Foto: Reprodução/ Internet

Nesta quinta, 27 de novembro de 2025, a Globo escolhe uma história marcada pela delicadeza e pela força das relações humanas para a Sessão da Tarde. O público vai acompanhar Mr. Church, filme lançado originalmente em 2016 e dirigido por Bruce Beresford, que reúne performances emocionantes e uma narrativa inspirada em fatos reais. A produção se destaca por apresentar Eddie Murphy em um de seus trabalhos mais contidos e sensíveis, marcando seu retorno ao drama após um longo intervalo na carreira cinematográfica.

De acordo com a sinopse do AdoroCinema, o longa nasceu a partir do conto The Cook Who Came to Live with Us, escrito por Susan McMartin, que se baseou em experiências pessoais para construir a relação de afeto entre um cozinheiro reservado e uma família fragmentada pelas circunstâncias. Essa precisão emocional está presente em cada gesto do personagem e em cada transformação vivida pelos protagonistas ao longo de décadas. O elenco conta ainda com Britt Robertson, Natascha McElhone, Xavier Samuel, Lucy Fry e Christian Madsen, que reforçam a densidade íntima da trama.

Mr. Church não é um filme que busca grandes reviravoltas ou acontecimentos espetaculares. Seu impacto surge a partir da simplicidade, do cotidiano e das relações nutridas em silêncio. A obra explora o valor do cuidado, a força dos vínculos não biológicos e a capacidade que algumas pessoas têm de entrar na vida de outras justamente quando o mundo parece prestes a ruir. É essa combinação de elementos que faz da exibição de hoje um convite à sensibilidade.

Um estranho na cozinha e o início de uma transformação profunda

A história começa em Los Angeles, nos anos 1970, quando a pequena Charlie acorda certa manhã sentindo o cheiro de café da manhã sendo preparado. Ao descer as escadas, depara-se com um homem desconhecido cozinhando em sua casa. Trata-se de Henry Church, interpretado por Eddie Murphy, contratado para ser o cozinheiro da família durante um período específico.

A mãe de Charlie, Marie, recebe o cozinheiro com naturalidade, mas a presença dele representa para a menina um lembrete de que algo grave está acontecendo. Marie foi diagnosticada com câncer de mama em estágio avançado e tem poucos meses de vida. O cozinheiro foi contratado, sem que Charlie soubesse, pelo antigo namorado da mãe, um homem casado que deixou dinheiro em testamento para que ela tivesse algum conforto em seus últimos dias. Mr. Church tem como função preparar refeições, mas acaba assumindo uma missão muito maior.

A partir desse ponto, o filme constrói sua força ao mostrar como pessoas desconhecidas podem se tornar fundamentais nas nossas vivências. Charlie não aceita facilmente a presença do cozinheiro. Ela o evita, o observa à distância e resiste à ideia de dividir o mesmo espaço com alguém por quem não sente confiança. No entanto, dia após dia, Mr. Church mantém a mesma postura discreta e acolhedora, sempre atento ao bem-estar da mãe e da filha.

O fato mais surpreendente é que os meses previstos para a doença de Marie se estendem. Ela vive anos além da estimativa médica, e enquanto a vida segue, a figura de Mr. Church se torna uma presença sólida e constante. A família ampliada que se forma ali era algo que nenhuma das três esperava, mas que transforma completamente o futuro de Charlie.

Anos passando, vínculos crescendo e uma história que se aprofunda

Quando Charlie atinge a adolescência, a relação com Mr. Church já está marcada por uma série de pequenos rituais silenciosos que só quem convive de perto consegue compreender. O cozinheiro, antes um intruso desconfortável, passa a ocupar um lugar de acolhimento. Ele cozinha, ajuda com tarefas escolares, sugere leituras, ensina sobre responsabilidade e oferece apoio emocional nos momentos em que mãe e filha enfrentam crises.

