
Nesta segunda-feira, 29 de dezembro, a Tela Quente aposta em um filme que foge do óbvio e entrega algo raro: aconchego. Luca, animação da Pixar exibida pela TV Globo, é daquelas histórias que parecem simples à primeira vista, mas que, aos poucos, vão ganhando camadas emocionais e ficando com a gente mesmo depois dos créditos finais. Não é só um filme infantil. É uma lembrança de infância, um abraço de verão e uma metáfora delicada sobre crescer, se descobrir e pertencer.
De acordo com a sinopse do AdoroCinema, a trama nos apresenta Luca Paguro, um jovem monstro marinho curioso, daqueles que vivem olhando para o horizonte e se perguntando o que existe além. Ele mora no fundo do mar com os pais superprotetores e a avó, que reforçam constantemente uma regra inegociável: nada de chegar perto da superfície. O mundo dos humanos, segundo eles, é perigoso, hostil e mortal para criaturas como eles. Mas Luca, como todo bom protagonista sonhador, sente que existe algo lá em cima que ele precisa conhecer.
Tudo muda quando ele cruza o caminho de Alberto Scorfano, um monstro marinho completamente diferente dele. Destemido, impulsivo e cheio de ideias malucas, Alberto revela um segredo que vira o mundo de Luca de cabeça para baixo: fora da água, monstros marinhos se transformam em humanos. É a partir desse momento que Luca se transforma em uma deliciosa aventura de verão, daquelas cheias de descobertas, pequenos medos e grandes sonhos.
Ao subir à superfície, Luca e Alberto chegam a Portorosso, uma pequena cidade litorânea na Riviera Italiana, nos anos 1950. O lugar parece ter saído de um cartão-postal: ruas coloridas, cheiro de massa fresca no ar, bicicletas cortando a praça e moradores que vivem em um ritmo tranquilo. É nesse cenário que eles conhecem Giulia Marcovaldo, uma garota humana determinada, inteligente e cheia de personalidade. O trio forma uma amizade improvável, mas extremamente verdadeira, daquelas que só acontecem quando a gente é jovem e acredita que o verão pode durar para sempre.
O grande charme de Luca está justamente nessas relações. A amizade entre Luca, Alberto e Giulia é construída de forma natural, com conflitos, ciúmes, risadas e momentos de silêncio. Luca, aos poucos, começa a se sentir parte de algo maior. Ao mesmo tempo, carrega o medo constante de ser descoberto, rejeitado ou expulso por ser diferente. Esse sentimento, tratado com tanta delicadeza pelo filme, é um dos motivos pelos quais Luca conversa tão bem com públicos de todas as idades.
Dirigido por Enrico Casarosa, o filme nasce de uma memória afetiva muito pessoal. O cineasta se inspirou na própria infância em Gênova, na Itália, para criar Portorosso e toda a atmosfera do longa. Isso fica evidente em cada detalhe: no jeito como as crianças vivem intensamente cada dia, na importância das pequenas coisas e naquela sensação única de que o verão é um período de transformação. Luca é, acima de tudo, um filme sobre crescer e perceber que o mundo é maior — e mais complexo — do que a gente imaginava.
Visualmente, a animação foge do padrão ultra-realista que muita gente associa à Pixar. Aqui, o traço é mais suave, quase artesanal. As influências vão do cinema italiano clássico ao estilo poético de Hayao Miyazaki, criando um visual acolhedor e cheio de personalidade. Portorosso não parece um cenário artificial, mas um lugar onde dá vontade de morar, mesmo que só por algumas horas.
As vozes do elenco original ajudam a dar vida a esse universo. Jacob Tremblay entrega um Luca sensível e genuíno, enquanto Jack Dylan Grazer faz de Alberto um personagem carismático, que usa a bravata como forma de esconder suas próprias inseguranças. Emma Berman, como Giulia, traz equilíbrio ao trio, representando coragem, curiosidade e empatia. Juntos, eles formam um conjunto que funciona de maneira orgânica e emocionante.
Por trás da fantasia e do humor leve, o longa-metragem fala sobre temas muito reais. A ideia dos monstros marinhos que precisam esconder quem realmente são funciona como uma metáfora poderosa sobre se sentir diferente, deslocado ou fora do padrão. O filme aborda aceitação, medo do julgamento, amadurecimento e a importância de encontrar pessoas que nos enxerguem de verdade. Tudo isso sem discursos pesados ou explicações óbvias — Luca prefere mostrar, sentir e deixar que o público interprete.
A trilha sonora de Dan Romer acompanha esse tom com precisão. As músicas ajudam a criar o clima italiano e reforçam as emoções da história, sem nunca roubar a cena. É o tipo de trilha que você talvez não perceba conscientemente o tempo todo, mas que faz toda a diferença na experiência.
Lançado originalmente em 2021, em meio à pandemia, o filme acabou chegando direto ao streaming em muitos países, onde rapidamente se tornou um fenômeno. Foi o filme mais assistido do ano nas plataformas digitais e recebeu elogios da crítica, além de indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar de Melhor Animação. Com o tempo, ganhou relançamento nos cinemas e até um curta derivado, Ciao Alberto, mostrando que o público realmente se conectou com aquele universo.
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