
Perrengue Fashion é um daqueles filmes que abraçam a leveza sem abrir mão de uma mensagem relevante. Dirigido com ritmo ágil e olhar pop, o longa estrelado por Ingrid Guimarães e Rafa Chalub aposta na mistura certeira entre humor, crítica social e empatia, entregando uma comédia que dialoga com os dilemas contemporâneos da influência digital, do consumo consciente e da busca por reconexão familiar.
Logo de início, o filme mostra que não é apenas sobre o universo da moda — é sobre o que existe por trás dele. A narrativa acompanha uma mãe influenciadora, interpretada por Ingrid Guimarães em mais uma atuação cheia de timing cômico e carisma, que vive mergulhada em compromissos, likes e parcerias publicitárias. Quando o filho (Rafa Chalub) decide se desconectar e embarcar em uma jornada de autoconhecimento voltada à natureza e à sustentabilidade, o contraste entre os dois mundos se torna o coração da história. A frase que define a essência do filme — “a mãe tá on… e o filho off!” — sintetiza com humor e afeto o conflito entre gerações, estilos de vida e prioridades.
Elenco carismático e química irresistível
Um dos maiores trunfos de Perrengue Fashion está na sintonia entre Ingrid Guimarães e Rafa Chalub. A dupla funciona de forma orgânica, equilibrando espontaneidade, improviso e emoção. Ingrid reafirma seu domínio sobre o gênero da comédia popular, mas também deixa espaço para camadas mais sutis — há momentos em que sua personagem expõe vulnerabilidade e solidão, humanizando uma figura muitas vezes idealizada pelas redes sociais. Chalub, por sua vez, surge como uma revelação promissora: sua presença leve e natural dá frescor ao filme, equilibrando a intensidade da mãe com uma calma introspectiva.
O restante do elenco colabora com uma energia afinada. Os coadjuvantes entram com ritmo preciso, contribuindo para as situações cômicas sem sobrecarregar a trama. Essa harmonia ajuda o espectador a mergulhar em um universo que, embora caricatural em alguns momentos, mantém um pé na realidade dos “perrengues” cotidianos.
Moda, consumo e propósito
O roteiro se destaca ao ir além da simples sátira do mundo fashion. Ele mergulha em temas urgentes, como o impacto ambiental da indústria da moda, o consumo desenfreado e a superficialidade das redes. Mas o faz de maneira leve, quase pedagógica, sem se tornar panfletário. É um equilíbrio delicado: o humor nunca anula a crítica, e a crítica nunca sufoca a diversão.
Há cenas particularmente inspiradas que ilustram bem essa dualidade — como os momentos em que a protagonista tenta manter a pose de influenciadora enquanto enfrenta situações inusitadas fora de sua zona de conforto, em um cenário mais natural e despojado. São nessas que o filme brilha: as risadas nascem da desconexão entre a imagem ideal e a vida real, um território no qual Ingrid Guimarães transita com maestria desde De Pernas pro Ar e Fala Sério, Mãe!.
Humor que flui com naturalidade
O humor de Perrengue Fashion é eficiente e bem calibrado. As piadas funcionam não apenas por causa do texto, mas pela entrega dos atores e pelo timing da direção. Não há pressa em fazer rir — o riso surge de situações cotidianas, de pequenos constrangimentos e de contrastes geracionais. Em alguns trechos, o filme flerta com o exagero, mas rapidamente retoma o tom leve e acessível que o público espera.
Diferente de comédias que se apoiam em bordões ou humor físico excessivo, aqui o riso vem do comportamento — do jeito como os personagens lidam com o mundo e consigo mesmos. Essa escolha dá ao filme um charme particular e uma identidade que o diferencia de outros produtos do gênero.
Esteticamente, o longa é um deleite. A fotografia colorida e o figurino exuberante contrastam com os tons mais crus da natureza, reforçando a dualidade entre o artificial e o autêntico. A direção de arte brinca com os símbolos do universo fashion — passarelas, eventos, filtros e ring lights — enquanto os contrapõe a cenas simples e verdadeiras, criando uma experiência visual que acompanha a transformação dos personagens.
A trilha sonora, repleta de batidas modernas e canções brasileiras contemporâneas, reforça o ritmo leve e jovial da narrativa. Ela traduz a energia de um filme que fala sobre reencontro e desconexão digital sem jamais perder o senso de humor.
Por trás das risadas, o filme propõe uma reflexão sobre o valor da presença — estar realmente disponível para quem se ama, desconectar-se das aparências e reconectar-se com o que é essencial. O filme convida o público a rir de si mesmo, a reconhecer exageros e a pensar sobre o que realmente importa na era das curtidas.
É uma comédia que acerta por não se levar a sério demais, mas também por não subestimar a inteligência emocional de seu público. Há empatia na maneira como a narrativa trata os erros e aprendizados de seus personagens. Tudo é feito com leveza, mas também com propósito.





