Nesta quinta-feira, 20 de novembro, a Sessão da Tarde apresenta um dos filmes brasileiros mais vibrantes dos últimos anos: “Ó Paí, Ó 2”, sequência direta do clássico de 2007 que marcou a cultura popular ao retratar, com humor e afeto, a vida no Pelourinho. Dirigido por Viviane Ferreira, o longa retoma personagens inesquecíveis, revisita suas dores e conquistas e encontra, nessa nova fase, um equilíbrio afetivo entre memória, luta e celebração.

Depois de mais de uma década desde os acontecimentos do primeiro filme, o público reencontra a comunidade do cortiço com seus conflitos, alegrias, disputas e reinvenções. O resultado é uma narrativa que mistura música, emoção e crítica social, mantendo a essência baiana e o espírito de resistência que sempre definiram a obra original.

Roque às vésperas de realizar um sonho

Um dos pontos centrais da trama é a trajetória de Roque, vivido novamente por Lázaro Ramos, que retorna ao personagem com uma presença profundamente amadurecida. Agora, Roque está prestes a lançar sua primeira música — um passo que pode finalmente colocá-lo no caminho da carreira artística que sempre desejou. O filme acompanha essa ansiedade boa, marcada por expectativas, receios e uma esperança que pulsa junto com a musicalidade do Pelourinho. As informações são do AdoroCinema.

O personagem se torna uma metáfora natural para tantas pessoas que batalham diariamente por espaço, reconhecimento e dignidade, especialmente no universo da cultura negra brasileira. Roque é energia, humor, força e vulnerabilidade. É alguém que acredita no próprio talento mesmo quando o mundo tenta convencê-lo do contrário.

Dona Joana e o peso do luto

Outra personagem que ganha profundidade emocional é Dona Joana, interpretada por Luciana Souza. Ela vive o luto pela perda dos filhos — uma dor constante, que não dá trégua e que se mistura às responsabilidades de seguir cuidando da casa e dos moradores do cortiço. A personagem, sempre tão marcante pela força e pela firmeza, agora revela outras camadas, mais íntimas e silenciosas.

Sua jornada mostra como o luto se infiltra nos pequenos gestos do cotidiano, mas também como a comunidade que a cerca tenta, à sua maneira, acolhê-la. Há momentos de desabafo, de fragilidade, de riso inesperado e de afeto sincero, mostrando que a vida no Pelourinho é feita justamente dessa mistura de cores fortes e sombras profundas.

Neuzão e a luta por território

Enquanto isso, Neuzão — vivida por Tânia Toko — enfrenta uma batalha que muitos brasileiros conhecem bem: a perda de seu espaço. Seu bar, antes ponto de referência da região, foi tomado por uma turma mal-intencionada, representando o avanço da especulação, da violência e da desigualdade que ameaça a vida comunitária.

A presença dessa nova turma funciona como fio condutor de tensão e disputa, mostrando que a resistência não está apenas na militância explícita, mas também na preservação de espaços culturais, afetivos e históricos. É na tentativa de reconquistar o que lhe pertence que Neuzão se torna símbolo de luta e pertencimento — não por heroísmo, mas por sobrevivência.

A nova geração chega com força, poesia e consciência

Um dos elementos mais bonitos de “Ó Paí, Ó 2” é a presença da segunda geração. Agora jovens e cheios de energia, eles aparecem engajados na luta pela causa negra, unindo música, poesia e humor de forma inteligente, afetiva e politizada. Suas cenas trazem frescor e vitalidade à narrativa — lembrando que a resistência se reinventa, se transforma e se perpetua.

Essa juventude também reflete o espírito de renovação do próprio Pelourinho, que carrega cicatrizes históricas, mas continua produzindo arte, questionamento e celebração. É uma presença forte que costura passado, presente e futuro.

Um filme que enfrenta boicotes, rompe barreiras e conquista público

O filme não chegou aos cinemas sem obstáculos. O longa enfrentou tentativas de boicote motivadas por posicionamentos políticos do elenco, especialmente de Lázaro Ramos, que se tornou alvo de ataques por semanas. Paradoxalmente, essa onda de críticas acabou amplificando o debate em torno do filme e colocou o nome do ator entre os assuntos mais comentados do X (antigo Twitter).

Mesmo diante desses ataques, o filme mostrou resiliência — uma palavra que descreve tanto sua narrativa quanto seu contexto. Na segunda semana de exibição, a produção ocupou o 5º lugar no ranking nacional, arrecadando quase R$ 1 milhão entre os dias 23 e 26 de novembro, segundo a Comscore. Esse desempenho o colocou ao lado de gigantes internacionais como Napoleão, Jogos Vorazes, As Marvels e Five Nights at Freddy’s, mostrando que a força do cinema nacional segue firme, especialmente quando representa histórias reais e afetivas do povo brasileiro.

Até o momento, o filme já foi assistido por 140 mil espectadores, acumulando mais de R$ 2,5 milhões em bilheteria. Para um filme que dá continuidade a uma história tão profundamente enraizada na cultura baiana e que resiste a pressões externas, esses números revelam algo maior do que sucesso comercial: revelam conexão.

Da comédia ao afeto: o retrato vivo do Pelourinho

A diretora Viviane Ferreira conduz a história com cuidado e afeto, sem perder a essência da comédia, mas aprofundando ainda mais as emoções de cada personagem. Ela captura o calor das ruas do Pelourinho, suas cores, sons, tradições e contradições. A música, presente de forma natural na narrativa, atua como ponte afetiva entre os moradores e como símbolo de resistência — afinal, a música sempre foi uma forma de sobrevivência para essa comunidade.

O filme também amplia a discussão sobre racismo, desigualdade social e representatividade, mas sem transformar a história em um discurso rígido. Tudo aparece de forma orgânica, pulsante, viva, como parte do cotidiano. É esse equilíbrio que torna “Ó Paí, Ó 2” não apenas uma comédia, mas um retrato sensível e potente da vida real.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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