Crítica – A Lenda de Ochi é um conto mágico com mistério, emoção e um toque dos anos 80

0

“A Lenda de Ochi” é, antes de tudo, uma obra que desafia os moldes contemporâneos do cinema fantástico. Dirigido com precisão sensível, o filme constrói uma atmosfera densa e etérea, enraizada em uma Romênia nebulosa que parece suspensa no tempo — um lugar onde os personagens falam como se tivessem saído diretamente do século XVIII, com sotaques carregados e gestos cerimoniosos. É nesse cenário que o longa ergue sua narrativa: um conto de fadas do Velho Mundo, sombrio e repleto de camadas emocionais.

No centro da história está Yuri, uma jovem que habita um universo masculino onde suas emoções e desconfianças são invisíveis aos demais. Sua relação com Petro, o irmão adotivo que ostenta uma falsa bondade, revela-se apenas nas entrelinhas — nos olhares desconfiados e nos silêncios que dizem mais do que qualquer diálogo. O papel de Maxim, líder dos jovens locais, funciona quase como um narrador vivo, guiando o público por meio de suas falas autoritárias e tradicionalistas. Mas é na introspecção de Yuri que o filme encontra sua alma.

A chegada do enigmático Ochi — criatura silenciosa, ferida e evocativa — é o ponto de virada que liberta Yuri da apatia. A conexão entre os dois é silenciosa e simbólica, representando o despertar de sua própria identidade e desejo de fuga. Ao decidir escapar com Ochi, Yuri arrasta o espectador para um mundo onde o surreal se torna tangível, e a fantasia, uma poderosa ferramenta de resistência.

Visualmente, “A Lenda de Ochi” é um espetáculo artesanal. A escolha por fantoches e criaturas físicas — em vez de efeitos digitais — remete diretamente aos clássicos dos anos 1980, como E.T. – O Extraterrestre e Gremlins, e dá ao filme um charme retrô encantador. O universo criado tem textura, tem peso, tem presença. É palpável e, por isso mesmo, mágico. A trilha sonora minimalista acentua o clima de fábula, sem nunca se sobrepor à narrativa.

Embora muitos espectadores possam estranhar o ritmo contemplativo e o uso limitado de diálogos — principalmente no arco de Yuri —, o silêncio aqui é deliberado. É através da ausência de palavras que o filme revela suas intenções mais profundas: questionar a autoridade, explorar o isolamento feminino e celebrar a liberdade de imaginar.

“A Lenda de Ochi” é um sopro de originalidade que ousa não seguir fórmulas. Não entrega explicações fáceis, não se apressa em agradar. É cinema para sentir, não apenas assistir. E, nesse processo, conquista pela sensibilidade, pela forma e, sobretudo, pela coragem de evocar a magia das histórias de outrora com frescor e alma. Uma pequena joia para quem ainda acredita que os contos de fadas podem, sim, ser sombrios — e libertadores.

💥 Creatina por R$49!? Só na Soldiers Nutrition!
Use o cupom 🏷️EUESDRAS e ganhe desconto + cashback!
🛒 Clique aqui e compre agora!

Avaliação geral
AVALIAÇÃO GERAL
Notícia anteriorConheça o Skyglass, a passarela de vidro mais insana de Canela (RS)
Próxima notíciaCrítica – Confinado é um duelo sufocante entre classes dentro de um carro e fora da bolha social
Mateus Gabriel
Mateus Gabriel atua como Diretor de Conteúdos do Almanaque Geek, sendo o responsável por coordenar a curadoria das sessões exclusivas e desenvolver estratégias de divulgação alinhadas ao perfil do público. Com um olhar atento às tendências do universo cinematográfico e da cultura pop, ele lidera com excelência a programação do clube, garantindo experiências envolventes e personalizadas para os participantes.
critica-a-lenda-de-ochi-e-um-conto-magico-com-misterio-emocao-e-um-toque-dos-anos-80“A Lenda de Ochi” é um conto de fadas sombrio ambientado em uma vila isolada da Romênia, onde a jovem Yuri, solitária e desconfiada, vê sua vida mudar com a chegada de uma criatura misteriosa. Em meio a tradições rígidas e segredos familiares, ela embarca em uma jornada de descoberta, num universo mágico que lembra os clássicos dos anos 80.

COMENTE

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui