
Desde sua estreia na televisão, em 2010, Downton Abbey conquistou uma legião de fãs ao combinar dramas pessoais, transformações sociais e grandes acontecimentos históricos. Este terceiro longa, que marca o encerramento definitivo da narrativa, chega carregado de expectativa — e também de melancolia, já que cada cena parece carregar o peso de um adeus.
O filme, como era de se esperar, é atravessado por uma sensação de despedida. Há momentos leves e engraçados, mas a atmosfera predominante é de melancolia, intensificada pela ausência de Lady Violet, interpretada pela insubstituível Maggie Smith. Embora sua memória seja evocada em diferentes momentos, nada substitui a presença magnética da personagem que, por anos, simbolizou o espírito mordaz e sábio de Downton Abbey. Essa ausência acentua ainda mais o tom de conclusão que permeia a obra.
Diferente dos filmes anteriores, O Grande Final não se preocupa em abrir novas tramas ou criar mistérios para o futuro. Sua proposta é clara: encerrar histórias e oferecer desfecho aos personagens que acompanhamos desde 1912, ano em que a saga começou, até a década de 1930. Isso aproxima o filme mais de um episódio estendido da série do que de uma produção cinematográfica independente. Para alguns, essa escolha pode soar anticlimática; para outros, trata-se de uma decisão honesta, coerente e respeitosa, já que prolongar artificialmente a narrativa correria o risco de desgastar a memória da série.
Visualmente, o filme continua deslumbrante. Os figurinos, sempre um dos pontos fortes da produção, atingem aqui um patamar fascinante, com vestidos e trajes típicos dos anos 1930 que marcam de forma elegante a passagem do tempo. Entretanto, a fotografia nem sempre acompanha essa excelência. Muitas cenas internas parecem excessivamente sombrias, e apenas as externas trazem a luminosidade necessária para equilibrar o tom melancólico da narrativa. Esse contraste funciona em alguns momentos, mas evidencia certa irregularidade na direção de arte e iluminação.
A quem este filme se destina? Claramente aos fãs mais fiéis. O primeiro longa, de 2019, ainda podia ser apreciado por quem não conhecia a série. O segundo exigia certo conhecimento prévio. Este terceiro, por sua vez, funciona quase como uma carta de despedida: não há apresentações nem explicações. A narrativa flui naturalmente na vida dos Crawley, e cabe ao espectador estar preparado para acompanhar sem mapas ou resumos.
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O roteiro, embora eficaz em seu propósito, não está livre de falhas. Algumas escolhas parecem artificiais, como o romance mal construído em torno de Lady Mary, que pouco acrescenta à trama. Outros personagens, como Lord e Lady Merton, ganham apenas breves aparições. Por outro lado, há momentos de delicadeza que compensam essas lacunas. A amizade entre Tom e Thomas funciona como um aceno metalinguístico, já que os intérpretes são próximos na vida real. A relação entre Thomas Barrow e Guy Dexter, embora carregada de certo ar de queerbaiting, é trabalhada com sutileza e transmite um romantismo inesperado, culminando em um final que celebra o amor em suas múltiplas formas.
Não deixa de ser frustrante a ausência de personagens importantes. Lady Rose e Atticus não são mencionados, o Dr. Clarkson desaparece sem explicações, e Lady Rosamund, irmã de Lord Robert, não aparece nem mesmo em uma trama situada em Londres. Essas lacunas soam incoerentes, especialmente para quem sempre valorizou a consistência dos arcos de Downton Abbey. Por outro lado, há acertos nas pequenas menções a personagens secundários, como o pai de Joseph Molesley, que dão ao público a sensação de continuidade e respeito ao legado da série.
Entre as boas surpresas, destaca-se Daisy, que finalmente encontra sua voz. Depois de seis temporadas e dois filmes, a jovem criada conquista espaço e protagonismo, marcando sua trajetória com a firmeza que os fãs esperavam. É um momento simbólico e necessário, que reforça a ideia de transformação social que sempre esteve no cerne de Downton Abbey. Curiosamente, Lady Cora segue sem fios de cabelo branco, destoando da passagem natural do tempo, enquanto as crianças permanecem meros figurantes, um desperdício narrativo que poderia ter renovado a trama.
Downton Abbey: O Grande Final não é um espetáculo arrebatador nem um clímax cheio de surpresas. É, antes, um tributo. Um filme que prefere a delicadeza ao choque, a nostalgia ao suspense. Essa escolha pode decepcionar quem esperava mais ritmo e intensidade, mas entrega exatamente aquilo que promete: a chance de dizer adeus. Ao encerrar sem exageros ou prolongamentos desnecessários, o longa preserva a integridade da obra e evita transformar uma despedida digna em algo arrastado.
O resultado é uma conclusão doce-amarga, capaz de emocionar sem se tornar excessivamente melodramática. Um adeus definitivo, mas também um gesto de respeito ao público que acompanhou a saga durante anos. Depois de seis temporadas e três filmes, Downton Abbey chega ao fim de forma elegante, com o cuidado de quem sabe que já disse tudo o que precisava. Resta a saudade, mas também a gratidão por ter feito parte dessa história que marcou gerações.