
Chega nesta quinta-feira, 20 de novembro, aos cinemas de diversas capitais e cidades brasileiras, o documentário “A Queda do Céu”, obra dirigida por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, baseada no livro de mesmo nome escrito pelo xamã Yanomami Davi Kopenawa e pelo antropólogo Bruce Albert. Depois de uma trajetória internacional arrebatadora, marcada por 25 prêmios e exibição em mais de 80 festivais ao redor do mundo, o filme finalmente estreia no país onde sua mensagem é mais urgente — e onde seu impacto pode ser transformador.
A chegada do longa ao circuito nacional, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte, Boa Vista, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Poços de Caldas, Recife, Salvador, Sorocaba e Vitória, representa mais do que uma distribuição ampla: é a tentativa de aproximar o Brasil de uma realidade que sempre existiu, mas que muitos ainda desconhecem. “A Queda do Céu” não é apenas cinema — é testemunho, denúncia, espiritualidade e convite.
Um filme guiado pela sabedoria Yanomami
Filmado ao longo de um período intenso de convivência com a comunidade de Watorikɨ, o documentário acompanha Davi Kopenawa durante o ritual Reahu, um dos mais importantes da cultura Yanomami, voltado à cura, à despedida e à continuidade da vida. A câmera observa com delicadeza, respeitando tempos, ritmos e silêncios. Não há pressa em explicar: há espaço para sentir.
É justamente essa escolha estética e ética que dá ao filme seu caráter imersivo. O espectador entra em contato com o pensamento Yanomami não como espectador distante, mas como visitante convidado a ouvir. E ouvir, aqui, significa encarar a gravidade do momento: o garimpo ilegal que avança, as doenças que retornam, os rios contaminados, a floresta ferida.
Kopenawa, como tem feito há décadas, traduz para o mundo o impacto espiritual dessa destruição. Para os Yanomami, quando a floresta adoece, não é apenas o território que sofre. O céu, sustentado pelos seres espirituais e pelo equilíbrio da natureza, ameaça cair. A metáfora é literal, profunda e atravessa todo o longa.
Da COP30 ao grande público
Antes de chegar aos cinemas brasileiros, o filme teve uma exibição especial na COP30, onde foi recebido como uma obra essencial para compreender a crise humanitária que atinge os Yanomami e a dimensão global do problema ambiental. Enquanto líderes mundiais discutem políticas de preservação, “A Queda do Céu” mostra, com sensibilidade e contundência, o que acontece quando a floresta deixa de ser vista como lar e passa a ser tratada como recurso.
Uma trajetória internacional de respeito e impacto
A estreia mundial na Quinzena dos Realizadores de Cannes marcou o início de uma jornada que levou o documentário a países de todos os continentes. A obra conquistou prêmios importantes em festivais como:
- DOC NYC (EUA) – Grande Prêmio do Júri
- DMZ Docs (Coreia do Sul) – Prêmio Especial do Júri
- Festival do Rio (Brasil) – Melhor Som e Melhor Direção de Documentário
- GIFF (México) – Melhor Documentário Internacional
- DocLisboa (Portugal) – Prêmio Fundação INATEL
- Bozcaada EcoFilm Festival (Turquia) – Prêmio Principal Fethi Kayaalp
A recepção crítica também impressiona: o longa mantém 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, um feito raro até mesmo entre produções internacionais.
A crítica internacional reconhece a força da obra
Em sua análise no The New York Times, a jornalista Devika Girish descreveu o filme como “um lembrete doloroso de que os Yanomami resistem a invasões há mais de um século”. Para ela, um dos momentos mais marcantes é quando um ancião encara a câmera e pede aos diretores: “Parem de nos incomodar. Contem isso aos brancos.”
Outros críticos reforçaram essa visão:
- Jason Gorber (POV Magazine) destacou o ritmo contemplativo e coerente com a espiritualidade Yanomami.
- Ankit Jhunjhunwala (The Playlist) elogiou o mergulho profundo na vida da comunidade.
- Carlos Aguilar (Variety) chamou o filme de “uma das obras documentais mais necessárias da memória recente”.
O que significa o filme estrear no Brasil agora
A chegada de “A Queda do Céu” aos cinemas brasileiros é mais do que o encerramento de um ciclo de festivais. Ela simboliza a devolução de uma conversa ao seu território original. É a oportunidade para que brasileiros de diferentes regiões se encontrem com uma narrativa que, apesar de fazer parte da história nacional, raramente ganha espaço no audiovisual. O filme possui classificação indicativa de 12 anos, o que permite que jovens também tenham acesso a essa discussão — essencial em um momento em que a pauta indígena, ambiental e humanitária pede atenção urgente.





