“Acumuladores” de quinta (24/07) mostra histórias impactantes de pessoas que perderam o controle e agora lutam por uma nova chance

0

Toda casa guarda histórias. Em cada canto, um vestígio de quem somos, de onde viemos, do que amamos. Mas o que acontece quando os objetos tomam conta do espaço, da rotina e da própria identidade? Quando o medo de perder se transforma numa prisão feita de caixas, sacolas, bonecos, papéis velhos e memórias embaladas em poeira?

É esse mergulho profundo e doloroso que a série “Acumuladores”, exibida pela Record TV, propõe a cada novo episódio. Nesta quinta-feira (24 de julho de 2025), às 22h45, o público vai acompanhar três histórias reais, marcadas por perdas, traumas e a difícil jornada de desapego emocional.

Com apresentação de Rachel Sheherazade, o programa mostra que, por trás de pilhas de entulho, há sempre uma dor que se calou, um amor que ficou preso no tempo ou um medo que cresceu demais para ser ignorado.

Jackie: a menina que nunca deixou as bonecas

Entre tantos casos tocantes, o de Jackie chama atenção pela delicadeza de sua compulsão. Ela não acumula qualquer coisa — seu apego é direcionado a bonecas e bichos de pelúcia. A princípio, parece uma coleção como tantas outras. Mas, com o tempo, ficou claro que aquilo não era apenas nostalgia: era uma tentativa desesperada de reconstruir, em objetos, o afeto e a segurança que faltaram em algum momento da vida.

Hoje, sua casa mal tem espaço para caminhar. São milhares de bonecas empilhadas em corredores, quartos e até no banheiro. Jackie admite que perdeu o controle e que já gastou cerca de R$ 6 milhões em pelúcias ao longo dos anos. Para ela, cada boneca tem um nome, uma história, uma função emocional. Descartá-las seria como abandonar um pedaço de si mesma.

Quando aceita a ajuda da equipe de limpeza e psicólogos do programa, começa uma batalha silenciosa e cheia de resistência. Porque não é o lixo que se joga fora. É o medo. A saudade. A solidão.

Richard: o luto que não coube no coração, então ocupou a casa

Richard vive uma dor que muitos evitam nomear: a perda de um filho. Sua filha morreu ainda bebê, com apenas três meses de vida. A morte, inesperada e brutal, deixou nele uma ferida aberta que nunca cicatrizou. Sem conseguir elaborar o luto, ele encontrou no acúmulo de objetos uma forma de anestesiar a dor. Era como se, ao guardar, ele pudesse manter algo vivo. Um fio de conexão com aquilo que já não estava mais ali.

Com o tempo, o que começou como uma distração virou um estilo de vida. Sua casa se transformou em um amontoado de tralhas e lixo, onde mal se enxerga o chão. O local foi declarado inabitável. Os filhos, crescidos, tentaram ajudar, mas se viram derrotados por um pai preso ao passado, incapaz de se libertar daquilo que o sufoca.

A equipe de “Acumuladores” tenta, com sensibilidade, mostrar que o amor por um filho não se mede em objetos — e que, talvez, seja possível manter viva a lembrança sem manter o sofrimento.

Barbara: a mãe que construiu um muro de coisas para proteger os filhos

O terceiro caso da noite é, sem dúvida, um dos mais impactantes da temporada. Barbara, mãe de dez filhos, passou a vida tentando proteger a família do mundo — mas acabou protegendo demais. O trauma veio cedo: quando um de seus filhos tinha apenas cinco anos, um acidente doméstico provocou um incêndio que destruiu a casa inteira.

Desde então, Barbara passou a recolher compulsivamente qualquer objeto que encontrava pelas ruas. Caixas, sofás quebrados, brinquedos abandonados, garrafas, eletrodomésticos sem uso. Tudo era guardado. Tudo parecia ter uma utilidade futura, um valor emocional, uma missão.

Mas o que era tentativa de reconstrução virou uma armadilha. A casa, hoje, está à beira do colapso estrutural. O entulho acumulado ameaça desmoronar. E Barbara, soterrada emocionalmente, finalmente admite: precisa de ajuda. E precisa agora.

A câmera do programa capta um momento raro de vulnerabilidade — aquele instante em que a ficha cai, e a dor reprimida há décadas transborda. É nesse ponto que recomeçar se torna possível.

Muito mais do que bagunça: um retrato íntimo da dor humana

“Acumuladores” não é uma série sobre sujeira ou desordem. É uma série sobre o que acontece com as pessoas quando a dor se acumula mais rápido do que elas conseguem lidar. E, por isso, é tão relevante. Porque escancara, com coragem e sensibilidade, o lado invisível da saúde mental. Aquele que não aparece em diagnósticos rápidos, mas que se revela no cotidiano silencioso.

A cada episódio, a condução de Rachel Sheherazade dá o tom certo entre o acolhimento e a urgência. Ela não aponta dedos. Ela escuta. Ela traduz, para o telespectador, a complexidade desses casos. É uma mediadora entre o drama pessoal e a sociedade que ainda não sabe como lidar com esse tipo de sofrimento.

E a série acerta também ao trazer profissionais especializados — psicólogos, terapeutas, organizadores, engenheiros civis — que oferecem mais do que faxinas: oferecem escuta, estratégia e suporte.

Ajudar é mais difícil do que parece

O que impressiona em cada episódio é como o processo de intervenção não é linear. As pessoas resistem, hesitam, recuam. Muitas vezes, é preciso pedir licença para tocar em um objeto. Em outras, a equipe precisa negociar emocionalmente a saída de uma simples caixa.

Porque para quem acumula, aquilo que parece inútil para os olhos do outro tem um valor simbólico imenso. Pode ser o último presente de alguém amado, uma lembrança de tempos melhores ou o símbolo de uma promessa não cumprida. É preciso delicadeza, paciência e, acima de tudo, respeito.

Acúmulo é doença — e merece cuidado

É importante lembrar que o transtorno de acumulação é uma condição reconhecida pela medicina. Está ligada a distúrbios de ansiedade, depressão, traumas e até ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). No entanto, ainda é pouco discutido. E, muitas vezes, visto com deboche ou julgamento.

A série “Acumuladores” rompe esse silêncio. Expõe as feridas, mas também aponta os caminhos. Mostra que sim, é possível recomeçar. E que cada objeto descartado pode ser um passo rumo à liberdade interior.

COMENTE

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui