Foto: Courtesy of Focus Features

Quando Robert Eggers foi anunciado como o responsável por repaginar o clássico “Nosferatu”, a expectativa imediatamente atingiu alturas vertiginosas. Eggers, conhecido por sua abordagem minuciosa e visceral ao cinema de gênero, parecia o sucessor ideal para reviver uma obra imortalizada por F.W. Murnau e reinterpretada por Werner Herzog. A promessa, contudo, não era de um simples remake, mas de uma reinvenção — um retorno às raízes sombrias do mito, agora filtrado pela visão única de Eggers.

Desde os primeiros segundos, o filme estabelece seu tom com uma escuridão absoluta e imersiva, que prepara o espectador para uma experiência sensorial profundamente onírica. Eggers transforma a ausência de luz em uma presença quase tangível, uma força viva que permeia cada frame. Não é apenas escuridão, mas uma entidade opressora que guia a narrativa e envolve o público em uma atmosfera de inquietação constante. A busca por compreender essa escuridão — ao invés de simplesmente temê-la — é o coração pulsante da história.

O prólogo de “Nosferatu” é uma aula de construção de atmosfera: lento e arrebatador como uma tempestade iminente. O Conde Orlok, vivido por Bill Skarsgård, emerge como uma figura de decrepitude e ameaça, graças a uma maquiagem impecável e uma atuação que transcende o físico. Orlok é mais do que um vampiro; ele é a própria personificação da morte, da doença e do desejo predatório que permeia sua interação com Ellen, interpretada por Lily-Rose Depp.

Depp entrega uma performance extraordinária, carregada de vulnerabilidade e intensidade emocional. A dinâmica entre Ellen e Orlok é profundamente inquietante. O terror não reside apenas na monstruosidade de Orlok, mas na atração inexplicável que ele exerce sobre ela. Essa dualidade entre medo e desejo dá à história uma profundidade psicológica rara, tornando a jornada de Ellen ao mesmo tempo angustiante e fascinante. Sua luta interna entre a luz e a escuridão reflete uma tentativa desesperada de purificação, mesmo que sua ligação com Orlok seja inescapável.

Eggers reinterpreta o mito do vampiro de maneira magistral, resgatando sua essência primordial. Em sua visão, o vampiro não é apenas uma criatura monstruosa, mas um símbolo do mal absoluto, uma força que desafia a compreensão humana. O verdadeiro horror está na escuridão que Orlok representa, no desconhecido que nos atrai e ameaça consumir.

Com uma direção impecável, Eggers equilibra elementos visuais deslumbrantes com uma profundidade temática que homenageia o legado de “Nosferatu” enquanto o reinventa para um público contemporâneo. A atuação de Skarsgård e Depp é memorável, refletindo a complexidade emocional e simbólica da relação vampírica. A estética do horror é explorada de forma visceral, envolvendo o espectador em um pesadelo que é tão psicológico quanto visual.

O “Nosferatu” de Robert Eggers não é apenas uma obra de terror; é uma meditação sombria sobre os limites do desejo, o peso do medo e a eterna atração pela escuridão. Eggers entrega um filme que, além de honrar seus antecessores, consolida-se como uma nova peça essencial na mitologia do vampiro.

Avaliação geral
AVALIAÇÃO GERAL
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Esdras Ribeiro
Além de ser o fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras Ribeiro também desempenha o papel de Diretor de Arte na Agência Arte de Criar Digital. Possui formação em Design Gráfico e atualmente está cursando Publicidade e Propaganda na Faculdade Estácio.
critica-nosferatu-e-uma-reinvencao-hipnotica-da-escuridao-e-do-desejoQuando Robert Eggers foi anunciado como o responsável por repaginar o clássico “Nosferatu”, a expectativa imediatamente atingiu alturas vertiginosas. Eggers, conhecido por sua abordagem minuciosa e visceral ao cinema de gênero, parecia o sucessor ideal para reviver uma obra imortalizada por F.W. Murnau e reinterpretada por Werner Herzog. A promessa, contudo, não era de um simples remake, mas de uma reinvenção — um retorno às raízes sombrias do mito, agora filtrado pela visão única de Eggers.

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