Marie, mesmo adoecida, tenta preparar a filha para o futuro e trabalha para que Charlie continue estudando, criando expectativas para além da dor que atravessa a casa. Mr. Church, mesmo sem verbalizar, passa a ser parte fundamental desse futuro. Quando Marie falece, a ausência é profunda, mas a casa não se esvazia por completo, porque o cozinheiro permanece ali, zelando para que Charlie continue em frente.

O filme então avança no tempo com suavidade. Charlie se forma no ensino médio, ingressa na Universidade de Boston e vê sua vida tomar novos rumos. O apoio financeiro e emocional de Mr. Church é decisivo para que ela consiga enfrentar a realidade fora de casa. Os dois constroem um vínculo que dispensa definições formais. Não são pai e filha, tampouco amigos comuns. São duas pessoas que se escolheram pela vivência, pelo respeito e pela maneira como aprenderam a cuidar uma da outra.

Quando Charlie retorna anos depois, grávida e fragilizada, é Mr. Church quem oferece abrigo mais uma vez. A convivência entre eles é marcada por segredos, limites e, ocasionalmente, conflitos. O cozinheiro mantém seu mundo interior protegido, e a necessidade de privacidade é quase uma regra sagrada. Ainda assim, ele permite que a filha de Charlie, Izzy, cresça sob seu apoio e receba parte da educação silenciosa que ele oferece.

A vida que Mr. Church escondia e o legado que ele deixa

Uma das grandes potências do filme está na revelação tardia da vida privada do cozinheiro. Ao longo de toda a narrativa, o personagem mantém distância de perguntas pessoais e evita qualquer abertura emocional que o exponha. Essa postura provoca curiosidade tanto na protagonista quanto no público.

Somente após a morte do cozinheiro, Charlie descobre que ele não era apenas um homem dedicado à cozinha. Mr. Church tocava piano em um clube de jazz havia décadas. Levava uma vida dupla, aparentemente simples, mas cheia de camadas e segredos. Pessoas que conviveram com ele em outro contexto desconheciam completamente suas habilidades culinárias ou sua relação com Charlie e Izzy. A descoberta reforça a ideia de que todos carregam universos internos que muitas vezes não são compartilhados com ninguém.

Essa revelação aprofunda o impacto da despedida final. Charlie compreende que, apesar da proximidade, nunca conheceu Mr. Church por completo. Ainda assim, ele foi uma das pessoas mais importantes em sua vida. A presença dele moldou seu caráter, seu senso de responsabilidade e seu modo de amar. É nesse ponto que o filme constrói uma mensagem de valorização do cotidiano. A verdadeira herança deixada pelo cozinheiro não está em bens materiais, mas nos gestos, rituais, livros compartilhados e refeições preparadas com cuidado.

A cena final, com Izzy preparando o café da manhã, simboliza a continuidade desse legado. A criança reproduz os gestos que aprendeu observando Mr. Church na cozinha, um ato simples que carrega a essência de tudo o que ele representou para aquela família.

A força da atuação de Eddie Murphy e o mérito do filme

Embora Mr. Church tenha recebido críticas divididas na época de seu lançamento, existe um consenso sobre o desempenho de Eddie Murphy. O ator entrega uma interpretação intimista, marcada por sutilezas, olhares silenciosos e expressões que revelam emoções reprimidas. Essa combinação cria um personagem que se impõe pela delicadeza, e não pelo excesso.

A direção de Bruce Beresford reforça esse estilo ao investir em uma narrativa que valoriza ambientes domésticos, luz natural, ritmo suave e personagens que crescem em silêncio. A fotografia acompanha as transformações da vida de Charlie e espelha o amadurecimento emocional da trama.

O filme funciona como um lembrete de que nem todas as histórias precisam ser grandiosas para serem significativas. Muitas vezes, as relações mais profundas são aquelas construídas em ambientes simples, por meio de gestos repetidos e afetos que não pedem reconhecimento.

Esdras Ribeiro
Além de fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras também atua como administrador da agência de marketing digital Almanaque SEO. É graduado em Publicidade pela Estácio e possui formação técnica em Design Gráfico e Webdesign, reunindo experiência nas áreas de comunicação, criação visual e estratégias digitais.

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