
Você pode até não se lembrar de Lou Bega, mas é quase impossível não sentir os ombros se mexendo ao ouvir “Mambo Number 5”. Também não precisa ter sido um grande fã de EMF para reconhecer o refrão explosivo de “Unbelievable” ou ter o nome da escocesa KT Tunstall na ponta da língua para cantarolar “Suddenly I See”, sucesso imortalizado por O Diabo Veste Prada. O que todos esses artistas têm em comum? Fizeram o mundo cantar — e depois, desapareceram dos holofotes. Mas suas histórias, tão humanas quanto seus refrões são pegajosos, agora ganham uma segunda chance de serem ouvidas em “Baseado em hits reais”, novo livro do jornalista Braulio Lorentz, publicado pela Máquina de Livros.
Com lançamento marcado para o dia 28 de agosto, em um evento no karaokê do Curtiça Bar, na Vila Madalena (SP), o livro propõe uma espécie de arqueologia afetiva da música pop. Ao invés de focar nos medalhões que todo mundo já conhece, Braulio dá voz a quem um dia teve os cinco minutos de glória — ou os cinco segundos de um refrão eternizado — antes de sumir da mídia, mas não das nossas memórias.
A playlist da memória
Braulio Lorentz, jornalista cultural com mais de 20 anos de estrada e atual editor do G1, teve o estalo para o livro ao reorganizar sua coleção de CDs. Era um exercício nostálgico, mas também uma inquietação jornalística: ao revisitar discos esquecidos, surgia a pergunta inevitável — onde foi parar esse artista?
“Essas músicas não têm, necessariamente, um grande valor artístico. Algumas são até irritantes”, confessa Braulio, sem ironia. “Mas sou obcecado por entender o que está por trás de um grande fenômeno musical.”
A partir desse impulso, ele passou os últimos quatro anos caçando ex-hitmakers, mergulhando em entrevistas que misturam bastidores do sucesso com memórias pessoais, frustrações e renascimentos discretos. O resultado é um painel afetivo e inesperado da indústria fonográfica das últimas décadas.
Histórias que desafinam da fama
Entre os mais de 40 artistas entrevistados estão nomes como Vanessa Carlton (“A Thousand Miles”), Natalie Imbruglia (“Torn”), Daniel Powter (“Bad Day”), Alexia (“Uh La La La”), DJ Bobo, Chumbawamba, Fastball, Aqua e Counting Crows. E também brasileiros que você talvez não associe à efemeridade do sucesso, como Kelly Key, Vinny e o grupo Dr. Silvana & Cia.
Muitos dos personagens do livro não desapareceram completamente. Apenas mudaram de palco. Alguns continuaram na música, embora longe das grandes gravadoras. Outros viraram professores, técnicos de informática, donos de restaurante — e um chegou a se tornar programador da Amazon. Em comum, há a lembrança agridoce de um tempo em que suas músicas tocavam em todo lugar, suas agendas estavam lotadas e a fama parecia eterna.
“Vários desses artistas tiveram mais de um sucesso”, lembra Braulio. “Mas, depois, a maioria conviveu com a fama de fracassado. Até desaparecer.”
A glória que cansa, o fracasso que ensina
O mais instigante no livro de Braulio não são apenas as curiosidades (embora elas existam em abundância), mas o que se revela nas entrelinhas: o quanto a fama pode ser cruel, e o quanto o esquecimento público nem sempre é sinônimo de derrota pessoal.
Um exemplo comovente é o de Daniel Powter, cuja balada “Bad Day” se tornou hino não oficial de dias ruins em programas de TV, reality shows e playlists deprês. Hoje, longe dos holofotes, Powter tem uma vida tranquila e afirma que “se sentir fracassado foi libertador”. Em contrapartida, KT Tunstall, que ainda se apresenta, reflete sobre o preço da independência artística após o estouro inicial.
O livro não tenta transformar esses artistas em heróis ou mártires da indústria. Pelo contrário. Há um tom sincero, quase confessional, nos relatos. Muitos admitem erros, ilusões, contratos mal feitos, egos inflados. E o autor não julga. Apenas ouve — e nos convida a ouvir também.
Um livro para cantar, rir e pensar
“Baseado em hits reais” tem o charme de um karaokê de domingo com amigos: nostálgico, divertido, por vezes constrangedor, mas acima de tudo humano. Braulio não trata seus entrevistados como relíquias, mas como pessoas que viveram algo extraordinário, por mais efêmero que tenha sido.
E por falar em karaokê, o evento de lançamento promete ser um capítulo à parte. Nada mais simbólico do que celebrar essas histórias num bar onde qualquer um pode virar estrela por três minutos — o tempo de um hit. O autor ainda preparou uma playlist especial com todas as músicas citadas no livro. Um convite sonoro para reviver os anos em que essas faixas eram trilha sonora da vida de muita gente.
Onde encontrar o livro?
O livro estará disponível nas principais livrarias físicas e virtuais a partir de agosto, além de uma versão em e-book já acessível em mais de 30 plataformas digitais. É leitura obrigatória para fãs de música pop, curiosos da cultura pop, jornalistas, músicos e todos aqueles que um dia sentiram que uma canção disse exatamente o que estavam sentindo.
Mais do que falar sobre os artistas esquecidos, o livro fala sobre o que nos faz lembrar. Porque, no fundo, os grandes sucessos não morrem — eles apenas mudam de lugar, repousando na memória afetiva de quem dançou, chorou ou se apaixonou ao som deles.





