
Na noite desta terça-feira, 12 de agosto, o sofá do The Noite com Danilo Gentili recebe uma convidada que é sinônimo de autenticidade: Barbara Gancia. Jornalista de verbo afiado, cronista premiada e escritora que não teme se despir emocionalmente diante do público, ela retorna à TV para falar sobre a nova edição de A Saideira — um relato intenso e profundamente pessoal sobre sua luta contra o alcoolismo e sobre os 18 anos de sobriedade que já coleciona.
O encontro, exibido pelo SBT, mistura os dois elementos que definem a trajetória de Barbara: uma franqueza desarmante e o humor inteligente que tempera suas palavras. No bate-papo, ela revisita lembranças de infância, revive momentos de vulnerabilidade e reflete sobre o que significa viver sem álcool — tudo com a mesma intensidade que sempre imprimiu em suas crônicas.
O início precoce de uma relação perigosa
Barbara fala sem rodeios sobre quando começou a beber de verdade. “Com uns 13 ou 14 anos, comecei a beber de forma mais contundente. Percebi cedo que iria gostar de beber”, recorda. Mas a história não começa aí. Ela conta que, segundo sua mãe, aos três anos já havia experimentado o resto de bebidas de uma festa e, para surpresa de todos, achado “gostoso”.
Essa relação tão cedo com o álcool tem raízes no ambiente familiar. “Meu pai veio da Itália para o Brasil para montar uma fábrica de vinho. Minha família, há muitos anos, mexe com bebida; somos italianos, e meu tataravô inventou um vinho doce de sobremesa”, explica.
O contexto, recheado de taças e garrafas, fez com que o álcool fosse parte natural da vida doméstica. Mas, para Barbara, o efeito ia além do social: logo percebeu que aquela sensação prazerosa era algo a que se apegaria com facilidade.
O fundo do poço e a virada de chave
O momento decisivo veio anos depois. Ela lembra com precisão a última vez que bebeu: um almoço com um amigo, meia garrafa de Fernet, e um programa ao vivo no Band Sports marcado para poucas horas depois. “Quando terminei o programa, minha mãe me ligou e disse: ‘Você bebeu hoje’. Nunca tinha dado problema no meu trabalho, mas, naquele dia, senti que transpareceu.”
A frase foi como um alerta final. Barbara desligou o telefone, procurou seu editor e pediu internação. “Falei que aquela tinha sido a última vez. E foi. Nunca mais bebi.”
Desde então, ela defende que a sobriedade não é sinônimo de vida monótona: “Dá para parar de beber e continuar a rir, sair, dançar, transar, encontrar os amigos. Dá para fazer tudo.”
36 anos de jornalismo e histórias de sobra
Se a batalha contra o álcool foi marcada por coragem, a carreira no jornalismo também não foi diferente. Barbara entrou “de paraquedas” na profissão, mas permaneceu por 36 anos na Folha de S. Paulo, onde se firmou como uma das cronistas mais conhecidas do país.
Com um estilo direto e muitas vezes provocador, acumulou admiradores e detratores na mesma medida — e isso nunca a intimidou. No programa, ela compartilha lembranças divertidas de redação e fala sobre a amizade com Silvio Luiz, narrador esportivo com quem mantém uma relação de afeto e trocas bem-humoradas.
Outra parte curiosa de sua trajetória é a ligação da família com o automobilismo, que influenciou seu interesse por esportes e pautas ligadas ao setor.
“A Saideira”: um livro-confissão que inspira
O fio condutor da entrevista é a nova edição de A Saideira. Mais do que uma autobiografia, o livro é um convite a uma conversa honesta sobre dependência, recaídas, medos e vitórias.
A obra ganhou capítulos inéditos que revelam o que mudou na vida de Barbara desde a publicação original — e como ela construiu uma rotina sólida sem álcool, encontrando novos jeitos de se divertir e criar.
Sem tom moralista, a autora deixa claro que sua intenção é inspirar: “Quero mostrar que há vida depois do álcool. Não é uma vida menor, não é uma vida triste. É mais rica, mais verdadeira.”
















