
“A Lenda de Ochi” é, antes de tudo, uma obra que desafia os moldes contemporâneos do cinema fantástico. Dirigido com precisão sensível, o filme constrói uma atmosfera densa e etérea, enraizada em uma Romênia nebulosa que parece suspensa no tempo — um lugar onde os personagens falam como se tivessem saído diretamente do século XVIII, com sotaques carregados e gestos cerimoniosos. É nesse cenário que o longa ergue sua narrativa: um conto de fadas do Velho Mundo, sombrio e repleto de camadas emocionais.
No centro da história está Yuri, uma jovem que habita um universo masculino onde suas emoções e desconfianças são invisíveis aos demais. Sua relação com Petro, o irmão adotivo que ostenta uma falsa bondade, revela-se apenas nas entrelinhas — nos olhares desconfiados e nos silêncios que dizem mais do que qualquer diálogo. O papel de Maxim, líder dos jovens locais, funciona quase como um narrador vivo, guiando o público por meio de suas falas autoritárias e tradicionalistas. Mas é na introspecção de Yuri que o filme encontra sua alma.
A chegada do enigmático Ochi — criatura silenciosa, ferida e evocativa — é o ponto de virada que liberta Yuri da apatia. A conexão entre os dois é silenciosa e simbólica, representando o despertar de sua própria identidade e desejo de fuga. Ao decidir escapar com Ochi, Yuri arrasta o espectador para um mundo onde o surreal se torna tangível, e a fantasia, uma poderosa ferramenta de resistência.
Visualmente, “A Lenda de Ochi” é um espetáculo artesanal. A escolha por fantoches e criaturas físicas — em vez de efeitos digitais — remete diretamente aos clássicos dos anos 1980, como E.T. – O Extraterrestre e Gremlins, e dá ao filme um charme retrô encantador. O universo criado tem textura, tem peso, tem presença. É palpável e, por isso mesmo, mágico. A trilha sonora minimalista acentua o clima de fábula, sem nunca se sobrepor à narrativa.
Embora muitos espectadores possam estranhar o ritmo contemplativo e o uso limitado de diálogos — principalmente no arco de Yuri —, o silêncio aqui é deliberado. É através da ausência de palavras que o filme revela suas intenções mais profundas: questionar a autoridade, explorar o isolamento feminino e celebrar a liberdade de imaginar.
“A Lenda de Ochi” é um sopro de originalidade que ousa não seguir fórmulas. Não entrega explicações fáceis, não se apressa em agradar. É cinema para sentir, não apenas assistir. E, nesse processo, conquista pela sensibilidade, pela forma e, sobretudo, pela coragem de evocar a magia das histórias de outrora com frescor e alma. Uma pequena joia para quem ainda acredita que os contos de fadas podem, sim, ser sombrios — e libertadores.
💥 Creatina por R$49!? Só na Soldiers Nutrition!
Use o cupom 🏷️EUESDRAS e ganhe desconto + cashback!
🛒 Clique aqui e compre agora!