Baseado no renomado musical da Broadway de mesmo nome, o filme enfrenta o desafio de ser comparado com suas influentes adaptações anteriores, e, ao final, não consegue alcançar a excelência de nenhum deles.
A nova adaptação de “A Cor Púrpura” segue a história de Celie (interpretada por Fantasia Barrino), uma mulher virtuosa que enfrenta abusos terríveis, sendo engravidada por seu pai e separada de seus filhos. Posteriormente, ela é vendida para viver com Mister (interpretado brilhantemente por Colman Domingo, indicado ao Oscar). Sua única ligação forte com o mundo é sua irmã Nettie (interpretada por Halle Bailey na adolescência e pela cantora Ciara na fase adulta), mas as duas perdem contato após Nettie quase ser estuprada e ser expulsa de casa.
As cenas musicais são verdadeiramente encantadoras e bem filmadas, destacando grandes vozes que também brilharam nos palcos da Broadway. Fantasia Barrino, que reprisa seu papel como Celie, e Danielle Brooks, que interpretou Sophia no revival do musical em 2015, trazem uma intensidade vibrante para suas performances.
No entanto, a adaptação dirigida por Blitz Bazawule (Black Is King) enfrenta um dilema. Enquanto o drama intenso da história original está presente, ele é suavizado pelos números musicais, que dividem os momentos da vida de Celie. O filme tenta equilibrar sua identidade como musical e drama, mas hesita em se entregar totalmente à teatralidade, correndo o risco de parecer apenas um filme com música — ainda que as músicas sejam de alta qualidade.
Essa escolha de intercalar momentos intensos com músicas resulta em um desconforto notável. Os momentos cruciais ou importantes frequentemente são interrompidos abruptamente pelas sequências musicais, o que compromete o ritmo do filme e dificulta uma conexão genuína com os personagens em certos pontos. Considerando que o filme abrange cerca de quarenta anos da vida de Celie, a conexão com a protagonista e a integração dos coadjuvantes importantes parece demorada e, por vezes, desconectada.
O filme oferece cenas musicais de alta qualidade e performances poderosas, mas luta para equilibrar a profundidade dramática com sua estrutura musical. O resultado é uma adaptação que, embora encantadora em certos aspectos, não consegue capturar plenamente a magnitude emocional das versões anteriores.