O novo longa-metragem “Ainda Estou Aqui“, dirigido por Walter Salles, estreou com aclamação unânime no prestigiado Festival de Veneza no último sábado, 31 de agosto. A produção, protagonizada por Fernanda Torres (O Auto da Compadecida), Selton Mello (O Palhaço) e Fernanda Montenegro (Central do Brasil), foi ovacionada por mais de 10 minutos e 20 segundos após sua exibição, evidenciando a força emocional da história. A ovação não apenas consagrou o filme como uma das principais obras do festival, mas também ressaltou a relevância histórica e a profundidade temática abordadas na trama. As informações são do Deadline.
A atuação de Fernanda Torres foi um dos pontos altos da exibição. Sua personagem, Eunice, carrega uma força silenciosa ao lidar com a perda e a incerteza, optando por esconder a dor de seus filhos para evitar que eles se tornassem vítimas da ditadura. “Ela foi uma heroína que encarou a tragédia sem se render ao melodrama”, comentou Torres em uma coletiva após a exibição. Essa dualidade entre fragilidade e resiliência tornou sua atuação profundamente elogiada, destacando-se como um dos grandes momentos de sua carreira.
Fernanda Torres e Selton Mello, visivelmente emocionados, não contiveram as lágrimas durante a ovação, demonstrando o quanto a obra tocou a todos, inclusive o elenco. A presença de Fernanda Montenegro, aclamada como uma das maiores atrizes brasileiras, contribuiu para a atmosfera de celebração e reconhecimento da importância do filme. Walter Salles, acompanhado de Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o longa, também esteve presente, visivelmente emocionado com a calorosa recepção.
Embora vídeos da reação do elenco ainda não estejam disponíveis no Brasil devido a bloqueios em plataformas internacionais, os relatos de críticos e espectadores presentes no evento destacam a intensidade do momento. A ovação prolongada reforça o impacto que o filme provocou, elevando ainda mais a expectativa para o lançamento mundial.
Selton Mello, ao lado de Fernanda Montenegro, entrega uma interpretação magistral, adicionando camadas de emoção ao filme. A química entre o elenco contribui para a densidade emocional da obra, que equilibra momentos de silêncio devastador com cenas de esperança e resistência. Montenegro, como sempre, traz uma presença de palco imbatível, representando a sabedoria e a experiência que atravessam gerações.
Walter Salles, renomado por clássicos como “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”, mais uma vez coloca o cinema brasileiro em evidência no cenário internacional. “Ainda Estou Aqui” explora não apenas as feridas deixadas pela Ditadura Militar, mas também a força das memórias e a resiliência de quem sobreviveu. Com sua direção sensível e cuidadosa, Salles guia o público por uma jornada emocional, revelando as complexidades das personagens e a profundidade dos seus dilemas.
Saiba mais sobre o filme
A produção é um poderoso drama ambientado no sombrio período da Ditadura Militar no Brasil, centrado na busca incansável de Eunice (interpretada magistralmente por Fernanda Torres), uma mulher determinada a descobrir o paradeiro de seu marido, preso e desaparecido em 1970, no Rio de Janeiro. O filme, situado em 1971, retrata com sensibilidade a devastadora realidade da repressão política, onde o silêncio imposto pelo regime autoritário deixa cicatrizes profundas na vida de milhares de brasileiros. Eunice representa a dor e a angústia de inúmeras esposas, mães e filhas que, como ela, viveram no limbo da incerteza, sem respostas sobre o destino de seus entes queridos. A trama não se limita a contar a história de Eunice, mas também reflete o clima de medo generalizado que permeava o Brasil na época, com prisões arbitrárias, torturas e assassinatos silenciosamente orquestrados pelo governo militar.
A narrativa transcende a esfera política, mergulhando em um drama pessoal e psicológico, ao mesmo tempo que faz um comentário social sobre a resistência e a força das mulheres durante esse período brutal. A atuação de Fernanda Torres traz uma camada extra de profundidade à personagem, evidenciando a luta interna de Eunice, dividida entre a esperança e o desespero, em um país onde a verdade era sufocada pela censura e pela violência do Estado. Além do contexto histórico, o filme explora os efeitos colaterais do trauma, destacando como as consequências da repressão ultrapassam o campo político e se infiltram nas relações humanas, nos lares e na própria identidade nacional. Cada cena de o filme brasileiro é carregada de uma tensão silenciosa, refletindo as cicatrizes invisíveis que a ditadura deixou em várias gerações.
A distribuição internacional pela Sonic Pictures reforça o potencial do longa em alcançar um público amplo e deixar sua marca tanto nos festivais quanto nas bilheterias globais. A recepção calorosa em Veneza marca um momento decisivo para o cinema brasileiro, que mais uma vez se destaca no cenário internacional com uma produção de altíssima qualidade e temas universais.
A estreia em Veneza não só reafirma o talento de Walter Salles como diretor de alcance global, mas também destaca a força do cinema brasileiro em abordar narrativas universais com sensibilidade e profundidade. O filme é uma obra que promete continuar emocionando o público ao redor do mundo e pavimenta o caminho para novas conquistas do cinema brasileiro no exterior. Com atuações memoráveis e uma trama poderosa, o filme já se posiciona como um marco na cinematografia nacional, oferecendo um retrato comovente da luta pela justiça e pela memória em tempos de repressão.