedade coletiva. As informações são do Omelete.
Um retrato emocional que marcou época
Quando Euphoria estreou, ninguém imaginava o impacto que ela teria. Adaptada de uma minissérie israelense, a produção encontrou um tom autoral, sensorial e profundamente íntimo ao abordar temas que sempre dominaram a adolescência — mas que raramente são tratados com franqueza. Drogas, transtornos emocionais, solidão, sexualidade, relacionamentos abusivos, violência e a eterna busca por pertencimento fizeram da série um terreno emocional conhecido por muitos e doloroso para outros tantos.
No centro disso tudo, Rue Bennett se tornou muito mais que a narradora da história. A interpretação de Zendaya elevou a personagem a um ícone cultural — não no sentido da perfeição, mas no da humanidade crua. Rue é falha, contraditória, sensível, destrutiva, esperançosa e perdida. Ela vive espirais de vício e negação, tenta se reencontrar e fracassa repetidas vezes, sem nunca deixar de ser, paradoxalmente, alguém com quem o público cria laços profundos.
Zendaya foi reconhecida por isso com prêmios como o Emmy e o Satellite Award, mas, para além das estatuetas, o que se consolidou foi um vínculo emocional entre público e personagem que raramente se vê em produções dessa escala.
Os personagens que extrapolaram a tela
Euphoria não se sustenta apenas em Rue. A série conseguiu criar um mosaico de personalidades que representam diferentes dores e tensões do amadurecimento. Jules (Hunter Schafer) trouxe uma abordagem sensível e sincera sobre identidade de gênero, além de representar amor, ruptura e autoconhecimento. Nate (Jacob Elordi) despertou discussões acaloradas sobre masculinidade tóxica. Maddy (Alexa Demie), com seu visual marcante e personalidade à flor da pele, virou símbolo de autoestima e enfrentamento, mesmo carregando suas próprias feridas.
Cassie, interpretada por Sydney Sweeney — e que agora retorna com destaque — tornou-se um estudo quase visceral sobre dependência emocional e a necessidade desesperada de ser amada. Kat (Barbie Ferreira) abriu debates sobre corpo, desejo e autoimagem. E Fez, papel de Angus Cloud, foi um dos personagens mais queridos pelo público, tanto pela autenticidade quanto pela ternura inesperada por trás de sua aparente dureza.
A perda de Angus Cloud, em 2023, tornou-se um dos momentos mais dolorosos para fãs e elenco. Além da comoção, a ausência dele deixa uma lacuna emocional na série — e ninguém sabe ainda como a narrativa lidará com isso.
A montanha-russa até chegar ao “gravando encerrado”
A terceira temporada enfrentou um caminho turbulento. Entre pandemia, reestruturações internas da HBO e agendas quase impossíveis — dado que praticamente todo o elenco principal explodiu em Hollywood —, a produção acumulou atrasos. Rumores também surgiram sobre conflitos criativos e possíveis mudanças no rumo da história. O projeto chegou a parecer paralisado, envolto em silêncio.
O que se sabe — e o que se suspeita — sobre a nova temporada
A HBO tem tratado a terceira temporada como um cofre lacrado. Nenhum detalhe oficial sobre a trama foi divulgado. Mas existe um consenso entre fãs e críticos de que a história deve acompanhar um salto temporal. A escola provavelmente ficará para trás. A vida adulta, com suas novas feridas e responsabilidades, deve assumir o protagonismo.
Essa transição também conversa com a realidade do elenco: todos cresceram, amadureceram, se tornaram figuras ainda mais complexas, famosas e disputadas. Não faria sentido seguir o mesmo cenário de três anos atrás.
A ausência de Fez será, sem dúvida, um ponto sensível. A maneira como a série lidará com isso — seja explicitando, seja omitiindo, seja ressignificando — já desperta curiosidade e, para muitos, temor.
Uma estética que virou linguagem
Falar sobre Euphoria é falar sobre estética — e não como algo superficial, mas como extensão emocional da narrativa. As cores saturadas, os brilhos, o neon em contraste com a sombra, as lentes que distorcem o real, a trilha sonora que pulsa como se estivesse dentro da pele. Tudo isso criou um vocabulário visual que se espalhou pela moda, pela publicidade, por videoclipes e até por festas temáticas ao redor do mundo.
Euphoria influenciou tendências de maquiagem, hairstyling, figurino e até atitudes. De certo modo, ela ensinou parte de uma geração a expressar emoções por meio da aparência — não por vaidade, mas por sobrevivência emocional.
Zendaya como bússola emocional
Mesmo com tantos núcleos importantes, é inevitável olhar para Rue como o eixo que mantém tudo em torno de si. Seu retorno é talvez a expectativa mais forte do público. Zendaya sempre falou com carinho e cuidado sobre a personagem, e já deixou claro em entrevistas anteriores que deseja explorar novas camadas de vulnerabilidade e reconstrução.
Se a segunda temporada foi marcada pelo caos, a terceira talvez mergulhe no que vem depois do caos — o cansaço, a tentativa de reerguer-se, a busca por estabilidade. Resta saber como Sam Levinson conduzirá isso, e até que ponto Rue conseguirá sustentar seu próprio peso emocional.





