
Depois de muito hype, algumas polêmicas e expectativas altíssimas, a nova versão live-action de Branca de Neve e os Sete Anões parece estar mais para maçã envenenada do que para conto de fadas. Com um orçamento de tirar o fôlego — cerca de US$ 250 milhões, o longa da Disney vem enfrentando dificuldades em solo americano e pode terminar sua jornada com uma bilheteria doméstica inferior a US$ 100 milhões, segundo a Variety.
Um número preocupante não só para o estúdio, mas para toda a indústria, que observa com atenção o desempenho das apostas bilionárias da Disney em recontar seus próprios clássicos.
Queda livre nos EUA, resistência no mundo
Em sua quarta semana em cartaz nos Estados Unidos, o longa soma US$ 81,9 milhões, ocupando a modesta oitava posição no ranking de bilheteria do fim de semana, com apenas US$ 2,8 milhões arrecadados. Uma queda expressiva, que confirma a perda de fôlego já percebida desde a estreia.
Para além das fronteiras americanas, os números são um pouco mais animadores: US$ 181 milhões no total, somando mercados internacionais. Ainda assim, diante de um investimento tão alto, o desempenho global precisa melhorar — e muito — para que o filme escape do rótulo de prejuízo.
Uma estreia que já sinalizava problemas
Os sinais de alerta não vieram do nada. Desde a pré-estreia americana, que registrou apenas US$ 3,5 milhões, o cenário não era dos mais promissores. A projeção para o primeiro fim de semana nos EUA era de US$ 45 a 55 milhões, mas o longa amargou uma estreia de apenas US$ 43 milhões, ficando abaixo até mesmo do polêmico Dumbo (2019), que somou US$ 46 milhões na estreia — e também foi considerado um fracasso.
O segundo fim de semana não perdoou: queda de 66% na arrecadação e um total de US$ 14,2 milhões, fazendo com que o filme acumulasse US$ 66,8 milhões no período. Números tímidos para uma produção desse porte e um claro indício de que o buraco era mais embaixo.
Entre rainhas, espelhos e frustrações
Mesmo com a presença de Gal Gadot no papel da Rainha Má e uma campanha de marketing global, o filme não conseguiu converter expectativa em bilheteria. A escalação da atriz, somada à escolha da novata Rachel Zegler como Branca de Neve, dividiu opiniões desde o anúncio, e as redes sociais não perdoaram — com críticas que iam desde o distanciamento do visual clássico até debates sobre representatividade e fidelidade ao original.
O remake tentou se diferenciar, trazendo uma narrativa mais empoderada e moderna para a protagonista. Mas, ao que parece, o público não comprou a proposta. Nem os efeitos especiais de última geração, nem a trilha sonora repaginada ou a promessa de inovação conseguiram salvar a produção do tombo.
O remake certo na hora errada?
É impossível não olhar para o contexto maior. A Disney vem apostando pesado em live-actions de seus maiores clássicos há mais de uma década. Algumas deram muito certo, como A Bela e a Fera (US$ 1,2 bilhão mundial), O Rei Leão (US$ 1,6 bilhão) e Aladdin (US$ 1,05 bilhão). Outras, nem tanto: Pinóquio, Peter Pan & Wendy e Dumbo decepcionaram — e Branca de Neve parece estar seguindo esse segundo grupo.
Há quem diga que o público está saturado dessas reinterpretações. Há também uma crescente cobrança por novas histórias, com mais frescor, originalidade e diversidade de vozes. O mercado mudou — e a Disney talvez esteja sentindo o peso de estar um passo atrás nessa evolução.
Comparações que doem
Para deixar a situação mais incômoda, alguns analistas têm comparado o desempenho do filme com outras estreias recentes que também foram vistas como tímidas. Mesmo “Coringa: Delírio a Dois”, que dividiu a crítica e apostou num tom mais sombrio, teve estreia mais fraca (US$ 37,6 milhões), mas com um orçamento muito mais modesto.
A verdade é que os custos gigantescos de produções como Branca de Neve tornam qualquer resultado abaixo dos US$ 500 milhões uma dor de cabeça. E para ultrapassar essa marca, o filme ainda terá que encontrar terreno fértil em mercados como China, Japão e América Latina — algo que, até agora, ainda não se concretizou.
E agora, Disney?
Com a performance morna de Branca de Neve, a Disney se vê diante de uma encruzilhada: seguir apostando nos remakes de clássicos ou dar mais espaço para produções originais e franquias inéditas?
O estúdio ainda tem no forno filmes como Mufasa: O Rei Leão, Lilo & Stitch, Hércules e Moana em versão live-action, todos previstos para os próximos anos. Mas os resultados recentes podem forçar uma reavaliação estratégica.
Enquanto isso, Branca de Neve segue tentando recuperar o brilho perdido, torcendo para que a bilheteria internacional salve o conto de virar um pesadelo corporativo.