Crítica | Com visual ousado e tensão constante, A Hora do Mal se destaca como o novo terror do ano

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Foto: Reprodução/ Internet

A Hora do Mal é exatamente o tipo de obra que se espera de um diretor em seu segundo longa-metragem: ousada, tecnicamente refinada e mais ambiciosa do que o trabalho anterior. Craig Cregger, conhecido pelo elogiado Barbarian (2022), prova aqui que não é um diretor de uma obra só. Pelo contrário, ele demonstra maturidade narrativa e um domínio estético que evoluem cena após cena, consolidando seu nome entre os novos autores mais promissores do cinema de terror.

Há uma confiança visível em cada quadro. Cregger explora com precisão o ritmo, o movimento e uma linguagem visual mais viva e articulada do que em Barbarian. Seu controle sobre a mise-en-scène impressiona, especialmente nas sequências de ação, que demonstram sua versatilidade. É seguro afirmar: o diretor tem um grande filme de ação dentro de si, apenas esperando o momento certo para emergir.

Uma das grandes curiosidades era observar quais marcas autorais de Barbarian retornariam aqui — e uma delas se destaca de imediato: a obsessão pela estrutura narrativa. O filme é construído como uma montanha-russa emocional, conduzindo o público por curvas inesperadas com precisão quase cirúrgica. O diretor sabe exatamente quando acelerar, quando pausar e quando permitir que o espectador reorganize as peças desse quebra-cabeça psicológico antes do próximo impacto. Essa fluidez narrativa é um dos principais trunfos do filme: nada é gratuito, nenhuma cena é desperdiçada. Tudo contribui para manter a tensão em ebulição.

O sentimento de inquietação é constante. Mesmo nas passagens aparentemente calmas, há algo estranho no ar — uma tensão subjacente que jamais se dissipa por completo. A trilha sonora desempenha um papel fundamental nesse processo: é hipnótica, intensa e cuidadosamente escolhida para reforçar o clima de constante ameaça. O som não apenas acompanha, mas amplifica a experiência sensorial do público.

Outro elemento digno de destaque é a habilidade de Cregger em manipular tom e ritmo. Ele transita com naturalidade entre o terror psicológico, o suspense atmosférico e explosões de violência gráfica, sempre mantendo a coesão da narrativa. Um feito notável para qualquer cineasta, ainda mais para um nome em ascensão. O humor também está presente, mas jamais de forma forçada ou deslocada — surge pontualmente, quebrando a tensão em momentos estratégicos, sem comprometer a atmosfera opressiva do enredo.

Foto: Reprodução/ Internet

Contrastes e críticas sociais

Assim como em Barbarian, Cregger demonstra interesse em explorar contrastes sociais e visuais. A ambientação em uma zona suburbana de classe média alta, aparentemente tranquila e segura, entra em choque com a brutalidade escondida por trás de portas comuns. É um retrato perturbador da banalização do mal — da ideia de que a violência pode se ocultar nos lugares e nas pessoas mais improváveis. Quando essa crítica é direcionada ao universo juvenil e ao ambiente escolar, ela se torna ainda mais incômoda e pertinente.

Visualmente, o filme é um espetáculo. Os enquadramentos dinâmicos, os movimentos ousados de câmera e a fotografia pulsante criam uma linguagem cinematográfica cheia de energia. Há sequências coreografadas com precisão quase balética, misturando horror e beleza de forma visceral. Em um gênero onde a estética muitas vezes é tratada como um detalhe secundário, o cuidado visual de A Hora do Mal se destaca com folga.

Terror épico, mas sem perder a essência

No geral, o longa-metragem é tudo o que se espera de um blockbuster de terror — e a palavra “blockbuster” aqui é usada com intenção. Embora a história se desenrole em uma cidade pequena, a escala narrativa é grandiosa. É um filme épico, ambicioso, maior e mais ousado do que Barbarian, sem nunca abandonar a essência do horror intimista. A tensão é constante, os sustos são genuínos, e há espaço para emoção e surpresa.

O elenco contribui de forma decisiva para o êxito do longa. As performances são intensas, emocionalmente carregadas e ajudam a ancorar a trama em sentimentos reais, mesmo diante dos elementos mais fantásticos. As cenas de ação são coreografadas com uma precisão admirável, demonstrando não só técnica, mas também um olhar artístico refinado.

Mais do que assustador, A Hora do Mal é imprevisível. É quase impossível antecipar seus rumos narrativos — e essa imprevisibilidade é uma de suas maiores virtudes. Em um mercado saturado por fórmulas repetitivas, onde muitos filmes de terror se limitam a reproduzir convenções batidas, Craig Cregger entrega uma obra original, corajosa e impactante.

Avaliação geral
Nota do crítico
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Rhuan Victor
Apaixonado por cinema, sempre pronto para debater desde os clássicos até as produções mais questionáveis. Para cada história, uma nova viagem!
critica-com-visual-ousado-e-tensao-constante-a-hora-do-mal-se-destaca-como-o-novo-terror-do-ano“A Hora do Mal” é um thriller de terror ousado e estilizado que confirma Craig Cregger como uma das vozes mais promissoras do gênero. Com ritmo afiado, atmosfera inquietante e uma direção visualmente impactante, o filme mistura horror psicológico, suspense e violência gráfica sem perder a coerência. Em meio a críticas sociais e reviravoltas imprevisíveis, a obra se destaca como um novo e perturbador marco do terror contemporâneo.

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