A nova adaptação de “O Corvo” tenta recriar o impacto cultural do clássico de 1994, mas tropeça na falta de autenticidade e na indecisão sobre qual caminho quer seguir. Sob a direção de Rupert Sanders, o longa-metragem tem um visual incrível, mas fica só na superfície, resultando numa experiência esteticamente bonita, mas emocionalmente vazia.

O “O Corvo” de 1994, com Brandon Lee, foi muito mais que um filme; virou um fenômeno cultural. Com uma estética sombria, cheia de simbolismo e emoções intensas, e a tragédia que envolveu sua produção, o filme se tornou um ícone, principalmente para a galera gótica e o movimento emocore que surgia na época. Eric Draven, o protagonista com um visual marcante e uma história de vingança trágica, capturou o espírito de uma juventude alienada, em busca de significado e identificação.

Já o remake de Sanders, embora ciente da importância dessa conexão cultural, parece mais interessado em seguir as tendências estéticas do momento do que em reviver a profundidade emocional que fez o original ser tão marcante. A escolha de Bill Skarsgård para o papel principal, com um visual que lembra artistas atuais como Post Malone e Lil Peep, mostra uma tentativa de atualizar o personagem para as novas gerações. Mas o filme fica preso num dilema: ser fiel ao original ou agradar ao público de hoje? Essa indecisão acaba resultando numa obra que não se compromete de verdade com nenhuma das opções.

Visualmente, Sanders entrega um filme impecável. A direção de arte é de tirar o fôlego, e as cenas têm um apelo estético que lembra o estilo que o diretor já mostrou em “Branca de Neve e o Caçador” e “A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell”. Mas essa beleza visual não se traduz em profundidade emocional. Enquanto o original tinha uma intensidade quase operática, misturando tragédia e redenção, o remake hesita em se entregar a essas emoções mais fortes, criando uma experiência fria e distante.

Essa falta de envolvimento emocional é o maior problema do filme. “O Corvo” tenta ser várias coisas — um romance trágico, uma história violenta de vingança, uma exploração das subculturas modernas —, mas não consegue ser nenhuma delas com convicção. Em vez de se comprometer com uma identidade clara, parece se contentar com uma versão diluída de todas essas possibilidades, resultando num filme que carece de alma e originalidade.

A falta de ousadia em “O Corvo” é evidente não só nas cenas de ação, mas também na ausência de uma identidade visual ou narrativa que o diferencie. Mesmo nas sequências que deveriam ser momentos de clímax emocional ou pura adrenalina, o filme se limita a seguir convenções, como se estivesse mais preocupado em não desagradar do que em criar algo memorável. A cena no anfiteatro, por exemplo, que tinha tudo para ser o ponto alto do filme, acaba sendo mais uma sequência genérica, onde o visual impressionante não compensa a falta de profundidade e intensidade.

Comparado a “John Wick”, a falha de “O Corvo” de Sanders fica ainda mais evidente. Enquanto “John Wick” eleva a violência a um nível quase artístico, com coreografias complexas e uma estética que mistura brutalidade e elegância, “O Corvo” parece hesitar, como se tivesse medo de mergulhar na própria escuridão. A falta de emoção na ação reflete uma narrativa que, no geral, não se arrisca, resultando em um filme que fica na superfície quando deveria explorar as profundezas.

No final, a nova versão de “O Corvo” é um exemplo clássico de uma produção que, apesar de tecnicamente bem-feita, falha artisticamente. Tenta resgatar o espírito de uma geração, mas não consegue encontrar o seu próprio. É um filme que, em vez de liderar e inspirar, segue tendências e apenas imita o que já foi feito antes. Para um personagem que, no passado, representou a rebeldia e o sofrimento de uma geração, essa falta de ousadia e identidade é, no mínimo, decepcionante.

Avaliação geral
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Esdras Ribeiro
Além de ser o fundador e editor-chefe do Almanaque Geek, Esdras Ribeiro também desempenha o papel de Diretor de Arte na Agência Arte de Criar Digital. Possui formação em Design Gráfico e atualmente está cursando Publicidade e Propaganda na Faculdade Estácio.
critica-o-corvo-e-um-jornada-visual-impressionante-mas-perde-o-ritmo-emocional-do-originalA nova adaptação de O Corvo tenta reviver o impacto cultural do clássico de 1994, mas acaba tropeçando na falta de autenticidade e indecisão sobre sua identidade. Sob a direção de Rupert Sanders, o filme é visualmente impressionante, mas carece de profundidade emocional e acaba sendo uma experiência fria e genérica. Ao tentar equilibrar a fidelidade ao original com a busca por relevância moderna, o filme não se compromete de verdade com nenhuma dessas direções, resultando numa obra que não consegue capturar a alma que fez do original um ícone.

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