
Na noite desta terça-feira, 26 de agosto, Pedro Bial recebe no estúdio do Conversa com Bial um convidado que simboliza, simultaneamente, leveza e gravidade no cenário digital contemporâneo. Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido pelo público como Felca, construiu sua carreira como humorista da internet, mas nos últimos anos transformou sua visibilidade em uma ferramenta para denunciar problemas sociais urgentes, especialmente a proteção à infância nas redes sociais.
O encontro entre Pedro e Felca vai muito além de uma entrevista comum. É uma oportunidade de conhecer de perto a trajetória de alguém que começou rindo de si mesmo e das pequenas situações do dia a dia, mas que, com o tempo, percebeu que a própria visibilidade podia ser usada para provocar mudanças reais. A presença do youtuber no programa não celebra apenas sua popularidade: mostra como a internet, quando usada com responsabilidade e propósito, pode transformar vidas e inspirar reflexões importantes.

Os primeiros passos de um fenômeno digital
Felipe nasceu em Londrina, Paraná, em 25 de julho de 1998. Cresceu em uma geração totalmente conectada, em que a internet não era apenas entretenimento, mas também um espaço de expressão e aprendizado. Ainda adolescente, aos 14 anos, começava a transmitir partidas de videogame para um público restrito. As transmissões eram improvisadas, com qualidade de imagem limitada e sem qualquer ambição profissional, mas ali, naquele ambiente caseiro, o jovem experimentava a comunicação direta com a câmera, aprendendo a interagir e a construir sua própria linguagem digital.
O canal “Felca”, oficialmente lançado em 2017, consolidou uma identidade que logo se destacaria entre os demais youtubers da época. Ao contrário da estética “ostentação” que predominava na plataforma, Felca apresentava um estilo simples: moletom, aparência despretensiosa e cortes de vídeo rápidos, recheados de humor autodepreciativo. Essa autenticidade ressoou com um público jovem que se via representado na naturalidade do influenciador e na sua capacidade de rir de si mesmo.
O vídeo que projetou o influenciador além da bolha
A virada em sua trajetória ocorreu em 2023, quando testou a base de maquiagem “We Pink”, da influenciadora Virgínia Fonseca. O que seria uma simples resenha se transformou em um fenômeno. A crítica irônica, somada ao bloqueio inesperado da criadora do produto, gerou debates acalorados sobre responsabilidade de influenciadores e limites do humor nas redes. O episódio revelou algo importante: por trás do escracho e da irreverência, Felca estava atento às dinâmicas de poder que permeiam o ambiente digital.
O episódio rendeu projeção nacional. Programas de televisão, podcasts e telejornais passaram a repercutir suas falas, e o público descobriu que havia mais complexidade e consciência social por trás do humor aparentemente descompromissado.
Lives de NPC e a doação inesperada
Ainda em 2023, outro projeto marcou sua trajetória: as “lives de NPC” no TikTok, nas quais criadores simulam personagens de videogame com respostas automáticas e repetitivas. O youtuber decidiu ironizar a tendência, transformando-a em performance crítica. Em apenas quatro dias, sua conta ganhou mais de um milhão de seguidores e arrecadou R$ 31 mil. Diferentemente do que muitos poderiam imaginar, ele não reteve o valor. Todo o montante foi destinado a instituições como o Instituto Ayrton Senna, Ampara Animal e Amigos do Bem.
O gesto revelou uma faceta pouco conhecida do influenciador: além do humor, existe um compromisso com a responsabilidade social e a consciência sobre desigualdades. A ação mostrou que o alcance digital, quando aliado à ética, pode gerar impacto real.
Agosto de 2025: do riso à denúncia
O ponto culminante de sua carreira até o momento ocorreu no início de agosto de 2025. O influenciador publicou um vídeo de 40 minutos intitulado “Adultização”, abordando um tema delicado e urgente: a sexualização precoce de crianças nas redes sociais. Com pesquisas detalhadas, análises de algoritmos e depoimentos de especialistas, o influenciador expôs como práticas negligentes de adultos e mecanismos das plataformas contribuem para a disseminação de conteúdo inadequado envolvendo menores.
O vídeo não apenas criticava comportamentos individuais, mas também apontava falhas sistêmicas, chamando atenção para a necessidade de regulamentações mais rigorosas e políticas de proteção efetivas. A repercussão foi imediata: debates em redes sociais, artigos jornalísticos e discussões em programas televisivos colocaram o tema na agenda nacional.
Impacto midiático e social
O vídeo repercutiu em diversos canais: o influenciador foi convidado para o Altas Horas, além de ser pauta em jornais como o Jornal Nacional e o Jornal da Record. Em poucas semanas, atingiu mais de 48 milhões de visualizações, impulsionando discussões sobre segurança digital, ética e responsabilidade de adultos na supervisão de conteúdos infantis.
Além do alcance midiático, a denúncia teve reflexos políticos. Parlamentares mencionaram o caso e passaram a analisar projetos de lei voltados à regulamentação da presença infantil online. Artistas, juristas e influenciadores endossaram a causa, reconhecendo o trabalho investigativo e a coragem do criador em abordar um tema complexo.
Riscos e desafios pessoais
Com notoriedade crescente, vieram também os desafios. O youtuber enfrentou ameaças de morte e campanhas difamatórias, sendo necessário reforçar sua segurança pessoal. A prisão de um dos agressores em São Paulo evidenciou a gravidade do problema exposto e o potencial risco envolvido em se posicionar publicamente contra abusos digitais. Apesar das adversidades, ele manteve firme sua postura, demonstrando que a responsabilidade social e o compromisso com a verdade muitas vezes exigem coragem e resiliência.
















