Crítica – A Mulher no Jardim é uma beleza visual desperdiçada por um roteiro sem alma

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Ainda que A Mulher no Jardim não possa ser rotulado como um desastre completo, há uma sensação persistente de déjà vu ao longo de toda a experiência. A trama parece seguir caminhos já trilhados inúmeras vezes, e o roteiro — frágil em sua construção — não oferece novidades nem profundidade emocional suficientes para sustentar as ambições temáticas do longa.

A direção de Jaume Collet-Serra, por outro lado, é a grande força motriz da produção. Com domínio técnico e um olhar apurado para atmosferas densas, o cineasta constrói sequências visualmente impactantes, reforçadas por uma cinematografia elegante e por sustos eficazes, que remetem ao melhor do terror psicológico contemporâneo. Infelizmente, esse brilho técnico contrasta com o vazio narrativo que se impõe cada vez mais à medida que o filme avança.

Há uma tentativa clara de abordar o luto e a insatisfação com os papéis familiares — especialmente o da maternidade — como formas sutis, porém poderosas, de opressão emocional. Contudo, o resultado é confuso e até desconfortável. Ao transformar a doença mental em uma entidade antagonista, ligada diretamente à frustração de uma mulher que quer mais da vida do que apenas cuidar dos filhos, o filme cai em armadilhas narrativas perigosas. Em vez de explorar com empatia os conflitos internos da protagonista Ramona, a obra opta por uma personificação cruel e distorcida do sofrimento psíquico.

Os filhos da personagem principal pouco contribuem para a narrativa além de servirem como catalisadores de sua decadência emocional, sem jamais se desenvolverem como figuras com vida própria. Isso empobrece a dimensão dramática da história e compromete o peso emocional que o roteiro tenta, sem muito sucesso, sustentar.

No fim das contas, A Mulher no Jardim é um filme que impressiona pela forma, mas decepciona pelo conteúdo. Suas intenções são nobres, mas mal executadas; sua estética é refinada, mas aplicada a uma estrutura narrativa previsível, arrastada e emocionalmente desorientada. Não chega a ser uma total perda de tempo, mas tampouco é uma experiência que se recomende com entusiasmo.

Avaliação geral
AVALIAÇÃO GERAL
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Rhuan Victor
Apaixonado por cinema, sempre pronto para debater desde os clássicos até as produções mais questionáveis. Para cada história, uma nova viagem!
critica-a-mulher-no-jardim-e-uma-beleza-visual-desperdicada-por-um-roteiro-sem-almaAinda que A Mulher no Jardim não possa ser rotulado como um desastre completo, há uma sensação persistente de déjà vu ao longo de toda a experiência. A trama parece seguir caminhos já trilhados inúmeras vezes, e o roteiro — frágil em sua construção — não oferece novidades nem profundidade emocional suficientes para sustentar as ambições temáticas do longa.

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