
Em um tempo fora do tempo, em uma aldeia sem nome, o solo começa a ceder — não pelas forças da natureza, mas pelas rachaduras invisíveis do progresso. É nesse cenário simbólico e profundamente sensorial que se desenrola “A Colheita”, novo filme da cineasta grega Athina Rachel Tsangari, que estreia com exclusividade na plataforma MUBI no próximo dia 8 de agosto.
Inspirado no romance homônimo de Jim Crace, finalista do Prêmio Booker, o longa marca mais um passo ousado na carreira da diretora de obras como Chevalier e Attenberg, nomes fundamentais da chamada “nova onda grega”. Com sua assinatura estilística inconfundível, Tsangari constrói aqui uma espécie de elegia fílmica sobre o fim de um modo de vida — e o nascimento violento de outro.
O fim de uma aldeia, o começo de um novo tempo
Estrelado por Caleb Landry-Jones (Três Anúncios para um Crime, Dogman) e Harry Melling (O Gambito da Rainha, A Balada de Buster Scruggs), o filme se passa ao longo de sete dias intensos em uma comunidade agrária isolada, prestes a ser engolida pela presença de forasteiros e pela chegada do mundo exterior.
Landry-Jones interpreta Walter Thirsk, um camponês introspectivo que observa com inquietação o esfacelamento de tudo o que conhecia. Ao seu lado está Charles Kent (Melling), senhor das terras e amigo de infância de Walter, igualmente perdido diante do que está por vir. A aldeia, que até então funcionava como um microcosmo de ordem e interdependência, se vê desestabilizada por três tipos de recém-chegados: um cartógrafo, um mensageiro da companhia e migrantes de outra região, todos portadores de uma nova realidade — mais dura, mais impessoal e, sobretudo, inevitável.
Uma fábula sobre a violência do progresso
Com um elenco afinado e potente, que inclui ainda Rosy McEwen (Blue Jean), Arinzé Kene, Thalissa Teixeira e Frank Dillane, A Colheita não se prende a uma época específica — e é justamente aí que reside sua força. O filme parece acontecer em um tempo cíclico, onde as mudanças que assolam os personagens poderiam muito bem ecoar os deslocamentos sociais contemporâneos.
A belíssima e inquietante direção de fotografia é assinada por Sean Price Williams, que transforma o campo em um lugar de beleza onírica e ameaça constante. Já a produção leva a chancela de Rebecca O’Brien, conhecida colaboradora de Ken Loach e responsável por títulos como Eu, Daniel Blake e Você Nunca Esteve Realmente Aqui — reforçando o compromisso do projeto com um cinema politicamente atento e emocionalmente denso.





