
Na noite desta segunda-feira (8), o Conversa com Bial reapresenta uma entrevista marcante realizada em 2018 com Angela Ro Ro, um dos nomes mais emblemáticos da música brasileira. A cantora, compositora e pianista é reconhecida não apenas por sua voz inconfundível e suas canções que atravessaram gerações, mas também por sua postura autêntica, muitas vezes irreverente, e por nunca ter se esquivado de falar sobre os altos e baixos de sua trajetória.
A reexibição funciona como uma celebração da vida e da carreira de uma artista que completa mais de quatro décadas de dedicação à música e que, mesmo enfrentando perdas, preconceitos e momentos de turbulência pessoal, consolidou-se como um símbolo de resistência e sinceridade na cena cultural brasileira.
O início de uma trajetória marcada pela paixão pela música
Angela Ro Ro, nascida em 1949, começou a se destacar no cenário musical nos anos 1970, período em que a música popular brasileira era marcada por intensa efervescência criativa e resistência política. Compositoras mulheres ainda eram minoria em um ambiente dominado por vozes masculinas, mas Angela rapidamente conquistou espaço com sua mistura singular de MPB, blues e jazz, além de letras confessionais e intensas.
No Conversa com Bial, a artista relembrou que resistiu a se profissionalizar na música em seus primeiros anos, mas que a paixão pela arte sempre falou mais alto. “Continuei compulsiva com música e mulheres. Me concentrei nisso”, contou, com a espontaneidade e a ironia que a caracterizam.
Superando perdas e transformando dor em força
Um dos trechos mais emocionantes da entrevista foi quando Angela falou sobre a década de 1990, fase que classificou como uma das mais difíceis de sua vida. Nesse período, perdeu os pais e mergulhou em um processo de autodestruição que quase comprometeu sua carreira e saúde. Chegou a pesar 130 quilos e admitiu que estava “se perdendo”.
A virada, segundo ela, veio após a última conversa com sua mãe, pouco antes de sua morte. O conselho recebido foi determinante para que repensasse sua vida. “Segui o que ela tinha me lembrado: que lixo é reciclável. Peguei meu lixo e estou reciclando até hoje”, revelou. Essa decisão a ajudou a reencontrar forças para continuar sua caminhada, ainda que marcada por desafios.
Entre o mito e a realidade: o humor ácido de Angela
Fiel a seu estilo irreverente, a compositora também aproveitou a entrevista para rir de si mesma. Questionada sobre sua fama de conquistadora, tratou de desfazer o mito com humor. “Sou pura fama, não sou proveito. Inventava desculpas para não transar. Passei a vida inteira brochando”, brincou, arrancando risos da plateia.
Com a ironia que se tornou uma de suas marcas registradas, chegou a cogitar escrever um livro com título provocativo: As que eu não comi. Para a artista, rir de si mesma sempre foi uma forma de se manter firme diante das adversidades.
Coragem para assumir quem é
Angela Ro Ro nunca escondeu sua orientação sexual, mesmo em um Brasil que ainda apresentava — e continua apresentando — altos índices de homofobia. Ao longo da conversa com Pedro Bial, ela relatou episódios dolorosos de violência física. “Fui espancada cinco vezes por homofobia. Perdi a visão do olho esquerdo”, contou.
Apesar das marcas deixadas por essas agressões, a cantora seguiu firme, tornando-se uma das primeiras artistas brasileiras a falar abertamente sobre sua sexualidade. Essa postura, especialmente em décadas passadas, ajudou a abrir caminho para maior visibilidade e representatividade dentro da música nacional.
O legado de uma voz singular
Ao longo de sua carreira, a cantora lançou clássicos que permanecem vivos na memória coletiva, como Amor, Meu Grande Amor, Compasso e Escândalo. Sua voz rouca e intensa, combinada a um piano envolvente, cria uma atmosfera que mistura melancolia, paixão e força.
Mais do que uma intérprete, Angela se consolidou como uma compositora de rara sensibilidade, capaz de transformar experiências pessoais em canções universais. Suas letras falam de amor, desilusões, perdas e recomeços, sempre com a honestidade que marca sua vida pessoal.
















